OBSESSÃO

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Ramiro tinha razão, mulher era realmente mais saboroso.

A carne era mais tenra, um pouco mais adocicada e, dado o maior acúmulo de gordura intramuscular, tinha também um belíssimo marmoreio. Kelvin aprendeu um pouco mais sobre essas diferenças com o Ramiro, o homem fazia questão de lhe mostrar em detalhes tudo o que realizava dentro de fora da cozinha, e o mais novo estava feliz em aprender e aprimorar os seus próprio conhecimentos.

Ele também ficava cada vez mais fascinado à medida que o mais velho apresentava pratos novos, e naquela semana em específico, não conseguia encontrar palavras para descrever o quão encantando se sentia com cada nova receita provada. Estava vivendo uma verdadeira experiência gastronômica.

Segunda - feira, foi o dia em que foi surpreendido e presenteado pelo homem, e amou tanto comer hambúrguer de café da manhã, que pediu outro na hora do jantar, antes de ir embora.

Na quarta-feira, Ramiro apareceu no bar sem aviso o convidando para almoçar. Usava um sorriso tímido ridículo e jaleco pendurado em um dos ombros atraindo suspiros de alguns e burburinho de outros, relembrando o garçom de que, assim como ele próprio, o mais velho também tinha uma profissão que gerava empatia e uma aparência bastante simpática e confiável, apesar do tamanho do homem. Foi nesse almoço que Kelvin descobriu que pure de abobora era bom, só precisa do acompanhamento certo. Bochechas, por exemplo.

Hoje, sexta-feira, o ruivo aguardava o fechamento do bar, olhando de quando em quando para Ramiro que o aguardava pacientemente até que pudessem ir para sua fazenda. Segundo o veterinário, Kelvin comeria um prato típico coreano.

Uma releitura, na verdade.

Kelvin estava curioso, Ramiro não quis dizer em detalhes o que faria para a refeição daquela madrugada, garantiu apenas que era um de seus pratos favoritos e portanto um dos que melhor executa. E Kelvin não duvidava disso, Ramiro se mostrava um excelente cozinheiro, além de alguém entendido de bebidas, mostrando-o durante esses dias de convivência como harmonizar ambas as coisas.

— Te trouxe mais uma — abriu a cerveja em frente ao homem — Ainda vai demorar aqui, quer deixar para outro dia? Amanhã no almoço?

— Não estou com pressa — garantiu com um sorriso antes de levar o gargalo da garrafa aos lábios e beber um gole generoso.

Kelvin acompanhou todo o movimento com atenção. A boca cobrindo o vidro, a cabeça inclinando para trás, o pomo de adão descendo e subindo, a ponta da língua limpando os lábios certamente gelados e com gosto de cevada...

Se pegou querendo beijar Ramiro para comprovar se estava certo em suas suposições, e isso era novo.

Afastou-se rapidamente depois de ouvir o seu nome ser gritado do outro lado do salão, e depois disso evitou olhar para Ramiro durante todo o período da noite.

Passou as horas seguintes com os pelos da sua nuca avisando que o homem no canto esquerdo do bar o acompanhava com o olhar sem desviar um segundo sequer e, diferentemente do incômodo que sentia quando pessoas prestavam demais atenção em si, estava gostando da atenção que recebia de Ramiro.

Kelvin se percebeu durante todo o horário de trabalho sendo um pouco mais atento às suas ações, não para distrair cliente ou passar a imagem de ingenuidade e alegria que sempre usava junto aos moradores, mas porque queria que Ramiro soubesse, sem que ele precisasse dizer, que estava gostando de ser olhado pelo mais velho.

Porque ele sabia que era esse o caso.

Não era novidade alguma a forma como Ramiro o busca com o olhar, estava vivenciando isso há meses e entendia ser o objeto de obsessão do outro. Novidade mesmo era saber da intensidade presentes naquelas orbes escuras o acompanhando por tanto tempo e mesmo assim permitir que elas o alcançassem.

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