— Relaxa, Rams — as mãos macias afagaram sua barba.
— Me chama de Ramiro, por favor. — disse interrompendo o toque.
A garota o encarou cheia de provocações, apesar do incômodo e rapidez com que recolheu a mão colocando-a entre as pernas.
— Ah! Então só ele pode te chamar assim, é? — a falta de resposta fez a garota rir alto — Tá, tanto faz.
Graciara se espreguiçou no estofado, expansiva, ignorando o trato frio que recebia. Não esperava outra coisa. Pra falar a verdade, já se sentia ganhando bastante dentro do carro de Ramiro. Em breve iria transar com quem achou não ter chances nenhuma, e, melhor que isso, teria uma história para contar às suas amigas e quem sabe, em breve, qualquer dia desses, jogar na cara de Kelvin o que fez com o namorado dele. Pense nisso como uma espécie de vingança em resposta às últimas semanas que o ruivo vinha tratando-a de um jeito um tanto quanto peculiar.
Kelvin continuava gentil e amigável como sempre foi, não a destratava em frente aos outros, de forma alguma, e para qualquer outra pessoa do bar, nada estava fora do lugar. Era algo imperceptível, ou quase. Graciara não tinha mesmo o que reclamar, mas havia algo no fundo dos olhos dourados quando seus olhares se cruzavam. Havia algo no sorriso do garçom e na forma como ele mantinha as conversas curtas que venham tendo, que ela não sabia explicar, mas não era agradável. E seu desconforto não era puramente pela prepotência na altura do queixo e do nariz que, ninguém parecia notar, mas que agora Kelvin assumia para falar com ela.
Abusada, esticou-se até o parelho de som ligando-o, deixando o joelho e coxa próximos à marcha, tocando na mão de Ramiro.
— Confesso que não estava esperando esse fim de noite... — puxou assunto trocando de rádio para rádio.
— Não estava nos meus planos também, mas...
— Pela forma como Kelvin fala de você — cortou o homem —, achei que não gostasse de mulher.
— Eu gosto, ele só não sabe. — os olhos delineados encontraram o rosto atento à pista. Ramiro respirou pesadamente — Kelvin não sabe, ele é inseguro, por isso preferi não falar.
— Sei, não é porque fica mais fácil pular a cerca, não né? — Graciara se divertia com a descoberta — Espertinho.
— Não é isso. — Ramiro apertava o volante entre as mãos — Eu não sou de fazer isso, de verdade, e gosto muito dele, mas... — seus olhos encontraram o rosto da moça, descendo por entre seu decote — Mas um homem tem suas necessidades, entende?
O homem a olhava com olhos grandes, piedosos e bastante envergonhados, antes de retomar a atenção à direção. Graciara sorriu, achou bonitinho apesar de não se comover com a conversa que ouvia. Ela estava bastante acostumada com o discurso do homem, era comum ouvir a mesma história vinda de outros homens compromissados que procuram diariamente seus serviços.
— Claro que entendo... — mentiu em um meio riso, outra vez confortável em tocar o preto. As pontas dos dedos se perdendo nos cachos próximos a nuca do homem outra vez atento a pista — E prometo que vou cuidar de todas essas suas necessidades, não só hoje, mas sempre que quiser...
— Mas o Kelvin não pode saber. — alertou Ramiro muito sério — Nem ele nem ninguém.
Embora o tom fosse de ameaça, as mãos na coxa desnuda não eram e isso foi o bastante para distrair Graciara do alerta que recebeu do próprio corpo. Interpretou o arrepio frio que percorreu seu corpo como ansiedade e tesão. Não era.
— Relaxa, gato — a garota voltou a encostar no banco, bastante confiante e satisfeita com as armas que agora dispunha em mãos — Já não te falei que esse vai ser nosso segredinho? Confia.
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A MODA DA CASA
FanfictionEra um encontro, mas também era algo mais. Deveria ser fácil, mais uma noite comum na vida de Kelvin e Ramiro. E seria, não fosse, é claro, eles serem tão parecidos em seus gostos... peculiares (Capa by @_elise69, meus muito obrigado pela arte! foi...