LETAL

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— Quer fazer você? — Ramiro estendeu o bisturi em direção a Kelvin.

— Eu? Tem certeza? — seus olhos brilharam em meio a insegurança momentânea — E se eu fizer errado?

— Você não vai precisar deixar ninguém vivo mesmo. — o objeto de aço brilhou, aguardando, ainda em sua direção — Se não quiser, tudo bem, mas eu acho que você quer.

Ramiro esperava que Kelvin aceitasse, conseguia ver nos olhos do rapaz a curiosidade brigando com a falta de habilidade. Era nítido o interesse do mais novo.

— Tá bom. — um sorriso travesso cruzou o rosto alvo, antes que as mãos enluvadas pegasse pra si o bisturi — Certo! O que eu faço?

— Me diz você, pequetito. — Ramiro se posicionou ao lado do ruivo, os olhos pousando no homem amordaçado, bem amarrado na maca a frente deles. Os olhos escuros por uma pupila dilatada de terror — O que eu faria? Foi você quem fez as escolhas dos instrumentos...

Um riso delicado cortou o silêncio, fazendo o homem aprisionado se sobressaltar ainda que deitado e amarrado como estava. Kelvin ria com a animação de uma criança prestes a fazer arte enquanto o rapaz apertava os olhos desejando, ao menos que um pouco, fugir da realidade com a qual se deparava.

Estava amordaçado e todo o seu corpo amarrado em braçadeiras fixas a maca. Não sabia onde estava e a sala branca de luzes fluorescentes não tinha janela alguma. O ambiente era gelado e ficava cada vez mais, dado o seu pânico crescente.

— Vai ser meu ajudante? — ouviu e viu o homem alto concordar com um sorriso pequeno. Ele ignorava sua presença por completo dando total atenção ao rapaz mais baixo.

Kelvin.

O homem com quem tinha marcado um encontro.

O homem com quem foi até uma cachoeira horas antes.

— Farei tudo que disser. — disse o mais velho.

Kelvin mordeu o lábio inferior em resposta ao que ouviu antes que os olhos dourados fossem de encontro ao seu rosto. O sorriso que foi entregue para si era tão bonito quanto os que recebeu durante o encontro, contrariando o quão assustador também era. Kelvin era perverso descobriu isso horas antes.

— Então corta as peças de roupas dele pra mim, meu bem. — ouviu.

Voltou a fechar os olhos. A sombra do homem cobriu as luzes fluorescentes e seu corpo estremeceu. A ponta da tesoura de metal tocou gentilmente sua pele por baixo da camiseta, subindo, e o barulho de tecido sendo cortado nunca foi tão alto.

— Vou colocar uma musiquinha. — Kelvin anunciou.

O barulho da serra elétrica* encobriu a música.

Tentou gritar e aquilo que ouviu não pareceu em nada com a sua voz. Lembrava um animal ferido. Muito.

O som do disco perfurado e afundando em sua pele foi o último som que ouviu. Era molhado. Os dentes de metal afogavam em seu sangue enquanto ele se afogava na própria saliva e vômito.

A dor era dilacerante.

Os olhos dourados foi a última coisa que viu.

°•.:°•

17:32

O som dos pássaros estavam por toda parte, eles alçavam voos e faziam acrobacias no céu como se seguissem o som da queda da cachoeira. O sol começava a cair e o laranja forte inundava tudo, espelhando a água e fazendo parecer um cristal raro. Era uma bela paisagem, água tão límpida que formava pequenos pontos de arco-íris.

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