BLANCHE
A carroça balançava cansativamente enquanto se dirigia à cidade de Padstow, com o som de garrafas de vidro chocando-se umas com a outras se misturando ao chiar das rodas de madeira velhas. Blanche Dashwood tentou conter a sensação de mal estar que lhe atingia por conta do bamboleio, focando o olhar no papel que Bridget, sua primeira irmã mais nova, encarava com seriedade no assento à sua frente. A moça pôde identificar que se tratavam de partituras, mas logo desistiu de tentar ler quando a carruagem deu um pulo por conta de uma pedra na estrada. Bridget, no entanto, não desviou o olhar das notas musicais e apenas franziu a sobrancelha com o breve incômodo, enquanto Brielle, a caçula que dormia com a cabeça apoiada no ombro de Blanche, soltou um resmungo. Beatrice, a segunda irmã do meio, apenas olhava para o horizonte distraidamente.
— Bea — Blanche chamou. — Você pode acompanhar a Brielle na feira hoje?
— Claro — Beatrice respondeu, voltando o olhar para a mais velha. — Também preciso comprar alguns materiais.
— Encontro vocês em frente à fonte central quando o sol estiver a pino — a primogênita continuou. — Não se separem e fiquem atentas a estranhos.
Uma risadinha suave soou dos lábios de Brielle, que já estava completamente acordada. A caçula se aconchegou em Blanche, olhando para a irmã com olhos brincalhões.
— Já somos adultas, irmã — ela disse com o brilho travesso de sempre no olhar. — Sabemos lidar com problemas perfeitamente.
Blanche deu um sorriso curto e acariciou os cabelos de Brielle presos por um laço de cetim amarelo. Ela sabia mais do que ninguém o quanto suas irmãzinhas eram espertas, mas vinha se preocupando mais do que o normal depois dos últimos acontecimentos. Por alguma razão, sempre que se encontravam em paz, algum infortúnio rapidamente surgia para lembrá-las de que suas vidas estavam destinadas à dificuldade.
— Tenho uma aula de piano agendada hoje, então encontrarei vocês um pouco mais tarde — Bridget falou, com os olhos ainda nas partituras. — Podemos comer alguma coisa juntas então.
— Combinado — Blanche assentiu. — Nos encontramos no restaurante da Tia Eme.
Por um instante, Bridget desistiu do papel em suas mãos e sustentou o olhar com o de Blanche, como se quisesse fazer uma pergunta que não podia ser dita em voz alta. A mais velha apenas sorriu e formou palavras silenciosas com os lábios, dizendo-lhe que "tudo ia ficar bem".
❀
Após alguns minutos, a carroça parou depois de cruzar o arco que indicava a entrada de Padstow. Apesar de ser uma cidade pequena, o movimento era grande, com pessoas andando de um lado para o outro e crianças correndo entre vielas. As moças desceram uma a uma, com Brielle e Beatrice já acenando ao se dirigir para a feira. Blanche se dirigiu ao homem que conduzia a carroça.
— Obrigada por nos trazer, senhor Cuthbert. Retribuirei o favor assim que possível.
O homem de bochechas redondas e vermelhas apenas deu uma risada simpática enquanto acariciava a crina do cavalo.
— Não se preocupe, senhorita Dashwood — Ele continuou sorrindo, com olhos calorosos. — Você não tem ideia do quanto minha esposa ficou feliz com a torta de framboesas que a Brielle fez de presente na última semana. Eu já estava achando que nosso bebê nasceria com caroços vermelhos no rosto.
— Brielle ficou muito feliz quando a senhora Cuthbert pediu por aquela torta. Ela gosta muito de vocês.
Ele deu outra risada, fazendo um gesto acanhado com as mãos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
As Estações de Orinthyia
Historical FictionAs irmãs Dashwood vivem no interior do reino de Orinthyia, numa propriedade rural que também é a última grande posse que as pertence. Cuidando de si mesmas sozinhas desde a venda do título de marquês do pai para o outro lado da família, as moças cre...