Cores da primavera - II

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BRIDGET 

Bridget encarava os dedos que se moviam sobre as teclas do piano, mas sua mente estava em um lugar completamente diferente. Ela nem mesmo percebia quando notas se atropelavam na melodia de uma versão bagunçada de "La Candeur", que faria Burgmuller se revirar no túmulo. O som subitamente parou.

— Senhorita Dashwood?

A moça acordou dos seus pensamentos, voltando sua atenção para a menina de franjinhas cacheadas que a olhava curiosamente.

— Você está distraída hoje — A menina fez um biquinho. — Cometi vários erros e não levei nenhuma bronca.

Bridget caiu em si, finalmente se lembrando que no momento estava dando aula de pianoforte. Ela andava muito preocupada com sua irmã mais velha que, como sempre, tentava resolver todos os problemas da família com as próprias mãos. Porém, dessa vez em especial, o problema parecia ser mais grave. Não conseguia esquecer da cena dos dois homens aparecendo em suas portas exigindo o pagamento de uma dívida e entregando-lhe um contrato no qual estava escrito que, sem um acordo, poderiam tomar a propriedade delas. Brie desconfiou que poderia ser um golpe, mas ao ver a assinatura do pai tudo fez sentido.

— Peço perdão, Georgia. Tenho muitas coisas na minha cabeça ultimamente.

A menina se levantou com um sorriso e um brilho nos olhos que Bridget nunca viu em sua expressão enquanto ela tocava piano.

— São assuntos amorosos, senhorita Dashwood? — Ela agarrou suas mãos.

Bridget quase deu uma risada. Quem lhe dera se tudo que tirasse seu sono fosse um homem.

— São assuntos de adultos, senhorita Georgia — Ela piscou, para encerrar a conversa.

A menina sentou de braços cruzados, com uma expressão chateada. Não era a sua primeira vez tentando puxar Brie para uma conversa sobre romance, e as tentativas sempre eram cortadas pela Dashwood. Não que a moça odiasse a ideia de ter uma vida amorosa para falar sobre, mas sabia que não tinha esse luxo simplesmente por não ter bens o suficiente para um dote. Afinal, já fora rejeitada anos atrás por esse exato motivo.

— Agora, vamos consertar sua "La Candeur"?




Havia algo muito errado. Geralmente, apenas Bridget conseguia notar quando sua irmã mais velha parecia abatida. Dessa vez, Blanche era tão óbvia que Beatrice e Brielle perceberam de imediato.

A mais velha não falou muito durante a refeição, e quando Beatrice lhe perguntara se algo havia acontecido tudo que recebeu como resposta foi: "mais tarde conversamos". Agora, voltando para casa na carroça do senhor Cuthbert, Blanche frequentemente olhava para o nada e soltava um suspiro. As irmãs, porém, sabiam que deveriam esperar a hora certa, quando ela estivesse pronta para falar. Bridget imaginou que as caçulas estivessem preocupadas, já que essa era a primeira vez na qual ficava tão transparente que a situação não era nada boa, apesar dos inúmeros problemas pelos quais já passaram.

Quando chegaram à sua pequena propriedade, se despediram do vizinho e seguiram para dentro da casa com a pintura amarela desbotada e batentes brancos descascados. Para o padrão do interior, até que era uma residência de tamanho razoável, mas não se comparava às casas da memória que Bridget tinha da capital.

— Já estão de volta?

A senhora Ormond as recebeu na porta com um pano de prato em mãos. A babá que cuidou delas desde que eram crianças era a única a permanecer com as irmãs, mesmo tendo que segui-las até aquele fim de mundo.

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⏰ Última atualização: May 20 ⏰

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