Sogra

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Acordei ouvindo o barulho da chuva batendo na veneziana da janela do quarto.
Olhei ao redor procurando por Gabriel, mas ele não estava.
Desci as escadas sentindo o aroma convidativo do café.
Tia Mariana estava sozinha na cozinha.
- Bom dia querida. - disse tia Mariana
- Bom dia tia.
Ela fez sinal para que eu me sentasse.
Me serviu café em uma xícara de porcelana.
- Onde está Gabriel? - Perguntei.
- Disse que iria alugar um filme para vocês assistirem.
Sorri involuntariamente.
- Gosto muito de você Alicia, sou a sogra mais feliz que existe- Disse ela levando a xícara  a boca.
Sogra.
Nunca havia pensado nisso.
Chama - lá de sogra era ao mesmo tento estranho e maravilhoso.
- Ooi- Disse Gabriel chegando de surpresa. Me deu um beijo na testa e se sentou na cadeira ao meu lado.
- se comportaram?- perguntou tia Mariana, minha sogra.
- Claro,nos comportamos como dois anjinhos. - Disse Gabriel com um risinho no canto da boca.
- Espero mesmo.- disse tia Mariana.
Passamos o dia no sofá, agarrados um ao outro, ouvindo a chuva que caiu lá fora.
A noite Gabriel colocou um filme para assistirmos.
Se eu ficar, era o nome do filme.
- Sei que você gosta de filmes de romance, por isso aluguei este- disse Gabriel passando os treiles e indo direto ao filme.
Me aconcheguei nos braços dele, o queixo de Gabriel pousado no alto da minha cabeça.
Tudo estava indo bem, até que a protagonista do filme sofre um acidente de carro com os pais e o irmão dela. Comecei a ficar impaciente.
Depois do acidente, ela vê o seu corpo sendo tirado dos destroços do carro de seus pais mas não sente nada. Tudo o que ela pode fazer é assistir ao esforço dos médicos para salvar sua vida, enquanto seus amigos e parentes aguardam na sala de espera... seus pais haviam morrido, e o irmão dela também.
Me doeu assistir a parte em que o rapaz que a amava cantava para ela enquanto ela estava em coma. Escondi meu rosto no peito de Gabriel, e fiquei assim, com os olhos fechados.
Acabei dormindo ali, no sofá.
Por um momento tudo ficou escuro, e eu só conseguia ouvir choro.
Aos poucos foi clareando, e me vi deitada em um caixão de vidro. Vi meus pais um ao lado do outro chorando, Miguel estava sentado em uma cadeira de plástico no fundo do sala, também chorando.
- Estou aqui- falei, mas ninguém ouviu.
Gabriel entrou na sala, com o rosto cheio de dor, foi até onde meu corpo estava, pós a mão em cima da minha, se enclinou e Beijo meu rosto, uma lágrima dos olhos dele pingou em meu pescoço.
Alguma coisa me balançou e eu acordei.
- Esta chorando? - perguntou Gabriel
Passei a mãos em meu rosto, e estava molhado, eu estava mesmo chorando.
- Só um sonho ruim- Falei me sentando.
- Pesadelo você quer dizer né.
- Eu tinha morrido, você chorava enclinado para mim- falei com a garganta seca.
- Eu não devia ter alugado esse filme- Sussurrou segurando em meus ombros e me levantando.
Subimos para o quarto, deitamos juntos, apoiei minha cabeça no peito dele, com as mãos ele alisava meu cabelo.
Fechei os olhos e novamente lágrimas escorreram.
- Alicia, por que está chorando?
- Eu só tenho medo de alguma coisa acontecer, e...- parei incapaz de continuar.
- Você tem medo de morrer, ou que eu morra!- Afirmou ele ainda com a mão em meu cabelo.
Forcei para levantar a cabeça para olha-lo, mas ele segurou firme, me fazendo continuar com a cabeça em seu peito.
- Alicia, nada vai acontecer com você, e nem comigo. A gente fomos feitos para envelhecer juntos, teremos filhos, netos, e quando estivermos bem velhinhos, vamos morrer juntos.- sussurrou.
Eu sorri, me sentindo melhor com as palavras dele.
Fechei os olhos e dormi.

Os medos de AliciaOnde histórias criam vida. Descubra agora