Alvejante

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Esfregava,
Esfregava,
Esfregava,

Mas nada nunca iria tirar o cheiro de Vessel de seus lençóis.
Já passou tanto aquele esfregão nos panos que os rasgou. Seus olhos ardiam pela química e pela dor, o pranto desesperado da saudade. Seus dedos sangravam pelo tanto de produtos de limpeza que já usara para tentar tirar o rastro que ele deixou pela casa.

Não queria nada, nada que lembrasse Vessel.
Mas oque mais doía era saber que não importava oque fizesse, seu amor estaria em todos os lugares. Sua imagem e sua memória, seu cheiro e cada pequena ação que o vocalista fazia estaria para sempre com III.

As risadas que amava ouvir agora se calaram para sempre,
Aquela casa ficaria triste para sempre.

Não teve coragem de jogar nenhum de seus pertences fora, suas roupas ainda carregavam aquele perfume que amava o sentir usar. Tudo o lembrava ele, mas ao mesmo tempo, nunca nada mais estaria da mesma maneira.

Os panos de sua cama não estariam bagunçados ao acordar, os copos não estariam de cabeça para baixo na cozinha e não haveria mais cabelos para pentear antes de um ritual.

Nem tinham mais rituais.

Sem Vessel, as oferendas se tornaram ilógicas, então apenas terminaram de fazê-las, despedindo-se tristemente dos fãs.
Não tinha mais quem pentearia seus cabelos e os amarraria em um penteado engraçado. Não tinha mais quem o elogiasse quando vestisse sua roupa favorita.

Não tinha mais a voz de Vessel na casa.
Mas ela sempre ecoava distante em sua cabeça.

Sempre o relembrando daqueles bons momentos que nunca voltariam.
Ao deitar na cama agora tão vazia, sua cabeça pesava. Quatro pessoas se tornaram três em uma cama, um abraço que antes era caloroso, agora era frio e desesperado.

Os braços de II o apertavam, como se procurassem algo nele, mas apenas oque encontrava era mais do que já sentia: vazio e saudades. Os olhos suaves de IV não eram mais que orbes sem brilho.

O alvejante não era o suficiente para retirar tudo oque Vessel fez em III.
Gostaria que ao menos um produto arrancasse de sua pele toda as marcas que ele deixou, todos os beijos e arranhados. Queria apenas algo para esquecer por um momento dessa dor.

Abraçava seus lençóis, agarrava as roupas e tomava mais banhos do que o necessário. O sabão ardia suas feridas, o shampoo apenas arrancava mais de seus cabelos, a tintura estava cada vez mais desbotada. "Ainda bem", pensava, porque foi Vessel quem escolheu aquela cor para seus fios, e sem ela encruada em seu corpo, o faria esquecer mais facilmente.

Mas não. Ele sentia uma parte de toda sua história indo embora junto com a água.

Ah, a saudade que sentia de ter braços lhe apertando.
Mas o real problema não estava nas roupas ou naquelas coisas muito visíveis. A dor mais angustiante estava no mínimo.

No cheiro das rosas do jardim da casa: o jardim que II cultivava, e Vessel passava uma parte de seu dia sentado entre as flores para sentir o aroma. Consequentemente, saia de lá com aquele cheiro também.

Nas frequentes visitas de serpentes á casa: Por morarem em um local afastado, as cobras eram muito comuns e era Vessel quem as tirava, pois era o único com coragem o suficiente para tocar nos animais. Ele amava esses ofídios, então toda vez que apareciam era como ter uma nova visita do vocalista.

Nas conchas que o mar os presenteava: Vessel amava conchas, então as colecionava. Cada vez que olhava para aquela prateleira, se lembrava das vezes que ele aparecia animadamente segurando mais daquelas conchinhas e as guardando com todo cuidado.

Nos pequenos e diversos detalhes que Vessel morava estava sua dor de não tê-lo mais.

Não importava oque fizesse, nenhum químico retiraria seus registros da casa nem de seu coração.

Ele estava fadado á amar um amor agora inexistente, seus prantos e sua feridas incuráveis.

Nenhum tipo de alvejante iria apagar as marcas que Vessel deixou em sua mente.

Nada nunca iria arrancar dele esse amor angustiante que sentia.

Nada



Alvejante, Álcool e ArteOnde histórias criam vida. Descubra agora