Capítulo 1- Indícios do São João

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24 de junho de 2024 As ruas exalavam o cheiro da fumaça das fogueiras de São João, recentemente apagadas pela chuva. Júlia retornava da universidade, por volta das 17h, segurando firmemente sua bolsa com um braço e, com a outra mão, uma pequena sombrinha que comprou em um site de reputação duvidosa. Era menor do que a imagem do site sugeria, mas Júlia não ousou reclamar, considerando o preço suspeitosamente baixo que pagou. Carregando uma bolsa repleta de papéis e trabalhos da faculdade, ela sempre se surpreendia com o peso inesperado que papéis poderiam ter. A chuva caía torrencial, e Júlia batalhava para manter seu corpo e os papéis secos, uma tarefa impossível dado o tamanho da sombrinha. Talvez tivesse se confundido e comprado uma sombrinha infantil.

Ela desistiu de tentar manter-se seca e decidiu priorizar a proteção dos papéis. A chuva persistia, e as fileiras de bandeirinhas coloridas, antes alegremente penduradas pelas ruas, agora estavam encharcadas. As fogueiras, que antes ardiam com vigor, jaziam apagadas pela chuva. O asfalto molhado refletia a luz tênue dos postes recém-acesos, e a rua permanecia silenciosa. Apenas o som das gotas na sombrinha era escutado. Mais cedo, essa mesma rua fervilhava com crianças saltando sobre as fogueiras, e soltando bombinhas, mães preocupadas, senhoras assando milho, músicas vibrantes e pessoas celebrando. Agora, tudo estava deserto; ao passar pelas casas, ouvia-se risos e música, sons abafados pelas paredes, como se desejassem conter aquela felicidade, não compartilhando-a com mais ninguém.
A caminhada durou cerca de 20 minutos, com rajadas de vento ameaçando levar embora a frágil sombrinha. Júlia finalmente chegou a uma pequena rua de paralelepípedos, com casinhas alinhadas, construídas para atender às necessidades dos universitários (Que era dormir, quando podiam ter esse luxo). Todas as residências ostentavam um azul puro, e um tipo de musgo dominava a parte inferior das paredes. As portas, que talvez um dia tivessem sido de um azul ultramarino, agora exibiam um tom desbotado, descascando e revelando as cores que já possuíram. A casa de Júlia era a quarta. Ela subiu a calçada, destrancou a modesta porta de madeira e entrou na escuridão, e no silencioso lar. Acendeu a luz da sala, revelando o interior diminuto: um quarto minúsculo com uma janela de madeira, um banheiro compacto integrado ao quarto e uma sala que se separava da cozinha por um muro baixo. Depositou jogou sua bolsa no sofá e se deixou cair sobre ele. Estava frio, e seu estômago roncou.

Meus Sentimentos Só Serão Visíveis Na ChuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora