02. Em quantos pedidos alguém pode pensar ao mesmo tempo?

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"so, don't tell my mom, i'm fallin' apart
she hurts when i hurt, my scars are her scars
she'll talk to her friends, impress all of them
at least in her mind, hеr daughter is fine
oh, pleasе don't let her hear
i'm dyin' inside
'cause she's dealt with this for years
i got it this time

i wait 'til i'm home
cry in the shower for two to three hours
'til the tears are gone
then pick up the phone"

– don't tell my mom; reneé rapp

⤜ 🍁 ⤛

Chegar na minha casa e se deparar com música alta vindo do andar de cima é um esclarecimento direto de duas coisas: primeiro, Eduardo Guilherme Cesarini está em casa e, segundo, ele tem um bom gosto musical.

Com um sorriso suave por estar na presença mais tranquila do meu irmão após ele trabalhar demais por semanas, eu subo as escadas e bato rapidamente na porta do quarto dele, que é nada mais que uma peça de madeira repleta imponentemente de adesivos e fotos polaroides datadas de desde que ele aprendeu a usar sua primeira câmera. Tenho certeza de que o dinossauro azul de pelúcia na fotografia mais baixa – de quando ele tinha seis anos e sequer imaginava o que era uma "selfie" – está repousando em uma de suas prateleiras neste exato momento.

Bato com um pouco mais de força quando quebro a hipnose das belas fotografias dele e logo a música é finalmente abaixada. O breve silêncio que se sucede não me gera preocupação, mas o som alto de algo caindo no chão logo em seguida definitivamente me assusta. Quando volto a mim e avanço na maçaneta para ver o que aconteceu, a porta é finalmente aberta.

— Você chegou cedo — Duda força um sorriso para mim ao levantar os óculos sobre o nariz.

— Cheguei no horário de sempre... — começo a me inclinar no intuito de olhar para dentro do quarto, mas ele segue meu movimento e obstrui minha visão. — O que você quebrou dessa vez?

— Nada, eu juro! — ele ergue as sobrancelhas. — Eu só tropecei no cabo do carregador e derrubei o laptop no chão, mas não quebrei nada!

— O papai já avisou pra você parar de trabalhar em cima da cama, Duda — arrumo minha postura ao desistir de espiar se é verdade ou não. Pelo barulho, provavelmente não é. — Você sabe que tudo que eu preciso é de uma desculpa pra pegar essa sua escrivaninha.

Eduardo ri, como se eu tivesse falando totalmente em brincadeira, e eu sorrio de volta, porque não estou brincando.

— Mas então, você precisa de alguma coisa?

— Só queria avisar que cheguei. E pedir pra abaixar um pouco a música.

— Vai estudar?

— Hm — dou de ombros, e então tento saciar um pouco da minha curiosidade. — Me diz... A mamãe te pediu pra ligar pra ela?

— Não — ele franze a testa. — Por quê? Aconteceu alguma coisa?

Forço um sorriso no mesmo instante.

— Não, eu duvido. Deve ser só fofoca — ao franzir o nariz numa tentativa de convencê-lo, acabo me lembrando de uma coisa. — E talvez a fofoca seja sobre um certo pedido...

— Um planejamento — ele me corrige.

— Ai, Duda, sinceramente... — minha testa se franze. — Você quer o quê? Esperar mais seis meses do ano que vem pra ficar noivo? Imagina o desapontamento dela agora que você já marcou esse evento especial pra vocês no final de ano! — me aproximo um pouco dele. — Você não pode perder a chance de novo.

— E o que eu faço se ela não aceitar...?

Balanço a cabeça para os lados e suspiro forte.

— Duda, — coloco a mão sobre o ombro dele. — por quantas pessoas você já foi perseguido na faculdade e nas nossas viagens?

O que Acontece com as Flores no OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora