16. Claro como cristal

210 26 4
                                    

"por onde quer que eu ande
aonde quer que eu olhe
nada afasta essa lembrança de você
tem vezes que eu canto
pra ver se você volta
é impossível
eu não consigo esquecer

eu já fiz de tudo, já te pus pra fora
e ainda te procuro, eu te procuro toda hora

mas eu te procuro, eu só sei te procurar
eu vejo seu nome nas coisas
eu sinto seu cheiro na rua
mas eu te procuro, eu só sei te procurar"

– te procuro; anavitória

⤜ 🍁 ⤛

— Nath? Nath?! Natasha! — uma voz me desperta de repente, fazendo com que eu erga a cabeça num susto.

— O quê? — pisco rapidamente, voltando a segurar com firmeza a caneta sobre os meus cadernos abertos.

— Você vai ou não pra festa do Anthony?

— Ah, não sei — apenas dou de ombros e me recosto na cadeira da sala de estudos da biblioteca.

Com a minha falta de interesse, Carol apenas continua a me encarar enquanto repuxa uma das finas tranças feitas em meio aos seus cachos castanhos. Enquanto isso, Luca e Gabriela fofocam algo entre si como de costume. Como continuo brincando com a caneta em minhas mãos por mais alguns minutos, criando assim um silêncio entre nós duas, ela apoia os cotovelos na mesa ruidosamente e se inclina na minha direção.

— Tá bom, vamos direto ao elefante na sala! — seus olhos cor de mel ficam vidrados em mim. — O que aconteceu durante o final de semana?

— Não aconteceu nada — arrumo minha postura e decido voltar a escrever, mas ela cobre a página com uma das mãos, me obrigando a encará-la de volta.

— Podemos nos conhecer há pouco tempo, mas eu te conheço até que bem, sabia? Eu já achei estranho você ter faltado nos últimos dias da semana passada e mais ainda ter dito que não queria ir na festa do sábado à noite e nem no churrasco do domingo, mas você tá toda capenga desde ontem de manhã — ela cobre minha mão com as dela e suaviza o tom de voz ao perguntar: — Amiga, você está depressiva?

Luca e Gabi me olham no mesmo instante, fazendo um silêncio reinar em nossa mesa.

— O quê? — uma risada me escapa, de modo que afasto as mãos dela.

— Você sabe que pode sempre contar com a gente, não sabe? — ela continua.

— Pois é, amiga, minha tia é psicóloga e pode indicar alguém legal — Luca também se compadece. Parece que de repente a conversa se tornou digna de sua atenção. — Terapia foi uma coisa que me ajudou muito com os pensamentos que eu tinha antes de começar minha transição.

— E não é uma coisa de outro mundo, certo? — Gabi encara os dois, que assentem com a cabeça. — Não precisa ter medo de falar com a gente ou de pedir ajuda.

— Gente! — eu balanço a cabeça, confusa, e apoio minhas mãos na mesa. — Obrigada, mas eu não estou depressiva, tá bom? — dou o meu melhor sorriso. — Só tenho pensando demais sobre uma coisa ultimamente.

— Tem certeza? — Carol me pergunta e todos me encaram.

Após suspirar, tomo uma expressão neutra e confirmo:

— Tenho.

Os três se entreolham por um instante logo após me ouvir, até que finalmente decidem algo – com certeza por telepatia ou algo do tipo, já que apenas se encaram e gesticulam vez ou outra – e se recostam nas cadeiras quase que em perfeita sincronia. Gabi move a cabeça rapidamente para tirar o corte Chanel da frente dos olhos e Luca cruza os braços por cima do casaco da equipe de vôlei, e é difícil não perceber como continuam me encarando.

O que Acontece com as Flores no OutonoOnde histórias criam vida. Descubra agora