'QUANDO A TEMPESTADE ALCANÇA O TORMENTO'
Ele viria com a chuva. Amara havia sido alertada.
'Quando, no terror da noite, a tempestade alcança o tormento, chega então o momento.' A garota odiava rimas - ainda mais essa. Mas não havia escapatória quando o próprio Oráculo do sótão poeirento havia murmurado (muito mais perto de seu ouvido do que ela gostaria) a assustadora linha que a perseguira em seus sonhos intermináveis.
Por isso, sempre que as nuvens pareciam pesadas fora da proteção mágica que acobertava o Acampamento Meio-Sangue, Amara Aislin deixava o pinheiro de Thalia junto das sombras.
Ela não podia negar, gostava da sensação de rebeldia que escorregava junto do sangue em suas veias sempre que deslizava barreira afora - era, por alguns instantes, libertador.
Naquela noite, a chuva estava forte. A junção da ira de Zeus e Poseidon agrupara-se toda na tempestade, lavando de fúria o mundo abaixo de seus tronos dourados. O guarda-chuva verde-musgo que a jovem havia surrupiado de uma cesta de tralhas na Casa Grande não supria os requisitos quais prometia, e a jovem semideusa se encontrava encharcada - e mal-humorada.
Os pingos frios ecoavam no silêncio quando colididos contra o poliéster que a acoberta precariamente e se estendiam entre os pinheiros pontiagudos. As ninfas teriam motivo para rir no dia seguinte, Amara tinha certeza.
Porém, no amargo silêncio qual a Aislin inquietamente se abrigava, um estrondoso eco de metal chocando-se contra o asfalto colou-a em alerta, chegando de modo terrivelmente arrepiante aos seus ouvidos junto de um raivoso raio cinza nos céus. Os braços de Amara se arrepiaram e, na frieza do momento, ela soube que ele chegara.
Num salto, a jovem semideusa já estava em pé, com a audição ainda mais alerta e os olhos negros focados na escuridão afora. Amara tentava captar qualquer movimentação humana entre os arvoredos - e ela encontrou.
Na base da colina, numa madrugada arrepiante, três figuras se apressaram entre a grama alta e escorregadia - e, além do medo, algo os acompanhava. Amara deu um passo à frente, buscando distinguir do que fugiam com tanto fervor. Quando enfim conseguiu, os entendeu. Seu sangue tonou-se frio nas veias.
Era o filho de Pasifae. A fera do Labirinto de Ícaro e Dédalo. O Minotauro. Amara nunca gostou de sua história - muito menos de sua real figura - mas, mesmo o odiando, soube que não tinham chance.
Rapidamente, a filha de Hipnos alcançou seu casaco surrado, tentando chegar ao bolso escondido que costurara ali anos antes. Seus dedos estavam trêmulos.
Quando, já completa por uma ansiedade avassaladora, pôde sentir-se agarrando o disco afiado que ali havia, forçou a mente enevoada à enviar uma mensagem à todos que estivessem imersos num sono profundo. Eles precisavam do máximo de ajuda que pudessem - Amara precisava. Ele não podia morrer.
A jovem semideusa não soube se conseguira pois, quando finalmente conseguiu estabilizar a mente num foco assustador, um rugido grotesco ecoou pela colina, tirando-a de qualquer bolha de poder que havia conseguido acobertar-se. Esperou que aquele berro horrendo tivesse acordado algum semideus - pois se não houvesse, ela não saberia o que poderia.
E então, soltando um suspiro pesado em medo, Amara Aislin saltou em direção ao semideus que à dias aguardava.
Seus pés deslizavam velozes e parcialmente desgovernados - o que tornava a experiência certamente desesperadora. A calça moletom que usava ficou marrom e pesada, e o disco de pontas afiadas qual mantinha entre os dedos quase perdeu-se pela terra lamacenta.
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WHEN DREAMS DROWN | percy jackson.
Fanfic. ⚔️🕯️🌀 'OS SONHOS E O MAR TEM ALGO EM COMUM: AMBOS SÃO INDOMÁVEIS.' No momento em que o sol desvanecia e o sono rompia mentes exaustas, Amara Papoula Aislin sentia...