Um dia quase monótono

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       Era uma quarta-feira, um dia monótono. Como sempre, peguei meu carro e fui para o trabalho, e, como eu sempre tenho a sorte grande, entrei no meio de um engarrafamento.Estava cansada.

       Comecei a tirar os sapatos bico fino e a afrouxar o blazer. Estava tudo agoniante: muito calor, as buzinas faziam um som detestável, as pessoas irritadas com a demora, uma sirene de ambulância fazia o show ficar ainda mais emocionante.No meio disso tudo, só desejei descansar, sair daquela situação, sumir daquela vida.

      Até que, peguei no sono e, de repente, as buzinas vivaram canção de ninar, o calor ficou acolhedor, a sirene e as pessoas que antes incomodavam, faziam o coro da melodia.Sonhei com uma menina, com seu rabo de cavalo e alguns fiapos que se soltara pela velocidade e acrobacias feitas ao decorrer do trajeto. Ela estava andando de patins no meio da avenida. Parecia flutuar de tamanha leveza. Ela não me era estranha. Sim. Essa sou eu. Quando eu tinha 11 anos, queria ser uma patinadora, mas um acidente acabou com esse sonho. Fui atropelada por um carro. E, do mesmo jeito, aconteceu no meu sonho.

       No instante da batida no meu sonho, acordei assustada e vi que a pista foi libera e, vagarosamente, saio do lugar.Tento imaginar o motivo daquela demora, mas meu sonho ainda ficou perambulando no ar. Até que vi o motivo. Uma mulher salvara a vida de uma menina de 10 anos que quase fora atropelada. A menina repetia a mesma coisa, traumatizada, "nunca mais irei andar de skate. Nunca serei uma skatista de verdade". Senti um arrepio na espinha e desci do carro, cheguei no ouvido da menina e sussurrei: 

        -Um dia eu quis ser uma patinadora,mas desisti por causa de um acidente. Hoje, sou muito infeliz na vida por não ter feito aquilo que queria fazer. Não desista,menina, por causa de um primeiro obstáculo, pois virão outros e esse só foi um teste. Coragem, pequena!

A menina, chorando,não sei se foi pelo que eu disse,ou ainda pelo acidente, sorri agradecida. Eu voltei pro meu carro, dei a partida e, naquele instante, desejei que alguém tivesse me falado as mesmas coisas, mas mesmo assim, senti como se a minha missão estivesse cumprida.

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