Capítulo 1 - Ironias.

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A ironia da história mal contada, onde não me protegeram daquilo que mais precisava, não se incomodaram com aquilo que acontecia sempre e estava ali presente. Mas se incomodaram com o meu peso, com as minhas manchas. Porque "gorda" chama muito mais atenção do que a palavra que começa com A e termina com O, sendo vivida na pele por uma criança que brilhava mais que o sol.

Deixaram o monstro apagar minha luz, e a piada da vez é que eles juram, veja só, que a causa da minha morte vai ser o peso e a saúde ruim. A mental, por outro lado, ninguém se importou quando estava sendo destruída. Foi muito mais fácil fechar os olhos quando o estrago não era estético. Chamou muito mais atenção, não foi? A visão de uma gorda, do que a de uma criança que pedia socorro e era violentada aos cantos em lugares que eles poderiam ter visto, ou tido o senso de não deixar me levarem. Não se importavam tanto assim.

Mas eu continuo ouvindo que é a saúde que vai me matar. Eu morri, anos atrás, quando sangrei pela primeira vez e comecei a ter medo de engravidar numa idade onde algo assim não deveria nem passar pela minha cabeça. Mas isso ninguém viu, ninguém ouviu, ninguém se importou. Todos eram ocupados demais, desinteressados demais, cegos demais. Pra gordura, ninguém é.

Vai entender.

Ironias.

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