4. Um (não tão) novo sonho

196 15 82
                                    

"Criança, por que choras? Nem tudo sai como planejado e seus sonhos não são bobos. Você não precisa ser hoje o que você quer ser no futuro, mas quem você é hoje será parte de você lá. Então se mantenha forte. Nada e nem ninguém é capaz de tirar seu sonho, até que você desista dele"

[>>]

Momo sabia que deveria ser mais paciente, gentil e aberta às tentativas que todos ao seu redor faziam para que ela se sentisse bem. Mas por mais que tentasse, ela não era boa nisso.

Hoje era um dia daqueles.

Hirai não queria sair do quarto para nada, mesmo com as tentativas gentis das enfermeiras, ela se recusava. Não tinha exatamente um motivo, ela apenas acordou naquela manhã e não estava disposta a fazer nada mais do que apenas existir. Hoje era um daqueles dias que você acorda sentindo que está faltando algo, há uma melancolia que você não sabe explicar de onde vem.

E Momo queria chorar sem motivo aparente.

Além de toda a nuvem de tristeza que pairava sobre ela, uma chama de raiva habitava em seu peito e era facilmente alimentada, coisas simples serviam de combustível e faziam ela perder a cabeça e se irritar com quem quer que seja. Naquela tarde, sua psicóloga tentou fazer uma visita com uma nova companhia, mas Momo foi tão rude que assustou Choi.

— Não quero ver ninguém, saiam daqui! — gritou, lançando um travesseiro na direção das duas mulheres, Choi e uma jovem psicóloga. Assim que elas saíram, Momo começou a chorar.

Toda essa gritaria acabou afetando sua companheira de quarto, que parecia ter algum tipo de sensibilidade a gritos, já que no mesmo instante tampou os ouvidos com as mãos e se encolheu na cama, balbuciando palavras inaudíveis, em um estado de pânico. Quando a guardiã chegou, no momento exato da confusão, viu as enfermeiras tentando acalmar a jovem e Momo furiosa com toda aquela agitação, e exigiu que retirassem a Hirai daquele quarto.

E assim, Momo foi sedada e levada para um quarto isolado, feito para pacientes em estado de surto. Mais tarde, Choi voltou para conversar com sua paciente.

— Momo, você viu como suas ações machucaram sua colega de quarto? — Momo não fez questão de levantar o olhar, sem dar importância ao que sua psicóloga dizia. Ela já estava mais calma, mas seu humor não havia melhorado. — A senhorita Myoui é sensível a gritos, você precisa ter empatia com-

— Foda-se — soltou, impedindo que Choi terminasse a frase. — Foda-se ela, foda-se você, foda-se aquela garota que acompanha ela...

— Hirai, não vou permitir que você use esse tipo de linguagem aqui — e Momo estava prestes a soltar mais um "foda-se", mas Choi impediu. — Nesse seu estado, eu tenho total poder para revogar o seu direito de pedir para sair deste lugar — Momo calou, encarando a psicóloga com ira. — Posso agora considerar você alguém incapaz de viver em sociedade, considerando ser um risco para os outros? — o peito da japonesa descia e subia, como se uma bomba relógio estivesse dentro dela e a qualquer momento fosse explodir. — Pensei que estivéssemos nos entendendo, você estava indo muito bem.

Choi inclinou levemente a cabeça, analisando sua paciente. Momo estava vermelha de raiva, os fios de cabelo grudavam em seu rosto molhado de suor por ter gastado tanta energia antes do efeito de sedativo. Seu olhar estava diferente, não tinha aquela pontinha de brilho que Choi viu da última vez; não se passaram nem três dias e eles estavam opacos novamente. Então, Choi lembrou de um detalhe.

— Hoje é dia quatro de outubro — e aquela frase foi o suficiente para fazer a postura de Momo mudar. Os olhos exibiram surpresa. A "bomba" foi desativada e seu peito se acalmou. — Foi nesse dia que seu pai faleceu, não é? É por isso que está assim.

Por Mais Um Dia | DahmoOnde histórias criam vida. Descubra agora