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Num emaranhado de sombras e luz, 
tu és a vinha que enlaça meu tronco esquecido, 
raízes submersas em terra úmida de carência, 
sugando-me a seiva, decantada em lágrimas salgadas.

Me vejo refletido em teus olhos, vastos oceanos, 
onde minha identidade navega sem bússola, 
em barcos de papel que se desfazem ao teu mínimo sopro, 
sobrevivendo na tormenta de tua aprovação tênue.

És o sol e a lua de meu céu particular, 
orbito teu mundo, gravitando em tua eterna espera, 
cada sorriso teu, uma alvorada; cada desdém, um eclipse, 
onde me perco nas longas noites de tua ausência.

Mas que sou eu, senão um eco em tua vastidão? 
Vagando por caminhos que só levam a tua porta, 
um viciado em tuas promessas, dependente de afetos efêmeros, 
vendendo minha paz por migalhas de tua atenção.

Oh, doce prisão que construímos de mãos dadas! 
Neste baile de máscaras, danço sozinho, 
enquanto a música segue, meu coração compassa 
ao ritmo descompassado de nossa melodia torta.

Desatar esses nós seria renascer em dor, 
mas há beleza no quebrar, na reconstrução do ser, 
na liberdade conquistada ao soltar as correntes 
que me prendem a ti, meu amor, meu algoz.

Que um dia possa eu encontrar-me pleno, 
onde não haja sombra nem luz que não sejam minhas, 
e que o amor seja um encontro, não um laço, 
um partilhar de inteiros, não um roubar de metades.

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