Estado Vegetativo

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Saulo é um garoto que vive no campo, mas a vida dele nem sempre foi assim, ele costumava a morar em uma cidade chamada Burntown a pouco tempo atrás, porém, seu mais novo padrasto era dono de um sítio e, após a misteriosa morte de sua mãe, ele foi obrigado a se mudar contra sua vontade pois ele ainda não tinha idade o suficiente para morar sozinho. Saulo tem um meio-irmão mais velho chamado William, Saulo não é muito próximo de William, mas sempre pede ajuda quando precisa ir até a plantação de trigo, Saulo morre de medo do espantalho que lá habita, William acha isso no mínimo engraçado, mas ajuda mesmo assim.
O garoto hoje acorda mais cedo que o galo da família, "mais uma vez aquele sonho...", Saulo quase toda semana sonha sempre a mesma coisa: Ele está fugindo completamente desesperado daquele mesmo espantalho, mas não importa o quanto ele tente fugir e se esconder, não importa o quão longe ele vá, o espantalho sempre está alí parado, como se estivesse observando cada passo do garoto, o espantalho se mantém parado, mas sempre próximo.
- Bom... Já que eu acordei cedo, é melhor eu já adiantar meus trabalhos... Odeio isso - Diz Saulo enquanto se levantava da cama, ainda sonolento
Saulo sai de seu quarto e se depara com seu padrasto, Jorge, na cozinha murmurando alguma coisa sobre trocar o espantalho, mas não presta muita atenção pois prefere focar nas tarefas para ter o dia de folga, e é isso o que o rapaz faz, "Hoje eu preciso limpar o galinheiro e mais algumas coisinhas.." o garoto repete para si mesmo.
- Bom dia Jorge - Saulo diz enquanto prepara seu café da manhã
- Bom dia garoto, acordou cedo hoje - Responde o padrasto
- É, quero terminar as tarefas mais rápido pra poder aproveitar o dia... Eu vi que chegaram vizinhos novos, né? Acho que tem um menino mais ou menos da minha idade - Fala Saulo enquanto termina seu café da manhã e vai direto fazer suas tarefas, começando pelo galinheiro.
Após realizar algumas de suas tarefas, ele finalmente irá para a última delas, que, misteriosamente, já está completa, mas o garoto nem liga e comemora por ter uma tarefa a menos. Sem medo ou vergonha, Saulo vai direto para a casa de seus mais novos vizinhos, para poder fazer amizade com o filho do novo casal, chegando lá Saulo se depera com o garoto vizinho sentado em um balanço em uma árvore velha.
- Cara, se você ficar aí por mais tempo esse balanço cai - Saulo diz se aproximando do garoto aos poucos
- Eu to esperando aquela árvore crescer pra poder trocar o balanço de lugar - O rapaz aponta para uma árvore pequena em outro canto de seu quintal
- Maneiro... Me chamo Saulo, somos vizinhos hehe - Saulo estende sua mão para um aperto de mãos
- Me chamo Thomas, é um prazer, vizinho - Thomas aperta a mão de Saulo
- E aí? Tem alguma coisa maneira pra gente fazer? Não tem ninguém aqui e tal... - Saulo pergunta olhando para a árvore crescendo
- Ah, sei lá... Quer brincar de pega-pega? - Thomas pergunta, se levantando de seu balanço
- Bora - Saulo responde, encosta em Thomas e sai corrento - Tá com você! - Saulo grita antes de correr
Thomas o persegue e ambas as crianças brincam juntas até o entardecer, os garotos ficaram horas brincando das mais diversas coisas e conversando sobre tudo o que vinha em mente, Saulo até falou sobre seu medo do Espantalho, dizendo que era assombrado e que já o viu andando pelo quintal, mas Thomas apenas caçoou de seu mais novo amigo, dando risadas e dizendo que provavelmente era só seu padrasto checando algo à noite.
Após horas brincando, conversando e se conhecendo, o sol finalmente se pôs, Saulo chega perto de seu amigo e diz a seguinte proposta
- Ei, quer jantar lá em casa? - Saulo pergunta já caminhando aos poucos na direção de sua casa
- Claro, só deixa eu avisar meus pais antes - Thomas entra rapidamente em sua casa, enquanto Saulo apenas espera.
Saindo de lá, os dois apenas seguem calados até a casa de Saulo, o garoto, no momento em que abre sua porta, grita com sua mãe
- MÃE, EU CHAMEI MEU AMIGO PRA JANTAR, BELEZA!? - Saulo grita da porta à cozinha
- TÁ BOM! - Sua mãe grita de volta da cozinha
- Pode sentar no sofá aqui da sala, vou ver o que tem pra comer hehehe - Saulo se vira e diz para Thomas dessa vez
Thomas apenas obedece e se senta, esperando seu amigo voltar.
Se passam alguns minutos e todos já estavam sentados à mesa conversando entre si, após o almoço Jorge e Saulo levam Thomas até a casa dele e Jorge agradece a mãe do garoto por deixar ele jantar com ele e sua família, Saulo se despede de seu amigo e vai embora com seu padrasto.
Após uma semana, Saulo percebe um comportamento um tanto estranho vindo de seu amigo, que recentemente começou a apresentar marcas de olheiras e um cansaço enorme, mas quando era questionado sobre ele apenas dizia que não era nada e que se preocupar com isso era bobeira, não inconformado, Saulo hoje novamente pergunta à seu amigo
- Cara... Você anda dormindo recentemente? É sério agora - Saulo pergunta à seu amigo que acabou de chegar perto dele
- De novo isso, mano? Eu to de boa, não precisa se preocupar... - Thomas tenta mudar de assunto
- Cara... Eu consigo ver suas olheiras, ok? - Saulo informa seu amigo, que fica meio sem graça
- Se eu contar... Você nunca vai acreditar em mim, cara - Thomas anda até seu balanço - Mas já que você insiste tanto... Eu acho que eu vou contar - Após Thomas dizer isso Saulo se senta no gramado
- Então... É... No mesmo dia que a gente se conheceu, quando era de noite, eu vi algo na minha janela... Algo humanóide, alto e assustador... Eu até achei que fosse o meu ou talvez até o seu pai mas... Ele ficou parado alí me observando de longe e quando eu fui ver o que realmente era... Era aquele seu espantalho bizarro, eu achei que era você tentando me zoar e ignorei, mas na noite seguinte isso rolou de novo e de novo, e todas as noites ele se aproxima mais e mais, eu já vi seu padrasto tirando ele de lá e já fiquei a noite toda vendo se não era você que colocava ele lá, mas... Não era.. Não tem ninguém movendo aquele maldito espantalho e eu acho que eu to ficando maluco, ontem ele tava na minha janela e eu senti ele mexendo na minha cortina... Eu acho que hoje ele vai entrar. - Thomas começa a chorar após revelar tudo isso e Saulo tenta o confortar, após alguns minutos Thomas já está mais calmo e Saulo finalmente diz
- Você não é o único que já passou por isso, por que você acha que eu tenho medo daquela coisa? - Saulo olha ao redor e observa se não há ninguém por perto - Eu já aprendi a lidar com isso, mas você não, temos que fazer alguma coisa quanto a isso antes que essa coisa comece a se espalhar pela cidade - Saulo olha para seu quintal encara o Espantalho que lá habita
Os garotos após convencerem os pais um do outro, decidem que Saulo irá dormir na casa de Thomas para que eles possam destruir este espantalho. A noite chega, Saulo está caminhando lentamente até a casa de seu amigo e Thomas está preparando as coisas em seu quarto para que ambos possam efetuar seu plano, chegando lá os garotos jantam, conversam e agem como se nada estivesse acontecendo, porém, na hora de dormir, exatamente às 21:23, o Espantalho finalmente aparece na janela, os garotos estão fingindo estar dormindo, portanto, é a hora perfeita para que o Espantalho possa entrar, e assim ele fez.
Após o Espantalho entrar, rapidamente, Saulo tenta acertar algo na cabeça dele, mas é impedido pelo cheiro de mofo e carniça, como se houvesse algo morto dentro daquele Espantalho, Thomas corre até a janela para poder vomitar pois aquele cheiro era insuportável, Saulo continuou se aproximando aos poucos, Thomas fechou a janela para que o Espantalho não pudesse fugir, assim ambos taparam seus narizes para não sentir o cheiro de podre, até que misteriosamente o Espantalho abre sua boca e solta um gás que faz com que os dois garotos alí presentes fossem adormecidos.
Algumas horas se passaram e Saulo acorda desesperado, achando que foi tudo um pesadelo, mas Thomas não estava lá, ele checou o relógio e tremeu ao ver que eram 03:00 da manhã, seu padrasto sempre lhe contava histórias assustadoras que ocorrem as 3 da manhã, mas Saulo sabe que nada disso é tão assustador quanto ter que procurar seu amigo na madrugada, e assim fez, Saulo imediatamente pula pela janela e vai direto à sua casa, "Eu tenho certeza de que ele vai estar lá, eu sinto isso... Como se houvesse uma conexão maior", pensa Saulo enquanto corria para seu galpão, chegando lá ele entra escondido e sem fazer barulho, o garoto adentra seu galpão escuro e sujo, é um local que Saulo raramente visita pois ele sabe que é lá onde seu padrasto faz e guarda sua coleção de bonecos de ventríloquo, fantoches, espantalhos e ironicamente esse é o maior medo do garoto. Saulo toma coragem e finalmente, após descer as escadas, abre a porta que leva para onde habitam os bonecos, chegando lá ele vê algo tão perturbador que por um segundo até se esquece do seu medo por manequins, Saulo vê o mesmo Espantalho de antes, porém, ele tem o rosto de seu falecido pai, após ver isso Saulo imediatamente corre até ele e retira seu chapéu de palha, era ele com certeza, Saulo sabia disso pois ambos tem a mesma marca de nascença em sua testa
- Pai... MAS O QUE TÁ ACONTECENDO!!!? - Saulo tenta gritar mas é impedido por seu pai que põe o dedo em sua boca
- Shhh... Ele. Ouve... Filho. Eu. E. Sua. Mãe. Mortos. Não. Tente. Fazer. Nada. - O pai de Saulo fala com uma voz rasgada entre grunhidos e tosses, ele mal consegue falar sem fazer pausas entre as palavras
- Mas... Por que você tá fazendo isso? Cadê o Thomas?? - Saulo pergunta ficando cada vez mais confuso, ele só queria que tudo isso fosse um pesadelo
- Ele. Manda. Eu. Faço. Para. Te. Livrar. Deste. Destino. - O Espantalho volta a se mexer e revela que Thomas e seus pais já estavam mortos e que ele estavam espalhados, possivelmente em processo de ficar do mesmo jeito que seu pai
- Você... Fez isso com eles...? - O garoto se aproxima dos corpos e pode observar que dentro de seus corpos haviam ervas, frutas e vegetais da colheita de seu padrasto - Eu acho que vou vomitar... - Saulo diz se distanciando dos corpos
- Saia. Logo. Daqui. Ele. Ouve. Você. Não. Podia. Ver. Saia. Daqui. Se. Não. Tudo. Será. Em. Vão. - Após dizer isso o Pai de Saulo apenas começa a repetir "ele ouve" enquanto terminava de empalhar a família ao lado
O garoto, vendo que qualquer ação seria inútil, se vira para subir as escadas e voltar para sua casa com medo, ele nunca mais vai olhar seu padrasto da mesma forma, porém, no momento em que ele abre a porta, uma fumaça pode ser avistada subindo no local, enquanto uma voz feminina, muito semelhante à voz de sua falecida mãe, pode ser escutada dizendo "Desculpa. Ele. Controla.", imediatamente Saulo cai no chão e, antes de desmaiar, ele pode ver os pés de seu padrasto e ouvir ele dizendo
- Mas jorge... Por que? - Saulo pergunta, desacreditado, decepcionado e sem esperanças de viver
- Eu já cansei de ser chamado assim, "Jorge" não é meu nome real, e eu já te disse, garoto, às 03:00 da manhã coisas ruins acontecem... Mas pelo menos você irá poder se juntar à sua família... Eu não posso correr o risco de você contar para alguém - Após dizer tudo isso, Saulo em seus últimos segundos de consciência observa uma pá em direção à sua cabeça
- É hora de arranjar uma família nova... Esse garoto pode me arrumar problemas mesmo em estado vegetativo, acho que irei me livrar deste corpo mais tarde... - O homem picota o corpo de Saulo em pedaços e joga para os porcos comerem, após isso, ele veste sua roupa de palhaço e foge do sítio fazendo assim com que ele nunca seja descoberto e possa continuar sua matança.
                                Fim

N.L. Paranoid - Contos de NilOnde histórias criam vida. Descubra agora