When I look into your eyes

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Pov. Carina Deluca

Uma chamada. Duas.

Parei de andar em círculos apenas o suficiente para abrir uma fresta da cortina e olhar pela janela. Franzi a testa quando vi o céu ainda escuro, mas pensei que estava mais para azul-escuro do que para cinza, começando a mostrar tons de rosa e púrpura no horizonte. Ou seja, tecnicamente, já era de manhã.

Três dias se passaram desde o sermão de Andrea e, consequentemente, essa era minha terceira tentativa de ligar para Maya. Mas mesmo eu não tendo ideia do que iria falar – nem mesmo do que meu irmão esperava que eu falasse – Quanto mais eu pensava nisso, mais percebia que Andrea estava certo: eu nunca saia do laboratório. O conteúdo da minha geladeira era salada, sobras de comida chinesa e comida congelada. Toda a minha vida até esse ponto girava em torno de acabar a faculdade e me lançar numa perfeita carreira como pesquisadora. Foi um chamado para a realidade perceber o quão pouco eu tinha fora desse círculo.

Aparentemente, minha família percebeu isso primeiro, e por algum motivo eles pensavam que a solução para me salvar da solteirice era Maya.

Quanto a mim, estava menos confiante nessa solução. Muito menos.

Admito que nossa história juntas era bem pequena, e era totalmente possível que ela nem se lembrasse mais de mim. Eu era a pequena irmãzinha, apenas um plano de fundo para suas muitas aventuras com Andrea e seu breve caso com minha irmã. E agora eu estava ligando para ela para... o quê? Me levar para sair? Jogar Banco Imobiliário? Me ensinar como...

Eu nem conseguia terminar esse pensamento.

Pensei em desligar. Pensei em voltar para a cama e dizer para meu irmão ir se ferrar e parar de me encher. Mas no meio da quarta chamada, e apertando o telefone com minha mão já embranquecida, Maya atendeu.

– Alô? – sua voz era exatamente como eu me lembrava, encorpada e profunda, mas ainda mais grave. – Alô? – ela repetiu.

–Maya?

Ela respirou fundo, e eu ouvi um sorriso se estender por sua voz quando ela falou meu apelido:

– Piccolina?

Eu tive que rir; é claro que ela se lembraria de mim desse jeito. Apenas minha família ainda me chamava assim. Ninguém sabia o que o nome significava – em retrospecto, eles deram poder demais ao Riccardo, que tinha apenas dois anos quando escolheu o apelido da sua irmãzinha recém-nascida.

– Pois é. É a Piccolina. Como você sabia...?

– Eu falei com Andrea ontem. Ele me contou tudo sobre a visita e o chute-no-traseiro verbal que ele deu em você. E também mencionou que você talvez ligasse para mim.

– Bom, aí está – eu disse, boba de tudo.

Ouvi um gemido e o farfalhar de lençóis. Eu absolutamente não tentei imaginar o tipo de nudez que estava do outro lado da linha. Mas o nó em meu estômago subiu direto para minha garganta quando a ficha caiu: ela parecia cansada porque estava dormindo. Certo, então acho que tecnicamente ainda não era de manhã.

Dei outra olhada pela janela.

– Eu não acordei você, não é?

Eu nem tinha olhado para o relógio ainda, e agora estava com medo de olhar.

– Tudo bem. Meu alarme está prestes a tocar, de qualquer maneira... – ela fez uma pausa e bocejou. – ... Daqui a uma hora.

Segurei um gemido de mortificação.

– Desculpe. Acho que eu estava um pouco... ansiosa.

– Não, não, tudo bem. Não acredito que esqueci que você agora mora aqui na cidade. E ouvi dizer que você se enfurnou num laboratório nos últimos três anos.

I' Wont Give UpOnde histórias criam vida. Descubra agora