"Eu não quero entrar! Me leva embora daqui"
Era o inicio de uma tarde de segunda, estava frio e ventava bastante.
Meu primeiro dia de aula em uma escola, aliás, meu primeiro dia em uma escola na minha vida.
Eu deveria ter uns 5 anos.
A essa altura, todos ja estavam lá dentro. Os pais começavam a se dispersar do portão, exceto, minha mãe.
Abordada com um comunicado: "Seu filho precisa entrar, tenho que fechar o portão.", minha mãe começou a ser mais firme:
- Pare com isso Lyan! Entre agora mesmo!
Uma voz ecoou de trás da minha mãe, mesmo com os olhos cheios de lágrimas, consegui enxergar perfeitamente. Era a Rave, professora da minha irmã mais velha:
- Está tudo bem? - Ela perguntou calmamente.
- Esse garoto! Está com medo de entrar na escola pro primeiro dia de aula - Minha mãe agressiva.
Ela desviou-se de minha mãe, veio até a mim, abaixou-se e com os olhos sob os meus disse:
- Você não precisa ter medo. Quer entrar comigo? - Ela se levantou e estendeu sua mão.
Obviamente eu me reclinei ainda mais pelas pernas de minha mãe. Meu pânico ficou ainda mais intenso. Eu não queria estar ali, muito menos com a professora da minha irmã.
Sem sucesso, a professora chamou seu filho.
- Henri venha aqui.
De repente, o mundo parou. Não havia nada ali... Não havia medo, nem panico, nem escola, nem mãe, nem professora.
De repente só havia Henri e eu no mesmo lugar ao mesmo tempo.
Lembro exatamente o que pensei naquele momento... Era algo inocente, um sentimento bom e puro. Um sentimento infantil!
Ver o Henri, filho da professora Rave foi assustador e ao mesmo tempo confortante.
Ele veio até a mim, estendeu sua mãozinha e disse:
- Não tenha medo. Vem comigo!
De ímpedo eu segurei a sua mão e entrei com ele.
Não vi mais minha mãe, não vi mais a professora. Era apenas Henri e eu.
Ele me deixou na minha sala e foi para a dele, mas eu fiz outro escândalo e, para acabar com a agitação, a coordenadora me mudou para a sala dele.
Eu não consigo pensar em nenhuma versão diferente para essa história.
E se eu tivesse entrado antes? E se eu tivesse entrado sem ele? E se eu não tivesse mudado de sala? E se? E se? E se?
E se anos mais tarde eu descobrisse que ele era o amor da minha vida?
Enfim... O "e se" tem um poder infinito para nos perturbar durante a eternidade.
Essa história é sobre escolhas, sobre o que de fato é amar alguém.
Caso queira continuar, peço que entenda que é uma história real e relevem algumas coisas, pois tudo isso aconteceu dentro dos anos de: 1997/2011, numa cidade pequena do interior, onde a linguagem e sociedade eram bem diferentes.