Close and confused

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Assim que cheguei à entrada do local, diminuí um pouco o passo e olhei para trás. Jake tinha uma expressão suave, deixando os traços de sua face mais naturais. Uma de suas mãos estava no bolso das calças jeans escuras.

-Você já sabe o que vai querer comer? -perguntou-me, levantando uma sobrancelha.

-Algo bem grande e gorduroso. -eu disse, fazendo um gesto com as mãos.

Ele abriu um sorriso sem mostrar os dentes. Olhou para baixo, bagunçou um pouco o cabelo e murmurou:

-Vamos. Conheço um bom lugar.

O acompanhei, enquanto tentava aprofundar minhas mãos na jaqueta de couro que usava. O frio ficava cada vez mais insuportável. Não entendi como Jake conseguia permanecer normal usando apenas aquela camisa xadrez. Apenas nossas respirações cortavam o silêncio do ambiente. O vento batia nas folhas de algumas árvores plantadas nas calçadas, produzindo um barulhinho que tornava a rua ainda mais sombria. Imaginei o quão tarde já estaria. Essa seria com certeza uma das vantagens de se morar sozinha, já que não haveria ninguém me esperando no sofá da sala com um interrogatório em mãos quando eu chegasse tarde.

-Qual o seu nome completo? -perguntei, inclinando um pouco minha cabeça para observar Jake.

O vento soprara forte, fazendo com que seu cabelo fosse para o lado, deixando uma parte de sua testa á mostra. Ele ficava ainda mais bonito daquele jeito. Não olhou para mim. Tirou do bolso um maço de cigarros e pegou um, acendendo-o depois com seu isqueiro. Fez um triângulo com as mãos para que o fogo não se apagasse. Apoiou o cigarro com dois dedos e levou-o a boca. Deu uma longa tragada, como se quisesse acabar com ele de uma só vez.

-Não acho que isso seja bom. Eu detesto meu sobrenome. -disse, olhando em meus olhos.

-As pessoas referem-se a você unicamente como Jake? -perguntei, arqueando as sobrancelhas.

-Não. Jake Bugg. -disse simplesmente, liberando a fumaça pelos lábios rosados.

-E por que Bugg? -indaguei, com as sobrancelhas arqueadas.

-Você faz mais perguntas do que eu posso responder. -disse, liberando a fumaça pelos lábios rosados. Sua expressão era indecifrável, mas podia ver que ele se sentia desconfortável com aquele assunto.

-E você não está me dando as devidas respostas. -falei, olhando para ele com uma expressão falsamente irritada.

Jake abriu um mínimo sorriso.

-É só que isso não importa agora. Mudará alguma coisa para você? -perguntou, abrindo um mínimo sorriso.

-Por isso mesmo quero que me diga. Se é irrevelante, qual o problema de saber? -perguntei, desafiando-o.

-Meu Deus, você nunca desiste?-disse, rindo um pouco. Alternava a visão entre suas mãos e meu rosto.

-Eu só quero conhecer você. -disse, olhando para seus olhos azuis. -Mas você não deixa que eu faça isso de uma forma normal.

Ele parou de caminhar e jogou o cigarro no chão; depois pisou nele para que apagasse. Imaginei se ainda estávamos longe do bom lugar descrito por Jake. Eu estava com uma fome absurda. Subitamente, ele me empurrou para um canto da rua. Paramos em um muro meio úmido devido ao sereno noturno. A iluminação era pouca, mas eu pude ver seus olhos; eles brilhavam e pareciam ter uma cor mais intensa. Seus lábios esboçavam um pequeno sorriso e seus dedos foram para meu rosto, afastando alguns fios que caíam sobre meus olhos. Estremeci um pouco com seu toque gélido. Eu estava confusa com tudo aquilo, e minha expressão não devia estar diferente, mas ele não se afastou. Segurou minha cintura e me prensou ainda mais contra a parede. Seu cheiro tinha um pouco da nicotina presente no último cigarro usado e de um perfume amadeirado. Não me debati e nem tentei me afastar, mesmo com o meu subconsciente gritando e me mandando fazê-los. Apenas permaneci ali.

-If you knew my story word for word, had all of my history; would you go along with someone like me? -ele cantava baixinho. Seu hálito encontrou com meu pescoço, fazendo-me arrepiar. Seus lábios roçaram em minha bochecha em chamas, depois passou o nariz pela curvatura do meu pescoço. Sua voz era rouca, grave e levemente anasalada.

Fechei os olhos e permaneci imóvel. Não conseguia entender como aquela situação havia chegado a tal ponto. Eu sentia como se minha intervenção fosse inútil, por que tudo estava indo rápido demais, e eu não conseguia acompanhar. Como seu eu fosse uma mera narradora observadora em minha própria história. Deixei-me levar, embora eu não soubesse o local para onde iria.

Ele segurava fortemente minha cintura. Abri os olhos e seu rosto estava a centímetros do meu. Não fazia nada, mas eu sentia como se ele pudesse ler cada pedacinho do meu interior. Como se pudesse enxergar além do que eu mostrava. Minhas bochechas queimavam violentamente e minhas mãos formigavam. Minha respiração estava acelerada, mas a de Jake permanecia normal. A pele pálida de seu rosto ganhava uma coloração dourada por causa da pouca iluminação dos postes. Seus olhos mudaram de um azul esverdeado para um azul acinzentado. Sombrio.

- Depois que você souber toda a minha história, vai querer fugir. E eu não quero que isso aconteça. Não agora. -sussurrou próximo ao meu ouvido.

-Você está me julgando antecipadamente. Como sabe que irei fugir? E se eu preferir ficar? -eu disse, olhando em seus olhos com uma expressão desafiadora.

-Se eu estivesse nessa situação, fugiria. A maioria foge. -ele disse, afastando um pouco de mim.

-Eu não sou a maioria. -disse, sem tirar meus olhos de seu rosto.

Ele continuou a olhar para mim por alguns instantes. Tinha pequenas olheiras abaixo dos olhos; perguntei-me internamente o real motivo delas. Ele parecia querer que eu não soubesse dos seus motivos, então não disse nada. Aquela situação já estava ficando estranha. Coisas como aquela raramente acontecem em um primeiro encontro; e aquilo nem era exatamente um encontro. O único plano é que ele me fizesse companhia, mas os planos mudam; e as pessoas aprendem a mudar com eles. Era louco.

-Vamos. -murmurou, afastando-se ligeiramente de mim e seguindo o mesmo caminho antes percorrido, como se nada houvesse acontecido.

Apenas o segui em silêncio, tentando juntar os destroços que o furacão Jake havia deixado em mim. Sua mudança de humor era desconcertante, porque era difícil ser rápido o bastante para acompanhá-la. Nada era convidativo. Parecia haver uma certa áurea de mistério que o cobria por inteiro. Uma escuridão que não permitia uma visão clara do seu interior.

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