Fire

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- Precisamos mesmo resolver isso aqui e agora, Brian? - perguntou Jake, cuspindo as palavras brutalmente. -Não acho que isso seja necessário.
Brian sorriu da forma mais doentia que pôde e depois soltou uma gargalhada alta e aguda. Era óbvio que ele não havia achado graça alguma da situação; parecia querer parecer assustador. Intimidador. Paul, o ruivo, continuava encostado em uma das laterais do carro preto. Seus olhos estavam fixos em Brian, acompanhando cada um de seus atos. Jake tinha os punhos fechados e os dentes cerrados. Seu rosto estava vermelho, passando a sensação de que a qualquer momento poderia explodir.
- Olha, Jake. Eu estou pouco me fodendo para o que você acha. -disse, sem tirar o sorriso debochado dos lábios. - Além disso, você pode terminar de comer a garotinha assim que resolvermos esse problema.
Gesticulou o dedo indicador em minha direção, fazendo com que meu estômago se revirasse. Eu sentia nojo daquele homem, mesmo sem o conhecer. Cada uma das palavras que saíam de sua boca faziam-me querer vomitar.
-Você não tem o direito de dizer isso, seu desgraçado. -Jake disse,entre dentes.
-Ah, é mesmo? -Brian chegava cada vez mais perto de mim e de Jake. Seus cabelos negros contrastavam com a pele pálida e os olhos absurdamente escuros. - E o que fará a respeito?
Então Jake socou fortemente o rosto de Brian. Seu lábio inferior sangrava e havia uma mancha roxa abaixo de seu olho esquerdo. Colocou uma das mãos no queixo, ainda olhando para baixo, e depois abriu um sorriso. As coisas aconteciam como num filme, em câmera lenta. Tudo era muito irreal, e o fato de eu não estar entendendo nem a metade da situação a tornava ainda mais complicada.
-Respondi sua pergunta? -perguntou Jake, olhando no fundo dos olhos de Brian.
Jake estava mais uma vez sombrio. Era impossível saber o que ele estava sentindo apenas com um olhar. Cada um de seus atos só transmitiam raiva e nada mais. Ele estava vazio de tudo aquilo que eu queria que ele estivesse cheio.
-Pode ser que sim. -respondeu Brian. - Mas ainda tenho mais algumas perguntas.
Logo depois, socou o estômago de Jake, fazendo com que este se contraisse, com as duas mãos sobre o local ferido. Ele parecia sentir muita dor e seu rosto ficava cada vez mais pálido. Foi um golpe forte. Eu queria gritar, fazer qualquer coisa, mas nada saía da minha boca. Era como se meu corpo não estivesse obedecendo os comandos que o meu cérebro dava. Coloquei ambas as mãos sobre a boca e senti uma lágrima solitária descer por meu rosto frio. Olhei para Brian e ele parecia contente com a dor de Jake. Então Brian se aproximou de mim, fazendo com que eu sentisse meu estômago embrulhar com seu perfume absurdamente doce. A cada um de seus passos, eu sentia um novo arrepio pelo corpo. Seus olhos eram escuros demais. Era como se, antes de ele nascer, já estivessem sido criadas características físicas que combinavam perfeitamente com sua personalidade.
-Bugg está caprichando cada vez mais na escolha de mulheres. -disse, bem perto do meu pescoço.
Minhas bochechas estavam molhadas pelas lágrimas que escorriam livremente pela pele. Eu não sabia o que fazer. Estava perdida entre a indecisão do pensar e do agir.
-Posso te garantir que sou melhor que ele. -disse, passando as mãos pelo meu cabelo.
Estão Jake apareceu por trás e golpeou sua cabeça violentamente, fazendo com que Brian caísse imediatamente no chão. O asfalto agora tinha uma cor mais escura, já que algumas gotas de sangue escorriam do rosto machucado de Brian. Me senti aliviada por não estar sozinha ali. Ou melhor, por Jake estar comigo.
Olhei em direção a Paul, que parecia assustado demais para se defender de Jake. Senti uma pontada de pena dele. Parecia tão indefeso. Como se estivesse sendo obrigado a ser quem não é.
- Tire esse filho da puta daqui antes que eu acabe com você e ele. -Jake disse para Paul, num tom autoritário.
No mesmo instante, o rapaz foi em direção à Brian, que estava caído no chão e tentou o levantar, desajeitadamente. Assim que conseguiu, colocou-o no banco de trás do automóvel e deu partida, numa velocidade quase crítica.
Jake parecia mais aliviado. Como se estivesse presenciado o término de um grande furacão.
-Jake, o que aconteceu aqui? -perguntei e minha voz soou estranha.
-Brian não gosta de mim. Há algum tempo atrás, quando estava namorando Chloe, descobri que ela estava com ele e que o traia comigo, mesmo sem que eu soubesse. Assim que soube, tentei de tudo para me ver longe dela, o que a deixou furiosa. E para descontar, a vadia contou tudo para Brian; mas como se ela fosse a inocente da história. -disse, suspirando ao final. Ele parecia perturbado quando tocava naquele assunto.
-Você não estava exagerando. Ela é realmente uma vadia. -falei, tentando ajeitar os fios de cabelo que eram soprados livremente pelo vento noturno e atrapalhavam minha visão.
-O pior de tudo é que sempre que penso que ele esqueceu de tudo, aparece para me dar um susto. -disse, ajeitando a manga da camisa xadrez ensopada.
-Ei, acho melhor cuidarmos disso. Meu carro está no pub, podemos pegá-lo e ir até minha casa. -falei, acompanhando a mudança repentina da expressão de Jake.
Então ele abriu um meio sorriso e bagunçou ainda mais seus cabelos úmidos com as mãos.
-Está tudo bem para mim. -falou, com um sorriso malicioso nos lábios.
Corei e olhei para os meus pés.
-Não pense besteira disso! Só vou cuidar desse seu machucado. -falei, rindo um pouco.
Então Jake abriu um sorriso travesso e colocou ambas as mãos nos bolsos das calças jeans. Suas bochechas e seu nariz fino estavam vermelhos, devido ao frio que fazia. Seus olhos azuis assumiam um cinza misterioso, mas mesmo assim possuíam um certo brilho.
-Vou fingir que essa é sua real intenção. -falou, alisando o queixo com uma das mãos. -Mas vamos logo, é um pouco perigoso deixar o carro lá nesse horário.
Sorri um pouco e abaixei a cabeça, tentando esconder a vergonha que sentia.
Andávamos lado a lado e eu podia sentir o cheiro de Jake. Ele fumava silenciosamente, sem deixar escapar ruídos. Parecia pensar em algo que não estava ao alcance do meu entendimento. Seu coturno batia no chão molhado, produzindo um som estranho. O vento batia em algumas árvores, balançando suas folhas e tornando o ambiente ainda mais sombrio.
Depois de alguns minutos, chegamos ao pub. O estabelecimento ainda estava aberto, mas com poucas pessoas dentro. Uma música calma tocava, dando a impressão de que tudo estava acontecendo em câmera lenta. Peguei a chave em meu bolso e destranquei o carro, enquanto Jake jogava o cigarro no chão e o apagava. Era um bom automóvel. Preto e bastante espaçoso. Havia comprado há alguns meses atrás, com o dinheiro que ganhei na livraria. E com uma significativa ajuda dos meus pais, é claro.
Dei partida e dirigi para meu apartamento. Jake olhava pela janela, sonhador. Parecia examinar os detalhes de cada rua por que passávamos. Então "Like Dreamers do", dos Beatles, começou a tocar, invadindo todo o espaço do carro. Não pude evitar e abri um grande sorriso. Eu amava aquela música. Cantava sem nenhuma afinação e olhava para Jake, que me observava com um sorriso sincero. Ele parecia se divertir com aquela situação. Então começou a cantar, fazendo com que eu me calasse imediatamente. Sua voz era rouca, anasalada e grossa, tudo em um mesmo pacote. Um pacote perfeito. Ele cantava cada vez mais baixo e eu queria olhar no fundo dos seus olhos. Sentir o que ele estava sentindo, mas não podia. Precisava prestar atenção na estrada em minha frente.
-Por que proibe a si própria de tantas coisas? -se remexou no banco do passageiro, aproximando cada vez mais e sussurrando em meu ouvido.
Arrepiei e meus dedos gelaram no volante. Quase subi em uma calçada e bati o carro em uma casa vermelha. Tomei um susto e quase gritei. Meu coração batia violentamente em meu peito e eu podia sentir a respiração de Jake em meu pescoço.
-Por que faz isso comigo? -perguntei, com a um tom de voz quase inaudível.
-Você quer saber por que te seduzo? Por que mexo tanto com você? -perguntou no mesmo tom, sem desfazer daquela proximidade.
-Quero saber por que sempre me faz ficar perto da morte. -respondi, com um sorriso tímido no rosto.
-Ficar ao meu lado é como seguir o caminho para a morte. -sussurrou, roçando os lábios em meu ouvido.
Senti um arrepio quando ele falou a última frase. O que ele quis dizer com aquilo?
Então pude avistar o prédio onde eu morava. Vários carros estavam estacionados em frente, dando uma impressão de que o lugar estava cheio demais. Descemos do carro e fomos em direção ao porteiro. Ele permitiu minha entrada com Jake, mas não sem antes lançar um olhar curioso em nossa direção. Por um lado, eu concordava com ele. Aquela situação não era a mais normal de todas.
Subimos pelo elevador e chegamos no corredor que levava ao meu apartamento. Procurei as chaves na bolsa e destranquei a porta.
-Pode ficar a vontade. Eu vou pegar algumas coisas no meu quarto para tratar disso. -falei, apontando para sua barriga. Gesticulei as mãos para que ele se sentasse no sofá. Jake assentiu e literalmente se jogou no sofá. Como ele era folgado.
Fui em direção ao meu quarto e abri a porta. Estava até organizado, já que eu quase nunca ficava por lá. Só me servia para dormir mesmo. Peguei um tamborete ao lado da escrivaninha e coloquei em frente ao guarda-roupa. Subi e peguei uma caixinha de primeiros socorros que ficava na prateleira mais alta do móvel.
Tirei a jaqueta ainda úmida e coloquei estendida na cadeira para secar. Fui em direção à sala, onde Jake estava. Me olhei em um dos espelhos do corredor e reparei no quanto eu precisava de um banho.
Jake estava jogado no sofá, com as pernas abertas. Estava distraído, mexendo no celular.
-Vamos lá. -falei, tirando sua atenção da tela do celular enquanto me aproximava dele.
Então, quando estava quase em frente a Jake, ele me puxou, fazendo com que a caixinha caísse em um dos cantos do sofá. Caí em seu colo, com uma perna em cada lado de seu quadril. Ele me puxou ainda mais para perto, fazendo com que sua testa se encostasse na minha. Seus olhos brilhavam intensamente e havia um sorriso travesso dançando em seus lábios. Eu podia sentir sua respiração se colidindo com a minha. Seu cheiro tinha um pouco de perfume masculino e sua pele estava fria.
-Eu acho que precisamos resolver isso. -sussurrei, me referindo ao seu machucado, mas sem acabar com aquela proximidade.
-Eu estou bem. -sussurrou de volta, perto do meu ouvido. Suas mãos afastaram meu cabelo e eu pude sentir seu hálito batendo em minha nuca, fazendo-me arrepiar.
-Você não está bem. Está machucado. -falei, olhando em seus olhos.
-Quem se importa? -perguntou. Seus dedos longos subiam e desciam pelas minhas costas, fazendo com que eu sentisse um pequeno choque ao ter sua pele contra a minha, mesmo por baixo dos tecidos.
-Pelos meus cálculos, essa seria a hora ideal para você tirar a camiseta e fazer um curativo em mim. -disse, perto da minha boca.
-Lamento, mas seus cálculos devem estar errados. -falei, não consiguindo evitar um pequeno sorriso que se formava em meus lábios.
-Eu nunca erro. -falou, passando as mãos pela minha bochecha em chamas.
-Você é safado. -falei, com um olhar reprovador.
-Você parece gostar disso. -sussurrou,apertando minha cintura. -E você não parece preocupado com si mesmo. -retruquei.
-Não me importo com o que não deveria me importar. -falou, enigmático. -Eu deveria te beijar agora?
Suas mãos estavam firmes em minha cintura e seu nariz roçava na pele sensível do meu pescoço. Não respondi sua pergunta.
-E agora? -indagou, olhando no fundo dos meus olhos.
Eu podia sentir seu coração batendo. Eram batidas calmas. Seus olhos ardiam e transmitiam um pouco de ansiedade. Seu rosto estava a centímetros do meu. Suas mãos faziam círculos em minhas coxas.
Onde eu estava com a cabeça?


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⏰ Última atualização: Jul 04, 2015 ⏰

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