- Capitulo Três -

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— Não é possível — Dara ainda repetia a si mesma, várias vezes. Me desfiz do abraço, mesmo querendo continuar nele - Pensei que tínhamos mais tempo - terminou entrando na sala deixando a porta aberta, sabendo que não hesitaria em entrar.

O silêncio era o rei do orfanato inteiro e ele, nesse momento, me deixava ainda mais assustada.

— O que não é possível? — perguntei com a voz baixa, depois de já ter sentado na mesma cadeira de sempre — o que foi aquilo? Porque estavam gritando? — Eu ansiava por respostas, como fiz minha vida toda.

— Você sabe que sobrenatural os gêmeos são? — perguntou Dara, de maneira retórica, porque sabia que eu conhecia a resposta — Videntes. Eles gritaram porque a visão lhes causou dor, provavelmente por ser forte demais, eles são apenas crianças metade humanas, ainda não sabem como suportar. Eles recitaram uma profecia e você, e apenas você, ouviu os gritos, porque os dizeres eram sobre o seu futuro. Ela deveria ser dita para você, mas, novamente reafirmo, não acho que seja apenas essa a ligação entre vocês — Ponderou finalmente se sentando, passando as mãos pelo rosto em uma expressão cansada.

— Uma profecia pra mim? O que isso realmente quer dizer? Academia antiga? Linhagem oculta? Legado? — Soltei, como sempre fazia, milhares de perguntas que não conseguia manter em meus pensamentos — Eles vão ficar bem? — Perguntei por fim.

— Os gêmeos já estão bem, só precisam de descanso — Começou, abrindo as diversas gavetas de sua mesa, procurando algo incansavelmente — E você já tem a respostas para algumas das suas perguntas, só não se lembra delas — Terminou tirando um espelho de mão, velho e enferrujado da última gaveta que procurou.

Ela o colocou em cima da mesa, com a parte refletora virada pra baixo, seus olhos estavam fechados e sua respiração finalmente tinha se tornado calma e profunda. Seus lábios mexiam lentamente, sem que eu pudesse realmente entender o que ela balbuciava.

- O que você está... - comecei, não conseguindo terminar, sendo interrompida por um acenar leve de Dara.

Ela continuou a balbuciar as palavras até que seus olhos finalmente se abrissem e ela me encarasse, estalando os dedos impacientemente em sua frente. Virou o espelho para cima, balançou de maneira desajeitada sua mão vazia e atravessou o braço pelo vidro do espelho.

Eu descobri o meu poder há muito tempo, já havia tido várias visões. Sabia que a palavra magia não era apenas utilizada em contos da fadas, pra mim, ela era uma dura realidade. Tinha todo esse conhecimento, mas ele não impediu a minha surpresa e choque.

— Que merda é essa? — perguntei saltando da cadeira, deixando escapar a palavra que Dara sempre me repreendera de usar.

Dara não pareceu se importar e não parecia preocupada com mais nada. Parecia ocupada demais procurando algo dentro do espelho. Ela nunca havia feito nada parecido, nunca tinha usado magia alguma, pelo menos não comigo presente.

— O que você está procurando? — perguntei, sentando-se novamente, ainda assustada, deduzindo que era isso que ela estava fazendo.

Eu odiava aquele tipo de silêncio, porque não era um caso simples de perguntas sem respostas, como já estava acostumada, nessa situação parecia que a Dara relutava em da-la. Minha mente estava tão barulhenta e agitada, que os poucos minuitos que passavam, pareciam horas.

— DARA — gritei encarando-a seriamente, recebendo um olhar de reprovação. Nunca havia gritado daquela maneira, nem mesmo em meus dias mais birrentos quando criança — Desculpa, eu só quero algumas respostas e eu sei que você as tem, pelo menos uma parte delas — respondi tristemente, não escondendo as emoções ou fugindo como costumava fazer. Me permitindo ser o mais sincera e transparente possível.

Laços de Sangue - Legado & RuínaOnde histórias criam vida. Descubra agora