capítulo 14: o Adeus nunca dito

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Estava deitado na minha cama,na casa do meu pai, não me lembro como fui para ali, olhei ao redor e tudo parecia normal, como se não tivesse passado de um sonho, corro até o quarto do meu pai e ele não está lá, então desço as escadas e dou de cara com garrafas de whisky jogadas pelo chão da sala, um copo quebrado e fitas da polícia, então foi real, começo a chorar e gritar desesperadamente, sinto falta de ar...

- Noah
Josh me balança então sou acordado assutado
- o que aconteceu?
- você estava chorando enquanto dormia, provavelmente estava tendo um pesadelo
- não consigo tirar isso da minha cabeça
- eu sei...
Ele disse com uma voz, calma compreendo o que eu estava sentindo, então apenas me deu um abraço, e aquilo foi reconfortante naquele momento.

Quando levantei e fui até a cozinha percebi que ainda estávamos na casa do tio do Josh
- quando vou poder ir para casa?
- assim que a polícia liberar o local, agora toma um café, você vai precisar, hoje a tarde temos que ir ao velório,a sua família já cuidou de tudo

Sentei-me à mesa da cozinha, tentando processar tudo. O cheiro do café recém-passado trouxe uma sensação de familiaridade, mas ao mesmo tempo, tudo parecia tão estranho, tão distante da realidade que eu conhecia. A ausência do meu pai era um buraco no meu peito que só aumentava a cada momento.

- Obrigado por tudo, Josh - murmurei, segurando a xícara de café com as mãos trêmulas.

- Não precisa agradecer, Noah. Estamos juntos nessa.

O silêncio entre nós era carregado de coisas não ditas, de uma dor que ambos compartilhávamos à nossa maneira. Josh se levantou e começou a preparar o café da manhã, tentando manter um ar de normalidade. Mas nada parecia normal.

Olhei pela janela da cozinha e vi o jardim do tio do Josh, flores coloridas balançando suavemente ao vento. Lá fora, a vida continuava, indiferente ao meu sofrimento. Respirei fundo e tomei um gole de café, tentando encontrar forças para enfrentar o dia.

- Você acha que algum dia vai parar de doer? - perguntei, quase sussurrando.

Josh parou o que estava fazendo e me olhou nos olhos.

- Vai ficar mais fácil com o tempo. Mas, por enquanto, é normal sentir essa dor. É parte do processo.

Assenti, tentando acreditar em suas palavras. Precisava acreditar. O velório à tarde parecia uma montanha impossível de escalar, mas sabia que tinha que enfrentar. Precisava me despedir, precisava começar a aceitar a realidade que me foi imposta.

- Vou tomar um banho e me preparar - disse, levantando-me da mesa.

- Estarei aqui, qualquer coisa que precisar - respondeu Josh.

Caminhei em direção ao banheiro, cada passo parecendo pesar toneladas. Enquanto a água quente corria pelo meu corpo, fechei os olhos e deixei que as lágrimas se misturassem com a água. Não sabia como seria o futuro, mas sabia que precisava ser forte. Pelo meu pai, por mim mesmo.

Ao sair do banheiro, me vesti lentamente, cada peça de roupa lembrando-me do que estava por vir. Encarei meu reflexo no espelho, tentando encontrar alguma força naquele rosto pálido e abatido.

- Vamos lá, Noah - sussurrei para mim mesmo. - Você consegue.

Desci as escadas novamente, encontrando Josh à minha espera. Ele me lançou um olhar encorajador e juntos saímos de casa, prontos para enfrentar o que viesse a seguir.

O sol da tarde brilhava intensamente, mas parecia que uma nuvem escura pairava sobre todos nós. O caminho até a funerária foi feito em silêncio, cada um de nós perdido em seus próprios pensamentos. Quando chegamos, o ambiente era sombrio, a atmosfera pesada com a tristeza de familiares e amigos reunidos para se despedir do meu pai.
Ao entrar na sala, o som suave de música instrumental tocava ao fundo. Flores estavam dispostas ao redor do caixão, criando um contraste doloroso com a frieza da morte. Senti um aperto no peito, mas sabia que precisava ser forte. Josh ficou ao meu lado, oferecendo apoio silencioso.

Me aproximei do caixão com passos hesitantes. O rosto do meu pai estava sereno, quase como se estivesse dormindo. Toquei sua mão gelada, sentindo um arrepio percorrer meu corpo. As memórias vieram à tona - risadas, momentos compartilhados, a presença constante que agora estava ausente. Mas, junto com as boas lembranças, veio a amarga lembrança da nossa última briga e o fato de ele estar nessa caixão por minha culpa. As palavras ditas em raiva e nunca retratadas agora pesavam ainda mais em meu coração. As lágrimas começaram a cair novamente, silenciosas, enquanto me despedia.
Minha mãe já havia falecido há alguns meses, e a dor de perder meu pai parecia duplicar a perda.

Após o discurso do pastor, foi a vez dos amigos e familiares dizerem algumas palavras. Meu tio, a voz embargada pela emoção, contou histórias de infância do meu pai, arrancando alguns sorrisos tímidos dos presentes. Outros amigos seguiram, compartilhando lembranças e expressando seu pesar.

Após a cerimônia, fomos ao cemitério para o sepultamento. O trajeto foi feito em um silêncio respeitoso. Ao chegarmos, o caixão foi baixado à sepultura e cada um de nós jogou uma rosa, um último adeus.

Com o coração pesado, observei enquanto meu pai era enterrado. Sabia que a dor ainda estaria presente por muito tempo, mas também sabia que, com o apoio de Josh, conseguiria seguir em frente.

- vamos enfrentar isso junto Noah - disse Josh, enquanto nos afastávamos do cemitério.

Assenti, limpando as lágrimas mais uma vez. Embora a jornada de luto estivesse apenas começando, sentia que, de alguma forma, ter Josh ao meu lado, ajudaria a passar por isso.

How Did It End?Onde histórias criam vida. Descubra agora