Capítulo 15: Ecos da Culpa

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Quando a polícia finalmente liberou a casa do meu pai, voltar para lá foi uma experiência que eu não estava preparado para enfrentar. Cada canto da casa parecia impregnado com as memórias recentes, boas e ruins. Josh insistiu em ficar comigo por alguns dias, entendendo que eu não queria ficar sozinho naquele lugar cheio de fantasmas.

— Vamos arrumar as coisas aqui — disse Josh, ao entrarmos pela porta da frente. — Vai ajudar você a se sentir mais no controle.

Assenti, grato pela sua presença. Começamos a organizar a casa, tentando transformar o caos em algo habitável novamente. Josh limpava a cozinha enquanto eu arrumava a sala, tentando ignorar o vazio que parecia gritar nas paredes.

Os primeiros dias foram uma rotina de tentativa e erro, entre tentar lidar com a dor e tentar encontrar algum senso de normalidade. Josh voltara a ajudar com as atividades da fazenda, buscando uma maneira de manter nossas mentes ocupadas. Eu ajudava quando conseguia, mas a maior parte do tempo passava perdido em pensamentos, lembranças e arrependimentos.

Uma tarde, enquanto estávamos alimentando os animais, a tensão finalmente veio à tona. Josh, visivelmente cansado, derramou um balde de ração acidentalmente.

— Droga! — ele exclamou, a frustração transparecendo em sua voz.

— Calma, não é o fim do mundo — tentei dizer, tentando soar calmo.

— Você não entende, Noah — ele respondeu, sua voz subindo um tom. — Eu estou tentando manter tudo junto aqui, mas é difícil fazer isso sozinho.

Senti um misto de raiva e tristeza borbulhando dentro de mim. As palavras que saíram da minha boca foram mais duras do que eu pretendia.

— Você acha que eu não estou tentando? Estou lidando com a morte do meu pai, a culpa, e ainda tentando manter tudo em ordem aqui. Desculpe se não estou sendo suficiente!

Josh olhou para mim, sua expressão suavizando momentaneamente antes de endurecer novamente.

— Não é isso, Noah. Eu só... estou me sentindo culpado por tudo isso. Se não fosse por mim, você e seu pai não teriam brigado. Talvez ele ainda estivesse aqui.

O silêncio que se seguiu foi pesado e sufocante. As palavras de Josh ecoavam em minha mente, e eu sabia que ele realmente acreditava naquilo. A culpa que ele carregava estava nos corroendo aos poucos.

— Josh, nós dois sabemos que a morte do meu pai não é culpa sua. Ele tinha seus próprios demônios, e nossa briga foi só uma parte disso. Mas você se sentir culpado não ajuda em nada.

Josh desviou o olhar, incapaz de me encarar.

— Eu só queria que as coisas fossem diferentes. Queria que ele tivesse aceitado a gente... aceitado você pelo que é.

Me aproximei dele, colocando a mão em seu ombro.

— Eu também, Josh. Mas agora, temos que lidar com o que aconteceu. E precisamos fazer isso juntos, sem deixar essa culpa nos destruir.

Ele assentiu lentamente, mas a tristeza em seus olhos me dizia que isso não seria fácil.

Os dias passaram e a rotina da fazenda continuou, mas a tensão entre nós não diminuía. A culpa de Josh, misturada com minha própria dor, criou um abismo que parecia crescer a cada dia.

Naquela noite, estávamos sentados na varanda, olhando para o horizonte. O silêncio entre nós era pesado, carregado de coisas não ditas.

— Noah — ele começou, a voz baixa —, eu não sei quanto tempo mais posso aguentar isso. Sinto que estou me afogando nessa culpa, e não quero que isso nos destrua.

— Então precisamos encontrar uma maneira de lidar com isso. Juntos. Não quero perder você, Josh. Você é a única coisa que ainda me mantém de pé.

Ele me olhou, os olhos brilhando com lágrimas contidas.

— Eu sei. Eu só... preciso de um pouco mais de tempo para entender tudo isso. Não sei nem ao certo o que nós somos. Se somos um casal, se somos amigos... estou tão confuso, Noah.

Meu coração apertou ao ouvir isso. Sabia que a perda do meu pai havia exacerbado todas as incertezas que Josh já tinha sobre nós.

— Eu entendo sua confusão, Josh. Também estou tentando descobrir o que somos e o que sentimos um pelo outro. Mas acredito que podemos descobrir isso juntos, se você estiver disposto.

Josh desviou o olhar novamente, lutando contra as lágrimas.

— Eu preciso de um pouco mais de tempo para entender meus sentimentos e a culpa que estou carregando. Não quero magoar você mais do que já estou.

Eu assenti, sentindo um aperto no peito. Sabia que a estrada seria longa e cheia de obstáculos, mas estava disposto a enfrentar tudo, desde que Josh estivesse ao meu lado.

Na manhã seguinte, Josh decidiu voltar à casa de sua mãe por alguns dias, na esperança de encontrar algum alívio para sua culpa e confusão. Prometemos que continuaríamos em contato, e que ele voltaria quando estivesse pronto.

Enquanto via Josh se afastar pela estrada de terra, senti um vazio ainda maior. Mas também sabia que isso era necessário. Precisávamos encontrar uma maneira de curar nossas feridas e entender nossos sentimentos, antes que elas nos separassem de vez.

How Did It End?Onde histórias criam vida. Descubra agora