Aemma Arryn - 101 DC

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AEMMA ARRYN
101 DC

Minhas noites haviam deixado de ser para descanso, agora elas eram consumidas pelos meus pensamentos. 

O sono dificilmente me vinha, tinha medo de ir para o mundo dos sonhos e algo acontecer. Havia sempre uma preocupação dentro de mim em relação a Rhaenyra, eu tinha medo de fechar os olhos e o Estranho vir buscar a minha menina, minha única filha a sobreviver. 

Quando o medo se tornou tão agoniante, fiz com que o berço dela fosse mudado para meus aposentos; eu precisava saber que ela estava bem.

Eu queria aprender a duelar para protegê-la, queria ser sua protetora, queria ser capaz de protegê-la de todo o mal que existe no mundo, mas Viserys disse que eu estava sendo boba.

Foi designado um Escudo Juramentado para ela, mas não parecia ser o suficiente. Eu não queria ser uma mãe super protetora, mas o medo me corria. 

O medo fazia eu ficar acordada, mexendo nos cabelos prateados da minha menina, e cantando baixinho para ela.

Mas naquela noite, eu não estava com Rhaenyra. Eu estava cuidando de Baelon, enquanto Viserys cuidava da nossa menina. 

Baelon ficou doente na última caçada, dizia sentir uma dor muito forte na barriga e desde então, estava preso em cima da cama; nós nos revezavámos para passar a noite ao lado dele. O Rei Jaehaerys queria estar ali, mas ele estava cansado e eu podia claramente cuidar do meu sogro, e era bom para Viserys ficar com Rhaenyra, ela o alegrava. 

Já era tarde, mas Baelon não conseguia dormir; em meio às dores, ele contava histórias de suas aventuras com Vhagar, dos seus dias com Aemon e até contava sobre minha mãe. 

“Aemma… você será rainha, sabia? Uma rainha tão linda”, ele riu, “e tão esperta, mas você precisará ser forte, minha menina”

“Mas vai demorar ainda, e isso se você nomear Viserys como seu herdeiro.” 

“Não, minha querida. Não, não, não. Eu vejo! Vejo você usando a coroa do conquistador, com Rhaenyra e Daemon ao seu lado”, os olhos dele estavam fixos na parede, “estranho… Viserys não está com você, mas tem um homem… ele usa as cores da nossa casa, senta do seu lado no trono, mas não é Viserys.” 

“É apenas sua imaginação, sogro. Sempre serei de Viserys e ele se sentará no trono, ele usará a coroa do conquistador.” 

“Os deuses não mentem, minha menina. Eles estão me mostrando o futuro, para que eu possa deixar este mundo sabendo que tudo ficará bem.” 

“Você não irá agora, não diga isso”, entrelaço minha mão na dele, “você ficará aqui, verá Rhaenyra crescer, será rei, o protetor de Westeros. Há muito o que você viver ainda, Baelon.”

Ele sorriu, mas era um sorriso triste, e beijou minha mão. 

“Você será incrível, basta acreditar em si mesma. Agora, pegue um pouco de água, por favor? Estou com tanta sede.” 

Virei-me para pegar a jarra, e quando voltei, não estávamos mais sozinhos. Havia alguém ao lado de Baelon. Parecia ser um homem, a pele de um tom escuro quanto a noite, com uma textura escamosa que brilhava de maneira sinistra à luz fraca da lua. 

Eu estava paralisada, sem saber como reagir, havia um medo assombroso dentro de mim, de uma maneira que nunca senti antes. Quando ele me olhou, com seus olhos vermelhos, senti como se fosse queimar enquanto ele parecia julgar a minha alma.

“Fique tranquila, Aemma. Balerion não lhe fará nenhum mal. Ele veio por mim, não por você. Venha, me dê essa água.” 

A apreensão em mim era muito forte, mas fiz o que Baelon mandou. Enquanto ele bebia água, eu observava, ainda aflita, o ser à minha frente. Ele possuía chifres curvados projetados de sua testa, parecidos com os chifres de um dragão; ele tinha, também, asas imensas e garras que adornavam suas mãos e pés. Balerion, como Baelon chamou, usava uma armadura negra ornamentada com símbolos que eu desconhecia. 

“Não tema, menina. Não farei nada contra você, Shrykos já tem seu destino escrito, só a visitarei novamente em muitos anos.” 

“Desculpe-me, mas quem é você?”

Baelon riu, “Ele é Balerion, Aemma. Eu já disse! Ele veio me buscar, pois já está na minha hora. É uma honra ser buscado por ele e não por suas sombras, somente os devotos de verdade recebem sua visita na hora da morte.” 

“Não seja bobo, Baelon! Você não irá morrer, ainda não. Você não pode!” 

“Esse é o destino dele, menina, não há nada que você possa fazer além de lamentar. Agora acorde, futura rainha, e prepare-se, pois sua vida será longa e cheia de surpresas.” 

🦅🔥🐉
Acordei naquela manhã sem entender o que sonhei, já era difícil eu conseguir dormir, e quando dormia ainda tinha esses sonhos. Ainda deitada em minha cama, pensei em falar com Viserys, pois se realmente foi um sonho profético como os Targaryen tem, então Baelon iria morrer logo e eu… eu seria a herdeira? 

Acabei rindo com o pensamento. Nunca isso iria acontecer, mesmo que Baelon morresse agora, quem sentaria no trono seria Viserys ou Rhaenys; eu sequer seria mencionada como uma opção. Como a rainha diz, eu nasci para dar continuidade a linhagem dos Targaryen e nada mais. Apenas um útero real, a voz dela sussurrou no meu ouvido, mas nem isso você é capaz de fazer. 

Com 20 anos, oito anos de casada e somente uma filha - e uma lista gigante de perdas. Abortos, filhos natimortos, filhos que não duraram um dia ou dois. Eu não passava de uma piada na Corte. 

Mas naquela manhã, não tive tempo para lamentar minha vida, pois logo Viserys chegou e a notícia que ele trouxe fez o meu mundo desabar. 

Baelon estava morto. 

Baelon, meu protetor, estava morto.

Baelon, meu sogro, estava morto.

Morto. Baelon. Morto. Baelon.

Baelon morreu no meio da noite, com Jaehaerys ao seu lado. O sonho que tive… foi real? Baelon se despediu de mim daquela maneira? Balerion o levou? Jaehaerys foi o último a vê-lo, disseram, mas eu sabia que não; eu também tinha o visto, e no mundo dos sonhos, nós rimos e conversamos como se nada estivesse acontecendo. 

Lembro de chorar, de soluçar agarrada em Viserys; eu estava com tanta dor, eu estava sofrendo tanto. Baelon foi o melhor tio que tive, ele me protegeu dos sussurros da Corte, ele agia como se eu ainda fosse a pequena Aemma que ele conheceu. Baelon me tratava com respeito, ele confiava em mim, ele cuidava de Rhaenyra quando eu estava debilitada por causa das inúmeras gravidezes. Ele a levou para o seu primeiro voo em Vhagar, e agora minha pequena menina ficaria sem o avô. 

Não lembro de me vestir, não lembro de pegar Rhaenyra, não lembro de nada além dos gritos de Alysanne, do rosto vermelho de Jaehaerys, do aperto de Viserys, do desespero de Daemon, das perguntas da Rhaenyra, e tudo isso não passava de um borrão na minha memória. 

Confesso que não lembro de muitas coisas do velório e do que se passou depois, a dor em mim era muito extrema para que conseguisse focar em algo além do sentimento de perda. 

Contudo, não foi possível lamentar muito, logo os abutres estavam em cima do rei e tudo que as pessoas queriam saber era “quem será o novo herdeiro?” 




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