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Os dedos do presidente do grêmio tamborilavam sobre a mesa fria de madeira na sala de reuniões, Donghyuck estava sozinho e meio perdido num emaranhado de pensamentos irritantes — eles não pararam nem por um segundo dentro do colégio.

— Hyuck. — Mark o chamava do outro lado da porta, já preocupado com a demora de resposta. — Eu juro que vou enfiar meu pé nesta porta.

Ele ameaçou uma última vez, com a voz suave demais para algo do qual o Lee de pele morena sabia muito bem que ele iria fazer. Por isso se ergueu num susto suspirado bem forte, arrancando da mesa pastas e uma apostila, com suas unhas curtas arrastando firme na madeira.

— Que inferno! Você não se comporta!? — resmungou, finalmente se retirando daquela sala e caminhando com o nerd estrangeiro até a biblioteca.

Duas semanas. Mark e Donghyuck de repente se viram próximos demais por conta de um trabalho em duo. Haechan era ocupado demais com suas responsabilidades dentro do grêmio estudantil, e Minhyung vivia dentro de sua própria bolha ignorando o resto da escola e perturbando Donghyuck sempre que podia — e quando não tinham pessoas olhando. Os dois rapazes não se davam bem.

Mas isso não era um motivo válido para Mark não perceber a mudança repentina no outro. Na primeira semana, soube que rolaria uma grande festa com universitários na casa de Jaehyun, alguns alunos queridinhos do último ano iriam ser convidados para ir, Donghyuck foi um deles. Então em alguns dias ele estava viajando em nuvens, suspirando apaixonado escorados em livros de anatomia como se eles fossem românticos, olhava muito para o celular, mas não digitava nada, respondia suas provocações animado e disposto.

Na segunda semana ele se esqueceu completamente de como digerir palavras simples. Parecia lento demais com pensamentos, estava calado, pensativo, um pouco ansioso pois voltou a morder as pontas de seus dedos com frequência e não respondia suas provocações. No dia anterior, Mark o encontrou no terraço da escola e o perguntou "não vai se matar, né?". Gostaria que Hyuck desabafasse consigo, mas tudo o que recebeu foi uma garrafa térmica voando em sua direção.

— Tomou um fora? — Mark chutou o balde, resolvendo perguntar algo que ele próprio achava muito improvável. — Fecha logo o livro, você nem tá trabalhando em nada.

E era verdade, o Lee só conseguia enxergar letras e letras embaralhadas.

— Antes fosse. — respondeu, vendo os olhos pretinhos e redondos do canadense se abrirem em surpresa. — Não quero prolongar o assunto.

Se ergueu, fazendo o outro rapaz levantar também. Os passos até o portão do colégio foram silenciosos tanto quanto suas bocas.

— Temos que acabar logo com esse trabalho, Donghyuck. Você sabe que é importante pra mim... Assim como também é pra você. — o olhou de baixo para cima, algo comum que ele sempre fazia, não chegava a ser grosseiro. — Você é inteligente também, odeio dizer que já competimos por notas antes e quem levou a melhor foi você. Mas, agora estamos juntos nessa e seria bom se você se concentrasse... Hyuck!?

A pele morena de Haechan se destacava no sol de fim de tarde, ainda que fraco, o dava um contraste dourado e vivo. Seus olhos não se moviam, pareciam tímidos e desorganizados mirando um ponto fixo do enorme portão. Mark pôde ver, era um grupo pequeno de universitários, conhecia um ou dois daquele meio, mas nunca foi próximo. A tacada final foi perceber que um cara alto passou a olhar seu colega de classe com os olhos surpresos e meio indecisos.

Fora? Uma ova. Sungchan deveria ter ignorado Donghyuck durante aquela festa toda, ele não era do tipo que ficava com homens mais novos do que si. Disso Minhyung sabia, não o conhecia, mas Johnny era um grande amigo do garoto de cabelos castanhos e tatuado. E Haechan nunca precisou cantar ninguém, ele é famoso, desejado, e ridículamente medroso para dar flertes em outras pessoas, principalmente em um cara tão mais velho. Porém era óbvio, ele estava afim, e agora, Mark não tinha certeza se Jung realmente não o queria.

Porém, ele não falou mais nada. Apenas encarou Hyuck uma última vez e o puxou pela camisa do uniforme, levando-o para voltar a andar.

— Amanhã. — o avisou. — Não se atrase. — fitou seus olhos com o cenho franzido de irritação.

O Lee assentiu, voltando a piscar os olhos meio envergonhado.

— Relaxa, a gente termina rápido. — confirmou, dando dois tapas sobre o ombro do loiro, saindo de sua vista ao que o carro de sua mãe chegou para buscá-lo.

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