Capítulo 1 - Imprevistos acontecem

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5:58h.
Esbravejei ao olhar a tela do celular e me dar conta que eu ainda poderia ter dois minutos de sono que foram perdidos pela simples ansiedade de uma entrevista de emprego. Levantei.
Hoje definitivamente seria um daqueles dias deliciosos para estar na cama. Choveu fino a noite inteira e a temperatura não está acima dos 15ºC. Um pesadelo de frio para qualquer carioca. Olho para a roupa que separei ontem antes de dormir e ensaio na minha cabeça todas as respostas perfeitas.
Estou no último semestre da faculdade de engenharia de software e acredito que todos os meus colegas de curso sonhem com essa vaga. Fiz a primeira prova há quase um ano, trimestralmente os concorrentes foram ficando para trás após provas cama vez mais específicas. Ha aproximadamente um mês recebemos o resultado da última lista de aprovados com apenas três concorrentes e, ao invés de uma nova prova marcada encontramos no e-mail um endereço com horário para uma entrevista presencial.
Nunca estive tão nervosa na minha vida. Tomei um banho quente e sequei bem os cabelos ondulados para que não me façam passar frio. Estou pronta depois de apostar em uma maquiagem leve.
Coloquei uma calça creme clara de alfaiataria, uma camisa branca de manga longa com um coletinho de tricot com detalhes em rosa clarinho e creme combinando com a calça. Joguei um casaco por cima para não chamar tanta atenção e parti.
São 7:10h. Estou no horário certo para sair de casa. Peguei minha bolsa, enfiei meu celular o mais escondido possível para entrar no ônibus lotado.
Enfiei minha cabeça entre as mãos quando percebi que esse ônibus passaria por um local de obras no centro da cidade. O transito ja está caótico. Coloquei meu fone de ouvido para poder me distrair do nervosismo.
Lá pela terceira música finalmente já conseguia respirar.
Foi quando o burburinho no ônibus começou. Tirei um dos fones para poder entender melhor.
—Estão vindo nessa direção? — pergunta uma mulher histérica que parecia branca como uma folha de papel.
— Todo mundo pro chão, gente! — o motorista aconselha já desligando o ônibus e minha adrenalina que já estava alta, multiplica-se. Os passageiros começaram a gritar para que o motorista abrisse a porta, mas ele não o fazia. Alguns pularam pelas janelas e saíram correndo na direção oposta a que íamos. Puxei meu outro fone da orelha e preferi abaixar.
Tanto dia para acontecer isso e vai acontecer logo hoje...
Dentro do túnel e com o ônibus desligados, pude ouvir claramente os gritos e buzinas das motos que conseguiram voltar pela contramão.
Meu coração quase saiu pela boca quando ouvi as sirenes de policia de aproximando. Me apavora a possibilidade de um tiroteio.
É quando meu celular desperta alertando que ja são 8:30h. Falta uma hora para minha entrevista. Tenho certeza que se eu ficar aqui não vou chegar a tempo, apesar de nao ser tao longe. Uns 40-50minutos de caminhada na chuva. É a chance da minha vida. Não vou desperdiçar.
Fiz igual aos doidos da janela e pulei. A voltei correndo ate a saída do túnel e peguei a rua mais curta para chegar na minha entrevista. Eu devia ter trazido um guarda-chuva, está chuviscando e so o que eu tenho para me proteger é meu casaco. Apertei o passo para não me atrasar. Ja estava quase correndo quando avisto o grande prédio na próxima esquina. Respirei fundo.
São 9:24h. Vai dar tempo.
Parei para esperar o sinal abrir enquanto enfiava o celular de volta na bolsa.
— Perdeu. Perdeu! — PUTAQUEPARIU!
Tomei um susto com o moleque que enfiou a mão na minha bolsa e eu segurei sua mao na tentativa de proteger o aparelho, mas acabei sendo empurrada e caí no chão sentada sem meu celular.
Dei um berro de raiva e corri para dentro da empresa.
Estou com a borda da calça imunda. Um corte na perna que não percebi, a bunda suja de lama. Cabelo molhado e a maquiagem mais foi embora do que sobrou. Tirei o casaco e enfiei na bolsa com o fecho arrebentado para ficar um pouco mais apresentável.

— Oi! Bom dia.Eu tenho uma entrevista. — Dirijo a palavra para a secretária. A mulher me encara dos pés a cabeça, mas não tem tempo para me responder e uma voz masculina vem de cima dos meus ombros.

— Você está atrasada.

Indulge in temptation - PT/BROnde histórias criam vida. Descubra agora