Capítulo 2 - Atrasada

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Quando me virei pude ver um homem pelo menos 20cm maior do que eu com um semblante fechado. Ele tem olhos azuis elétricos, cabelos brancos penteados para trás, a barba tão bem feita que nem consigo ver a sombra. Sua pele é branca praticamente albina e possui o porte físico de um endomorfo a ponto que o seu blazer está levemente apertado perto dos ombros. Sinto imediatamente um frio na barriga, como se estivesse frente a frente com alguma especie de deus grego ou algo assim. Ele realmente se porta como um ser inalcançável.
— ahn... Desculpe. Tive alguns imprevistos no caminho. — Respondo com o pouco de ar que restou nos meus pulmões e fazendo uma força absurda para não gaguejar na sua frente.

— Dois minutos. — Ele nem parece ter ouvido o que falei. Comenta o tempo que me atrasei olhando no próprio relógio que deve valer mais do que meu rim. — Vamos até minha sala.

Ele faz algum tipo de sinal para a secretária e caminha pelo longo corredor esperando que eu o siga.
Eu queria ver tudo. É como um parque de diversões para mim. Passo por diversas portas entre-abertas e tento olhar dentro de cada uma delas para pelo menos ter um gostinho. Ele entra em um elevador e vou logo atras. Apertou o andar  C, sem duvidas se trata da cobertura.

Ao chegar, parecia que realmente estavamos no céu. É o ponto mais alto em muitos quilômetros, consigo ver toda a cidade a partir dessas janelas imensas de vidro. Ele vai ate a mesa principal e se senta, deixando a cadeira da frente para mim.

— Pois bem. Iris Salles. Sou Elion Ozzy, o responsável por toda empresa. — Nunca ouvi meu nome em uma voz tao aveludada. — Em que você acha que pode auxiliar na empresa? Quais são seus maiores interesses e defeitos?

Tento abstrair um pouco do fato de estar frente a frente com o dono da "Raisins" e focar nas perguntas que tanto ensaiei para responder quando estivesse na entrevista.

— Eu sou extremamente dedicada e comprometida com o trabalho. Tenho ótimas notas na disciplina de criação de softwares inclusivos...

Consegui expor grande parte do que eu tinha treinado ha dias, mesmo me enrolando em algumas palavras por causa do nervosismo. Assim que termino minha fala, ele para de anotar e levanta os olhos, me encarando tao profundamente que me senti nua. Seus olhos vidrados nos meus me magnetizam a ponto que perdi as palavras.

— Entao voce não considera a falta de pontualidade seu ponto fraco... Interessante.

— Foram imprevistos. E foram só dois minutos. — Respondo um pouco mais arrogante do que deveria.

— ok. Terminamos por aqui. — Ele fecha o caderno e coloca os dois cotovelos em cima da mesa, apoiando o queixo nas mãos. — O responsável entrará em contato em até 12 horas caso seja aprovada.

Concordo com a cabeça, já com ciência de que nunca mais voltarei aqui. Levanto e vou andando até a porta.

— Obrigada pela oportunidade, e ah! Já ia me esquecendo. Estou sem celular, fui roubada. Posso deixar o número da minha vizinha? É ddd 21, 95// — paro de falar quando sinto seus olhos sobre mim, novamente reparando em absolutamente tudo.

— Deixe na recepção. Caso seja aprovada, venha com roupas limpas.

Estúpido. Mantenho o sorriso e saio sozinha até o elevador odiando ate o último centímetro da existência desse dia de merda. Corro para apertar o botao e por minha sorte a porta abre. Dentro tem um homem de terno preto. Seus olhos são pretos e sombrios, mas ao me olhar ganham um tom discretamente sarcástico. Seus cabelos são desalinhados e batem no ombro. Sua barba está discretamente cerrada, o que deixa seus lábios ainda mais desenhados.
O tom sarcástico de seus olhos desce até a boca, mostrando um sorriso de dentes alinhados e caninos ligeiramente ponteagudos.

— Pelo jeito passou um caminhão em cima de você. — Sua voz é rouca, mas mesmo assim me dá a sensação de que ele está querendo rir da minha cara.

— Quem me dera. O dia não está nem na metade e foi terrível. —Respondo reativa.

— Que trágico. —comentou quase revirando os olhos de tédio, mas assim que seus olhos voltaram para a posição que deveriam pararam sobre mim. Meu corpo respondeu na hora. Senti minhas bochechas quentes e por um instante esqueci de respirar.

A porta do elevador se abre de repente e sinto constrangida de como se estivesse fazendo alguma coisa realmente errada ali. Ele da um pequeno sorriso e cruza os braços, é como se tivesse percebido o efeito que causou no meu corpo com um simples olhar.

—Vai ficar no elevador para sempre? Chegou seu andar.

Indulge in temptation - PT/BROnde histórias criam vida. Descubra agora