Indulge in temptation - PT/BR

Capítulo 3 - Cumplicidade

— E o que você respondeu?? — minha melhor amiga pergunta se jogando na minha cama com um punhado de pipoca na boca.

— Nada! Só saí do elevador e deixei ele para tras. Nem olhei se ele saiu ou não.

Jade é minha melhor amiga desde os tempos de escola. Nós vivemos o ensino médio juntas e quando a escola acabou e sua mãe a expulsou de casa aos 17, ela alugou um quartinho ao lado do meu. Somos praticamente irmãs. Jade é negra, possui tranças nos cabelos, que agora estao num tom claro de castanho. Seus olhos sao lindos, amendoados e bem marcados. A grossura de seus lábios deixa seu rosto ainda mais harmonioso e com um 'quê' de sensual que eu sempre quis.

Ela sempre fez muito mais sucesso entre os homens do que eu, mas eu sempre percebi que seu real interesse é pelas mulheres apesar de nunca termos falado abertamente sobre isso. Inclusive, desconfio que esse seja o motivo secreto que a levou a ser expulsa de casa.

— Mas você nem sabe o nome dele?!

— Vou chamar de M.M., o moreno misterioso. Eu ja procurei até no perfil da empresa, mas ele simplesmente parece um fantasma. — estico o braço para alcançar o balde de pipoca e termino de falar já com a boca cheia — Nao tem nada que marque ele, ele nem mesmo segue o perfil!

— Você é uma excelente stalker, amiga. Se não encontrou é porque não existe.

— Eu passei os dois últimos dias procurando, mas talvez o M.M. nem trabalhe por lá. Talvez tenha ido para alguma entrevista também, ou visitar... — Enfio meu rosto nas mãos de tanta frustração.

— Esse é o tipo de cara que você daria sem pensar duas vezes. — sinto meu rosto arder e agradeço a tudo que é mais sagrado por estarmos em meia luz, apenas com a claridade da tela inicial da Netflix parada.

— Tem aquele jeito de cara mau que eu adoro! Agora nunca mais vou voltar la e perdi a chance de conhecer e ser conhecida mais profundamente do moreno misterioso.

— Ei! Não diz isso! Vão te chamar, com certeza. — Diz Jade me interrompendo com seu otimismo desenfreado de princesa da Disney.

— Se eu tivesse entrado, tinham me ligado na segunda, Jade. Hoje ja é quinta-feira. O chefão não me escolheu porque aparentemente meu senso de moda nao combina com o dele.

— Com certeza são eles que estão perdendo se não te contratarem. É a mais capacitada de longe.

Dou um sorriso amarelo lembrando do estado que cheguei na entrevista: roupa imunda, cabelo molhado e com a calça suja de un corte que devo ter feito fugindo do ônibus para chegar na entrevista ridícula dele a tempo. Claro que a aparência importa muito para o Elion e tenho certeza que é ele quem decide quem entra ou não na empresa.

— O que fez minha entrevista também era bem charmoso, mas um estupido de carteirinha. Reclamou que eu atrasei dois minutos depois de tudo o que eu passei para chegar la! E outra, quando eu falei que fui roubada ele nem lamentou. Não deve nem saber o que é isso.

Claro que Elion não tem o mesmo magnetismo do moreno misterioso, poucas pessoas no mundo tem. De qualquer forma ele é enorme. O braço do chefe é maior do que minhas coxas.

— Esse tipo de cara só sai de carro blindado e cheio dos seguranças. Nao sabe o que é passar perrengue. — Ela senta na cama interessada. — E agora? Quais sao os planos?

— Terminar a faculdade e tentar implacar meu projeto de acessibilidade para o governo ou alguma empresa menor. E os seus? — Pego o controle da televisão para escolher a serie que vamos começar hoje.

— Eu terminei meu projeto do aplicativo de musica. Só falta mesmo um patrocínio bom e as propagandas nas redes sociais.

Ela deita no sofá e eu me ajeito com as cobertas da cama. Hoje esta tao frio quanto estava no dia da entrevista. Tive sorte de chegar relativamente seca da faculdade. Coloco uma das series que estão em alta, mas assim que a serie começou a rolar o som estridente do toque de celular de jade nos trouxe de volta à realidade.

— Se for aquele seu ex babaca manda logo um bloqueio. — Resmungo pausando a serie dentro dos seus 2 minutos iniciais.

Ela revira os olhos e atende no tom mais tedioso do universo, mas logo que a pessoa do outro lado fala alguma coisa, ela abre um sorriso.

— Uhum... — aperto os olhos a ouvindo concordar com tudo que a pessoa falava do outro lado. — Nada! Claro. Eu aviso sim. Obrigada. Boa noite!

Ela coloca o celular de lado e abre o maior sorriso do mundo para mim.

— Você começa amanhã, Iris! Eu sabia! Te deram a vaga!