Capítulo 9: Desentendimentos e Confrontos

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No dia seguinte ao nosso encontro mágico no parque, acordei com um sorriso no rosto e o coração leve. Heitor e eu havíamos passado a noite juntos, e tudo parecia perfeito. Mas a vida tem um jeito estranho de nos lembrar que nem tudo é sempre como esperamos.

Acordamos tarde, ainda nos acostumando à nova intimidade entre nós. Ele estava adorável, com o cabelo desgrenhado e um sorriso sonolento. Passamos a manhã juntos, fazendo um café da manhã preguiçoso e trocando carinhos.

"Luccas, esqueci de te falar, hoje à noite tem a festa do Miguel Villar. Ele é um amigo próximo e gostaria que você fosse comigo," disse Heitor, enquanto colocava mais café na minha xícara.

"Eu não conheço nenhum dos seus amigos, Heitor. Tenho medo de não ser bem aceito," respondi, a insegurança crescendo dentro de mim.

"Relaxa, vai ser tranquilo. Eles vão te adorar," garantiu ele, com um sorriso confiante.

Passei o resto do dia me preparando mentalmente para a festa. Não era fácil para mim entrar em um ambiente desconhecido, especialmente sabendo que poderia enfrentar olhares e julgamentos. Mas Heitor estava ao meu lado, e isso me dava alguma confiança.

À noite, chegamos à casa de Miguel. A música estava alta, e as risadas e conversas preenchiam o ar. Heitor me apresentou a alguns de seus amigos, e por um momento, tudo parecia estar bem. Mas logo percebi que algo estava errado. Os olhares que recebia não eram amigáveis, e os sussurros aumentavam à medida que eu passava.

Depois de algum tempo, me afastei um pouco, tentando encontrar um lugar mais tranquilo. Foi quando ouvi a conversa. Estavam todos em uma rodinha, Heitor incluído, e falavam sobre alguém que claramente era eu, mesmo sem mencionar meu nome.

"Ele é tão estranho, sério. Como o Heitor pode gostar de alguém assim?" disse um dos amigos de Heitor.

"Eu simplesmente não aceito isso. Ele não se encaixa com a gente," concordou outro, fazendo os outros rirem.

Heitor estava ali, no meio deles, e não disse uma palavra para me defender. Pelo contrário, ele apenas ria junto com os outros. A raiva e a dor cresceram dentro de mim, mas eu precisava ouvir mais.

"Tudo nele é esquisito. Parece que está sempre deslocado," continuou outro amigo, rindo.

Eu sabia que estavam falando de mim. As palavras me cortavam como facas, e eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Decidi sair dali antes que a dor se tornasse insuportável. Quando me virei para sair, Heitor me viu e correu atrás de mim.

"Luccas, espera! Onde você vai?" ele perguntou, puxando meu braço.

"Você sabe muito bem para onde vou, Heitor. Longe daqui, longe de você," respondi, tentando me soltar.

"Vamos conversar no quarto, por favor," ele insistiu, me puxando para um quarto vazio na casa de Miguel.

Assim que a porta se fechou, a discussão começou.

"Como você pôde, Heitor? Eles estavam falando mal de mim, e você não fez nada! Você riu junto com eles!" gritei, a raiva borbulhando.

"Luccas, você está entendendo errado. Eles não estavam falando sobre você," ele tentou explicar.

"Não me trate como idiota, Heitor. Eu sei que estavam falando de mim. Os olhares, as risadas... Tudo isso era sobre mim," eu disse, a voz trêmula de frustração.

"Por favor, Luccas, eles não queriam te machucar," ele continuou, mas eu não estava mais ouvindo.

" Enquanto você criava novos universos, onde eu estava? Onde está aquele que protegia meus momentos difíceis? Você era meu tudo, agora só quero vocême deixe em paz." eu disse, as lágrimas começando a escorrer pelo meu rosto.

"Luccas, você não entende. Eu estou tentando equilibrar tudo isso. Eu gosto de você, mas também são meus amigos," ele disse, desesperado.

"Você não tem o direito de me falar que se sente mal. Eu te fiz de meu templo, para você me jogar fora como um papel amassado?" eu gritei, minha voz ecoando pelo quarto.

Heitor ficou em silêncio, as palavras parecendo finalmente penetrar. Ele tentou me abraçar, mas eu me afastei, ainda com raiva e machucado.

"Você assume que estou bem, mas o que você faria se eu quebrasse e deixasse tudo em ruínas? Se eu tirasse essa adaga de mim e a removesse? Acredita em mim, eu poderia fazer isso," eu disse, a voz fria e dura.

"Luccas, por favor, não faça isso. Eu te amo," ele disse, sua voz quebrando.

"Você não tem ideia do que é passar por isso. Dizer que não era sobre mim, mas e se fosse? Então dizer que eles não fizeram para me machucar, mas e se fizeram? Você quer fazer oque? Vamos todos fazer mas uma piadinha até eu chorar?" continuei, sentindo a dor e a raiva se transformarem em uma muralha entre nós.

Ele ficou lá, imóvel, enquanto eu saía do quarto. As lágrimas caíam livremente agora, e eu não me importava quem visse. Precisava sair dali, precisava de ar.

Voltei para casa sozinho, a mente girando com tudo o que havia acontecido. As mensagens de Heitor começaram a chegar logo depois, mas eu não queria responder. Não conseguia. Estava machucado demais para sequer pensar em falar com ele.

Passei o resto da noite deitado na minha cama, relendo as mensagens, mas sem força para responder. As palavras dele pareciam vazias agora, sem o peso que tinham antes.

"Luccas, por favor, me responde. Eu preciso falar com você."

"Me desculpa, eu não queria que fosse assim."

"Eu te amo, Luccas. Por favor, vamos conversar."

Mas eu não conseguia. Tudo parecia ter desmoronado em um instante, e eu precisava de tempo para entender tudo isso. Precisava de tempo para mim.

Fechei os olhos, tentando encontrar algum conforto no silêncio do meu quarto. O amor que eu pensava ter encontrado parecia mais distante agora, e tudo o que restava era a dor.

Eu sabia que eventualmente precisaria falar com Heitor, mas naquele momento, eu só queria ficar sozinho. Precisava entender meus próprios sentimentos antes de poder lidar com os dele.

Através Das Palavras (I Love You Its Ruining My Life)Onde histórias criam vida. Descubra agora