A saga de Hoff Bladeham

Cap 5 - Na noite mais escura

 A lua minguante iluminava fracamente com seu brilho prateado as ruas de Goldenday. Hoff rezou a Máni, vestiu seu manto marrom, que cobria-o da cabeça aos pés, embainhou os machados, fez com que ficassem por cima do manto – Queria mostrar que estava armado – o plano do ferreiro para passar despercebido na noite era diferente de quando o decreto do toque de recolher não existia, antes era melhor andar apressado, não olhar muito para os outros e se esconder, agora qualquer um que tente andar às pressas iria chamar muita atenção, tentaria agir naturalmente. Hoff se passaria por mercenário. 

 Trajou Bronze Quente, uma ombreira de ferro no ombro direito, grevas pesadas, luvas grossas, calças acolchoadas e por fim uma tira de couro que passava por sua nuca e testa. Imaginou que iria servir, o berserker era alto, muito alto, então se o vissem como mercenário possivelmente não seria incomodado.

 Saiu da forja, as ruas estavam vazias, ao longe nos muros era visível os semblantes de guardas fazendo guarita, nas torres de vigia arqueiros ficavam a postos, nas ruas não existia quase ninguém, poucos homens perambulavam, normalmente em grupos de três ou quatro, os que ficavam sozinhos eram os mais mal encarados, exalavam perigo. 

 Se desviava da rua principal que ficavam os comércios, viu uma taverna aberta, pensou em entrar e pedir algo na tentativa de melhorar seu disfarce, porém era um risco inútil pela chance de alguém o reconhecer. Conhecia muito bem Goldenday, as ruas da cidade eram um mapa em sua cabeça, sabia dos becos sem saída, atalhos, zigzags – Sua infância era repleta de fugas.

 Hoff conforme caminhava foi reparando mais ao seu redor, a decadência parecia gritar pelas paredes, o vento sussurrava trazendo o cheiro de mofo e abandono, muitas casas haviam sido abandonadas, a maioria se tornou um tipo de depósito ou então dormitório, sujas e caindo aos pedaços, a infraestrutura da cidade era bruta, não parecia de forma alguma que pessoas viviam e trabalhavam ali. Os únicos sons audíveis eram os ecos distantes de passos furtivos, as escarradas ecoando pelas vielas estreitas e vozes miúdas como lamentos fantasmagóricos. 

 A madeira das casas enegrecidas pelo tempo e falta de manutenção, muitas janelas cobertas por tábuas grosseiramente pregadas como se os moradores temessem a luz que poderia entrar em seus lares sombrios, às pintura descascadas, revelando cicatrizes do passado – testemunhas silenciosas dos tempos turbulentos que assolavam a cidade.

"Essa é Goldenday..."

 Hoff sentiu um peso em seus ombros. Demorou, mas finalmente chegou à frente da pousada D'ouro. Entrou, Magna estava na recepção, o atendimento foi exatamente como todos os outros, visualmente o lugar não parecia ter mudado em nada, porém estava extremamente mais silencioso, mal havia som dos quartos. Hoff chegou no esconderijo de Rep e abriu a porta. Escuro e silencioso, até aquela voz arrepiante cortar o silêncio.

– "Você é retardado por acaso?" – Parecia claramente irritado.

 Hoff já estava pegando uma vela e a pederneira, acendeu e respondeu:

– "Você sabe que eu sou, além do mais eu..." – Parou de falar assim que viu seu irmão. 

 Rep não estava vestido como sempre, costumava trajar roupas simples, igualmente a um camponês, – Não havia motivo para ele se manter arrumado – mas agora estava diferente, vestia uma jaqueta grossa de couro escuro, duplas de facas embainhadas na própria jaqueta na região das costelas, mangas até o pulso com facas no antebraço, capuz que tapava sua cabeça inteira, cinturão com mais facas, grossas calças de couro marrom escuro, botas impermeáveis, sua enorme espada enrolada em tecido acinzentado e colocada nas costas, havia cortado a própria a cauda pois não conseguia escondê-la e a mesma estava jogada no canto da sala junto com o instrumento de corte ensanguentado.

 Essa roupa Rep quase nunca usava, a quimera de Goldenday apesar de cuidar da estalagem também era um caçador, e raríssimas vezes ele saia. O único morador que Hoff conhecia que conseguia se esgueirar para fora da cidade, era seu irmão, e ele apenas o fazia quando necessitava muito.