Capítulo 8: A Bergsrá

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— Você disse o quê?... — Johanna não acreditava nas palavras da bruxa à frente, iluminada pelos relâmpagos que atingiam Trolberg. Suas pernas tremeram e pesaram, fazendo-a se senta na cadeira e fitando Frida com olhar intenso e preocupado. Baba, que estava escondida e olhando as duas, ofegou preocupada e continuou a ouvir calada — Fr-Frida... eu não estou gostando dessa brincadeira...

— Johanna, você sabe que eu nunca faria piada com algo assim, principalmente sobre ela... — sua feição séria já era o suficiente para Johanna, mas foi com tais palavras que a mulher começou a tremer. Às mãos frente aos olhos, Johanna estava tendo dificuldade para se controlar e foi necessário Frida lhe trazer um copo de água para que começasse a respirar calmamente. Alguns segundos antes, porém, de relance viu Frida movimentar uma das mãos antes de parar e suspirar "ah é, havia esquecido isso". — Junto de David, vou me esgueirar pelas defesas da cidade até fora dos muros. Ele conseguiu autorização para atuar fora dos muros após completar seu curso preparatório; na verdade ele está ali embaixo me esperando.

Isso era bom demais para ser verdade, não podia estar acontecendo. Devia estar sonhando; é isso! É um sonho; mas mesmo que fosse, por favor, deuses, não me acordem...

— Frida... — sua voz tremulou, — eu não tenho palavras, eu... Você tem certeza? Não dê falsas esperanças para essa velha mãe... — Sua feição finalmente voltou a algo menos assustado. — Meu coração não aguenta mais... — o olhar cabisbaixo de Johanna foi o bastante para fazer Frida recuar. Não sabia se realmente funcionaria; não sabia se iria terminar como da última vez, se realmente estava apenas dando falsas esperanças a uma mulher que talvez fosse optar pelo abraço de Helgeisten se realmente fosse impossível achar sua filha.

— Eu tenho certeza. Eu lhe prometo — Frida segurou a mão de Johanna com força, — que trarei ela de volta. Você poderá finalmente viver em paz com suas filhas; só... por favor, tente ver que Baba não é a culpada por isso. Não coloque a culpa do desaparecimento de Hilda na garota — Baba sentiu um arrepio em sua espinha: estavam falando dela e sobre o desaparecimento de sua... não; não era sua irmã, não era da família. Nunca fora. A grande garota continuou ouvindo, seu coração quase à garganta.

— Frida... eu tento, e tento tanto... mas quando vejo aquela garota, eu... eu não consigo ver outra pessoa senão sua mãe — Johanna choramingou. O coração de Baba pareceu parar e sua respiração congelou. Sua mãe... — Há horas em que seus olhos parecem idênticos aos daquela troll. Olhos tão calmos, tão aconchegantes, mas o que ela fez comigo e com Hilda... como poderia ver sua filha diferentemente? Eu me odeio por ter esses pensamentos, pois quero amar aquela menina. Ela é uma garota tão bondosa, tão prestativa e com um coração tão grande, e, mesmo depois de tudo, ela ainda vai além de seus limites para me ajudar — Baba já não tinha forças para chorar, mas ouvir isso de sua mãe; ou melhor, de Johanna, foi como uma facada em seu coração. Johanna se cansara dela fazia anos, mas não tinha forças de mandá-la embora. Bem, estaria prestes a mudar isso hoje. Baba ouviu o que queria das duas e voltou ao quarto, agora mais determinada do que nunca.

— Eu não vou deixar você falar assim da garota! — a voz vociferada de Frida assustou a mãe. — Ela não tem culpa do que aconteceu e você tem que fazer um esforço para aceitar isso. Será difícil, eu sei, mas ela não merece receber esse tratamento apenas por conta de seu trauma — a súbita mudança de Frida foi como um banho de água fria que ela precisava em tantos anos. Deveria dar ouvidos ao que Frida tem a dizer. A mulher quer não somente o bem de Johanna, mas o de Hilda e o de Baba também. Tinha um trabalho sustentável agora; a perna de Baba parecia ter melhorado e assim, poderia lhe ajudar com os afazeres de casa, mas não era para isso que Baba servia. A garota estava crescendo e deveria aproveitar sua infância o máximo que conseguia, mas ainda havia partes dela que mesmo que tentasse com todas as suas forças, talvez nunca a veria com outros olhos. Tentaria, porém, mudar isso, Hilda voltando ou... não. — Olha, quando tudo isso terminar e sua filha estiver contigo, por favor, tente procurar um profissional para conversar sobre o que você passou... Eu conheço uma boa psicóloga que consegue fazer milagres e vocês provavelmente até já se conheceram antes; ou melhor... — Frida se levantou da cadeira e pôs seu poncho de chuva à porta, — você já conheceu sua mãe.

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⏰ Última atualização: May 27 ⏰

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Hilda e A Mãe de TodosOnde histórias criam vida. Descubra agora