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Leda: Filha? - disse assim que eu bati na porta e ela atendeu.

Yanca: Oi.

Leda: Quanto tempo, que saudades... - me abraçou. - Entra! - já me arrastou pra dentro.

Casa da minha mãe parecia a mesma, tudo no mesmo lugar, ao mesmo modo de quando eu ainda dormia aqui!

Papo reto, as paredes riscadas do Yan Carlos, por causa que meu irmão risca tudo, ele pinta muito com a cara da minha mãe.

Ele é mais Velho que eu, mas nem parece. O meu irmão é atípico, então a mentalidade dele é quase que de criança.

Leda: Olha quem tá aqui... - falou e quando ele me viu, parou de assistir e ficou me encarando.

Já tinha um tempo que a gente não se via, eu tinha visto a minha mãe a última vez no shopping, mas ele? Acho que não vejo desde que saí de casa para morar com a Amanda.

Yanca: Oi, Carlinhos. - acenei pra ele, com todo cuidado. - Lembra de mim não?

Carlinhos: Yanca... minha irmã. - eu sorri.

Yanca: Posso te dar um abraço? - ele assentiu e eu fui até ele o abraçando. - Que saudades, cara! - ele ficou calado.

Carlinhos: Desenho, olha... - me amostrou.

Fiquei conversando com ele, mas ele sempre retraído, as vezes me encarava cismado. A minha mãe tava toda boba olhando, mas também curiosa com o que eu vim fazer aqui.

E na verdade nem eu sabia, sabe? Eu tava uma confusão que só esses dias, tava tentando fugir o máximo da minha realidade, do meu presente e acabei aqui, no meu passado.

Yanca: Se eu... é, se eu por acaso me separasse da Amanda, a senhora me aceitaria de volta aqui?

Leda: Deus seja louvado! Claro que sim, minha filhinha linda. Deus ouviu minhas orações, amem, Jesus... amem! Satanás foi derrotado mais uma vez.

Yanca: Calma... - ela me interrompeu e continuou a falar.

Leda: Sabia! Sabia! Eu sabia! - elevou as mãos pra alto. - Eu criei filha mulher, pari mulher, pra casar com homem, me dar netos e construir família, não ficar nessa pouca vergonha vivendo no pecado. Deus é fiel meu Deus, não abandona os seus e eu sabia que ele traria minha filha de volta pra mim. Claro que eu aceito, meu amor... essa casa é sua! - tocou em meus braços. - Sua mas te ama muito! Pode voltar! Ainda bem que você abriu seus olhos, Deus fez você abrir seus olhos e sair daquela mulher que tava te cegando, te aprisionando no pecado. Aquele mulher foi um demônio na sua vida, mas ainda bem que você agora consegue ver... tá liberta!

Minha mãe tem o poder de estragar qualquer pensamento, juro, embora tenha sido mera cogitação.

Me arrependi no mesmo momento de tudo que eu falei, do que digitei e já vi que jamais daria certo novamente.

Ela é completamente doida, fanática religiosa e fala atrocidades. Falou tanta coisa, esculachou Amanda e eu simplesmente não falei nada, só me levantei pra ir embora.

Yanca: Não, não... tô indo embora.

Leda: O que foi?

Yanca: Eu vou embora.

Ela ficou falando, querendo que eu ficasse, mas eu nem me dispus a continuar ali, pois eu só iria me irritar mais.

Cada coisa absurda e pesada que ela fala, que parece que não se ouve. Ninguém fez a minha cabeça, ninguém!

Se eu saí de casa e fui morar com Amanda foi porque eu quis. Minha pouca idade não influenciou em nada, nem tampouco ela por ser mais velha fez a minha cabeça.

Eu sou novinha, era muito menos vivida quando fui morar com ela, mas eu sempre soube o que quis e o que eu gostava.

Gostava de uma mulher, me relacionava com uma mulher e queria viver com ela. Hoje, talvez, isso tenha mudado... mas não muda em nada o que eu vivi e quem eu amei!

Yanca: Preciso conversar com você.

Amanda: Fale! - disse jogando. - Pode falar, amor.

Yanca: É coisa séria... larga o celular, olha pra mim.

Nisso eu tinha chegado em casa há séculos, mas tava ensinando essa conversa sozinha. A Amanda chegou, mas eu não disse nada, ainda demorei a tomar coragem.

Amanda: Fala! - parou me olhando.

Yanca: Eu quero terminar! - dei logo o papo reto, sem rodeios.

OBSESSÃO (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora