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Yanca

Olha como são coisas... saí de casa quando me assumi lésbica, na verdade não sai, mas sim fui posta pra fora pela minha mãe, né?

Minha mãe é um tipo de pessoa que é bom amar, mas de longe, pois de perto é tóxica, além de ser super preconceituosa.

Papo reto, tem preconceito com tudo... tudinho mesmo! Ela não gosta de preto, gay, lésbica e pra fechar o combo de escrotice ainda é bolsonarista doente, papo de ficar em rede social postando mil coisas idolatrando aquele homem!

Tem meses isso po, meses... meses que eu não a via,  meses que eu tinha saído de casa, meses que não nos falávamos, nem por mensagem ou coisa do tipo. Só que hoje por uma puta coincidência encontrei com ela aqui no shopping!

Leda: Yanca? - virei no susto.

Tava saindo do caixa da loja aqui no shopping, por causa que não tava conseguindo pagar meu cartão por app e tive que vim aqui pessoalmente.

Peguei uma fila do caralho, loja toda em promoção, maior sururu de gente e eu por conta disso peguei uma fila enorme!

Yanca: Mãe?! - falei em um misto de sensações, sorriso sem graça.

Eu travei, juro. Fiquei que nem uma lerda travada no meio da loja e só voltei a mim quando uma mona me trombou pedindo licença para passar, pois como eu disse, aqui dentro tava um inferno de gente.

Ela me olhando de cima abaixo com aquele olhar julgador e eu preocupada em ter algo fora do lugar mas também só esperando a rebombada, pois eu sabia que viria.

Leda: Como você tá? - me abraçou. - Minha filha...

Já amoleci logo, mas como de costume, essa era apenas a ponta do iceberg. Começou chamando de filha pra depois começar as humilhações.

Yanca: Tô bem. E a senhora? - falei nervosa.

Leda: Como você acha que eu tô, ein? Tu saiu de casa, abandonou sua família... Volta pra casa, minha filha! Larga dessa história, larga essa vida e volta pra sua família. Todo mundo lá te aguardando, o Carlinhos...

Tenho um irmão atípico, é mais velho que eu, mas por conta dos problemas mentais que ele tem, desenvolveu nadinha!

Carlinhos é maior homão, mas parece uma criança, todo bobo. Vida toda foi eu cuidando dele, por causa que minha mãe não tem lá essas paciências não.

Yanca: Sinto saudades!

Leda: Então porque não volta? Eu te perdoo, volta pra sua família.

Yanca: Minha namorada agora é a minha família e essa é a vida que eu escolhi pra mim. - ela me interrompeu.

Leda: Para de falar besteira! Namorada! - resmungou. - Eu botei no mundo filha mulher, mulher e não foi outra coisa não. Tive um casal, um homem e uma MULHER! - enfatizou bem.

Yanca: E eu continuo sendo mulher, não deixo de ser por gostar de uma.

Leda: Essa mulher fez a sua cabeça mesmo, te contar... olha as coisas que você tá dizendo... quanta besteira. Deus fez o homem pra mulher e a mulher pro homem! Não existe isso de homem com homem e mulher com mulher. - falou seríssima. - Duas pessoas iguais fazem filho, por acaso? Deixa de pouca vergonha! - surtou.

Yanca: A senhora não muda né, cara? Que coisa! Não muda esses pensamentos, não evolui. Eu estou feliz, sabia? Muito feliz e é isso que deveria te importar!

Leda: Pois eu não me importo! Se for pra você tá nessa vida eu desejo que você seja muito infeliz, isso sim.

Juro, ouvir isso partiu meu coração. Ela começou a falar que ia denunciar, que eu sou de menor, que acionária o conselho tutelar e eu nem estava mais prestando atenção!

Ouvir da boca da minha mãe tamanhas barbaridades me importavam mais po. Como que pode desejar minha infelicidade assim? Surreal!

Yanca: É isso que a senhora me deseja né?

Leda: Sim! Enquanto você estiver nessa vida, é isso que eu desejo mesmo... tudo de pior, pois não vou aceitar essa safadeza jamais!

Yanca: Ta bom! - falei enxugando as lágrimas.

Leda: E enquanto você não acorda, eu vou orar por você... - rir sem humor.

A mesma língua que me deseja coisas ruins, diz que vai orar por mim... como pode, né? Pois é, ela é assim, nunca vou entender.

Yanca: Preciso de oração sim, mas não por isso. Essa é a vida que eu escolhi, estou feliz e a senhora tem que aceitar.

Leda: Aceitar, aceitar... Deus que me perdoe, mas prefiro morrer ao aceitar uma pouca vergonha dessas. Só depois de morta!!!

Falou a beça, me disse uma porção de coisas ruins e quando eu não tive mais forças para escutar, eu que sai e deixei ela lá.

Papo reto, isso me entristece... eu fico triste, pois eu só queria ficar bem, viver em paz com quem eu gosto e amo e ela faz esse inferno aí!

Quando eu falo ela, é só ela mesmo, pois meu pai tá nem aí, cara... fala comigo tranquilíssimo. Ele me manda mensagem quase todo dia, pergunta se tô precisando de alguma coisa sempre e só não é mais presente na minha vida por conta dela.

Amanda: Você não sabe que ela é assim?

Cheguei da rua arrasada e passei o resto do dia assim pela casa. Amanda como me conhece a beça, quando chegou que me viu assim veio logo perguntando e eu contei né...

Yanca: Mas me magoa né amor... precisa ver, cara, precisa ver as coisas que ela me disse. Uma crueldade sem filme!

Amanda: Eu sei po, sei que é complicado, mas não leva essas coisas pra dentro do peito nao, Yanca. Só o tempo mesmo na vida da sua mãe e as vezes nem isso! Ela não aceita a gente, é cheia de preconceitos e essa para é mais sobre ela do que a gente po. Tu não tá feliz? - eu assenti. - Não estamos juntos? Isso que vale, isso que tem valer acima de qualquer coisa. Eu amo você.

Yanca: Também te amo! - abracei ela.

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Olá! Conforme combinado no capítulo anteprojeto, para as meninas que tem interesse em ter a sua história contada aqui, peço que me enviem um DIRECT contando os seus casos ou me enviem por e-mail: repostlivros@gmail.com

OBSESSÃO (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora