— Quais as chances? — Jisoo pergunta enquanto vira seu boné de baseball para trás e segura a pequena bolinha branca entre seus dedos. — Você é um ano mais nova que eu e mesmo assim essa pergunta não faz sentindo! "Pertencer a algo"... Nem mesmo eu sei a resposta e olha que a gata aqui é inteligente.Jisoo continuava falando sobre o que contei a ela sobre a aula de Liam, novo professor de literatura.
"você já pertenceu a algum lugar?"
O que diabos aquilo queria dizer? Como uma jovem de 17 anos deveria dissertar sobre isso em apenas uma folha de papel, em plena quarta feira de inverno enquanto meus dedos congelavam por ter esquecido as drogas das luvas. (Talvez tudo isso seja uma bela desculpa para o fato de que, não, eu não tinha uma resposta para essa pergunta)
— Talvez devesse perguntar o que Lisa respondeu. — a loira ao meu lado disse enquanto acariciava os pelos de seu pequeno cãozinho, o Hank. — O que você disse Lis?
Desta vez não havia sido diferente, agora eu rabiscava uma resposta incerta. Eu poderia agradá-lo ao escrever que "não" e dissertar sobre, mas não queria pensar muito ao redor da definição de "lar". Peguei meu lápis amarelo e não tardei a escrever em letras tortas, um claro e bem visto "Sim".
Talvez ele tenha ficado confuso com a minha resposta, afinal foi tão rápida que até eu mesma iria me surpreender. Era de fato algo tão profundo que ninguém demoraria menos de três horas para pensar em uma resposta, mas a realidade para mim era diferente e aquele homem de um metro e oitenta de cabelos escuros, muito lisos, sabia exatamente que não devia me olhar nos olhos e perguntar o porquê da resposta. Ele apenas olhou para mim e perguntou "Não quer pensar um pouco mais?" e eu neguei, neguei porque não queria mesmo fazer aquele dever.eu disse que sim. movi minhas mãos lentamente para que minha amiga que havia acabado de iniciar suas aulas de língua de sinais pudesse entender o que eu havia respondido.
— Nossa, sério? — Jisoo questionou largando a bolinha de basebol no chão, o que chamou atenção do bichinho que saiu do banco e a pegou antes que Jisoo notasse.
— Você foi corajosa. — Rosé disse. — Eu não saberia o que dizer, mal soube responder quando ele foi a nossa sala perguntar qual faculdade eu queria.
A loira tinha minha idade, estudava comigo desde que me entendo por gente, ela foi a primeira pessoa fora do meu círculo familiar que aprendeu língua de sinais por mim.
Minha amiga é alta, olhos grandes e castanhos tão expressivos que é possível notar qualquer pensamento que passe pela sua cabeça... mesmo que o pensamento seja naturalmente a coisa mais inocente que você vá ver por aí.
— Eu falei que queria ser dona de um cabaré, ano passado. — Jisoo era o contrário de Rosé, era um ano mais velha, cabelos escuros e mais baixa que nós duas. Nos conhecemos quando ela chegou na cidade, ela fazia o primeiro ano e nós ainda estávamos no fundamental. — O professor Liam arregalou os olhos desse tamanho.
Ela juntou suas mãos em formato de círculos e colocou em frente dos olhos, fazendo formatos grandes pra demonstrar o quão ele havia ficado surpreso.
Não havia nada de inocente saindo da boca dela.
Eu não sabia o que escrever, coloquei qualquer coisa. — Rosé rapidamente entendeu e soltou uma risada.
— Agora faz sentindo. — Jisoo disse e então olhou para o chão, vendo agora sua bolinha nova na boca de Hank, que com certa animação balançava a cabeça de um lado para o outro, abanava o rabo enquanto a sua frente havia um pequeno cachorrinho de pelos marrons.
Eu rapidamente me levantei e em passos lentos me agachei ao lado dos dois, segurando na coleira do pequeno cachorrinho notando o nome "Tony" brilhar em rosa. Havia um bem tempo que eu não o via...
— Limario, aquele cachorrinho deve ter se mudado. — A voz de Rosé era muito calma em minha direção, às vezes, como se eu fosse de porcelana.
— Ei! minha bolinha! — Jisoo resmunga e tenta pegar Hank, porém ele pula no banco novamente e sobe no colo de sua dona, escondendo a cabeça entre os braços da loira. — Olha que safado, se fazendo de inocente.
— Não fale assim com ele, Jisoo! — Rosé praticamente gritou apontando o dedo na direção de Jisoo. — Ele é apenas um bebê!
O cachorrinho Tony saiu de perto de nós, correu para o parque onde havia outros cachorrinhos, Hank não gostava de se misturar e por isso sempre ficava deitado entre nós, mesmo Rosé o deixando livre para correr por aí.
— Bebê, meu ovo. — Jisoo vira seu boné para trás e então ambas me olham, notando que não havia tentado me meter entre a briga das duas.
— Então... — Rosé começa. — Alice tem uma apresentação na escolinha de patinação no gelo, ela mandou convidar vocês para vê-la.
— Patinação no gelo? — Jisoo pergunta e logo um sorriso se forma em meus lábios.
— Ela é a melhor de todas. — a garotinha que era a cara de Rosé, de fato era a melhor e isso me alegrava, porque ela dizia que eu era a melhor amiga dela, mesmo que suas falas inocentes de crianças viessem juntas de um "mesmo que você não me responda".
— Ela pediu para convidar vocês com exclusividade. — Rosé revira os olhos morrendo de ciúmes. — e a escola de ballet D'Blak foi convidada....
Elas duas me olharam tão rápido que pude sentir minhas bochechas queimarem de vergonha mesmo estando tão frio. Jisoo mexeu as sobrancelhas de forma sugestiva e tocou meu ombro.
— Sua namoradinha estará lá. — Poderia me afundar naquele chão de tanta vergonha.
— Falando na sua namorada.
Rosé praticamente sussurra e quando olho em volta, lá estava ela, parada bem em frente à uma barraquinha de pipocas, com sua roupa de ballet preta e o cabelo ondulado caindo por seus ombros. Eu podia ver suas mãos se esfregando uma contra a outra, enquanto ela se esquentava.
— Fecha a boca senão entra mosca, Lisa. — eu fechei a boca, nem sabia que estava aberta, pisco várias vezes, envergonhada.
Logo os amigos de jennie chegaram, pulando nas costas dela, vi seus olhinhos se fechando ao sorrir para eles, meu coração se aqueceu.
Ela era perfeita demais, e já dizia Charlie Brown: ela é alguma coisa e eu não sou nada, se ela fosse nada e eu fosse alguma coisa, eu falaria com ela.
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unspoken words
FanfictionJá se imaginou em um universo que não te entende? Se você pensar bem, ninguém se importa de verdade com você e com suas necessidades, a maioria não liga... e até mesmo em um universo ruim haverá luz, e por mais que não pareça, Lisa tinha a dela, Jen...