capítulo 4

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Você já ficou sem palavras? Já travou com atos que outras pessoas provavelmente considerariam como bobagem? É, eu já.

Pode parecer idiotice mas aqui estou eu, desacreditada ao ler a notificação mais significativa vinda do meu celular, Jennie Kim havia me seguido no Instagram e curtido uma de minhas fotos, nela eu estava abraçada com um dos meus gatinhos, Louis, sorria como besta, afinal, meu bebê tinha ronronado pela primeira vez em meu colo, infelizmente, quando surtei de animação, ele saiu correndo para longe, enfim, este não era o ponto.

JENNIE KIM HAVIA ME CURTIDO. EU ERA INTERESSANTE AO PONTO DE SER SEGUIDA!

Meu jeito de comemorar? Dançar ao som de Kate Perry. Meu coração cantava com todas as forças enquanto me movia de forma desajeitada, eu finalmente tive a chance de ser vista por ela e faria valer o tempinho que ela tirou para me seguir. Meus amigos sabiam que eu particularmente odiava redes sociais e provavelmente se surpreenderiam ao me ver postar vídeos dos meus gatinhos apenas para atrair a atenção da minha gatinha.

Ah, Louis, você sabe que é especial para  mim mas hoje merece mais que algumas beijocas, comprarei o melhor sache de carne para o meu bebê.

Talvez possa parecer um tanto exagerado minha reação, mas a foto com fofas bochechas rosadas pulou na tela do meu celular enquanto eu rolava a aba de vídeos do Instagram, era o milésimo vídeo de gatinhos quando eu li a barra de notificação e meu coração ( posso estar demasiadamente delirando) praticamente parou e quase saiu pela minha boca.

Sai do meu transe afim de pegar a minha jaqueta amarela e sai em direção ao mercadinho, minha bicicleta me acompanhava para cima e para baixo, todos a reconheciam, a cidade era pequena e por isso, não temia ser assaltada ao jogá-la em um cantinho do estacionamento da conveniência.

Rapidamente caminhei até a ala de pets, enchi minhas mãos com sacos de comida e alguns brinquedos, minha mesada iria parar nisso mas quem se importava? Eu devia minha vida a Louis.

– Você precisa de ajuda?

A voz adocicada de Jennie finalmente ecoou em meus ouvidos, eu não fui capaz de acreditar, aquilo realmente estava acontecendo, meus músculos travaram e a minha única reação foi o resultado de muitos anos de preparo para este momento. Eu corri até o caixa, paguei pelas minhas coisas e saí.

Eu, Lalisa Manoban, ignorei Jennie Ruby Jane Kim.

Não foi muito difícil para mim por a grande sacola de petiscos dentro da cestinha da minha bicicleta visto que, agora mais do que nunca,  eu estava morrendo de vergonha pelo que havia acabado de acontecer. A exata meia hora atrás eu estava pulando no meu quarto sentindo meu peito tremendo de tanta felicidade pela minha crush lindíssima ter me seguido e agora quando finalmente ouço sua voz direcionada somente a mim, eu travo.

  Cheguei em casa dez minutos depois, tudo virou de cabeça pra baixo na mesma velocidade que um carro de fórmula 1 passa por uma daquelas pistas que meu pai gosta de ver na tv. Eu subi para meu quarto rapidamente procurando por Louis, mas a primeira coisa que vi foi uma garota alta e loira jogada na minha cama enquanto falava sozinha e passava as páginas de um dos quadrinhos do homem aranha que antes estava na minha prateleira.

— oh! Finalmente! — ela ergueu seu corpo da cama assim que ouviu meus passos, ela arregalou os olhos e correu em minha direção. — você já viu?

Eu fiz uma careta confusa pela pergunta e após deixar as sacolas no chão eu ergui minha mão perguntando o que ela estava falando.

— Lisa, a sua belíssima futura namorada acabou de te seguir no instagram. — minha amiga ergueu seu celular com a capa rosa bebê mostrando meu perfil e embaixo escrito "seguido por jennierubyjane"

— Eu já tinha visto. Rosé fez um biquinho emburrado, aparentemente ela queria mesmo ter me contado primeiro.

— pelo menos eu vi isso antes de Jisoo. — ela deu de ombros e voltou a sorrir grandemente enquanto se sentava na cama. Seus olhos curiosos não tardaram a olhar para a sacola no chão e eu fiquei com a bochecha vermelha pois sabia que viria alguma pergunta sobre e eu não teria nenhuma desculpa armada. — do que se trata tudo isso? Já viu o tamanho do seu gato?

Ei, não fale que ele está gordo. Me sentei ao lado dela e retirei os brinquedos da outra sacola. — Ele apenas está sedentário.

—  lisa seu gato deve pesar mais que minha irmãzinha.  — ela se jogou na minha cama novamente e colocou as mãos em seu peito cruzando seus dedos entre si.

Você é tão dramática. Aquilo é apenas o pelo dele.

Rosé voltou a rir enquanto me olhava.

— toda essa comida tem alguma coisa a ver com algum surto por causa de alguma coreana baixinha que sempre está de laços cinzas na cabeça? — arregalei meus olhos, meu deus eu era péssima disfarçando as coisas. — LALISA!

Não foi minha culpa! Ela curtiu o Lou, tenho que deixá-lo charmoso pra ela.

Eu movia meu corpo tão nervosamente que estava claro meu nervosismo, Rosé mais do que ninguém saberia decifrar isso.

— você não tem jeito algum, vai ficar babando até quando?

Até quando deus permitir.

— eu queria muito entender de onde vem todo esse medo de estar cara a cara com ela. — olho para Rosé e ela está encarando meu teto de maneira tão profunda que eu fiquei pensando no que minha amiga estava imaginando agora. Roseanne tinha uma forte imaginação.

Ela me olhou esperando resposta, mas eu não ergui as mãos do colo, eu apenas olhei em seus olhos castanhos e deitei ao seu lado olhando para meu teto da mesma maneira que ela.

— ela vai ter sorte de ter você na vida dela...

Flashback on.

Eu corria pela grama, as gotas de chuva encharcavam meu corpo coberto apenas pela roupa de educação física do colégio, maldita recuperação de pontos, maldita senhorita Peraya, o que tinha de linda, tinha de implicante. Ela fez questão de me punir por não participar de suas aulas da pior forma possível, me obrigando a cuidar dos equipamentos masculinos após o jogo de futebol, eu odiava aquela deusa com todas as minhas forças.

Agora eu me esforçava para não escorregar no chão molhado e acabar me ferindo, tinha que buscar abrigo e o local mais perto do campo, era o auditório. Abri a porta sem pensar demais e me joguei no chão, resmungando mentalmente pela falta de empatia da professora, o outono era uma das piores estações por aqui e agora eu teria que enfrentá-lo toda molhada.

Meus pensamentos vagavam sobre a possível vingança que aplicaria naquela mulher de 1,70 e traços tailandeses, pensei por várias vezes em trancá-la dentro de uma sala com a professora de literatura, esta por quem claramente mantinha uma quedinha. Estava tão presa em meus planos de vingança que mal notei a presença de alguém no palco, o local era grande e era quase impossível enxergar alguém onde eu estava.

A atenção na vingança simplesmente sumiu, agora meus olhos apreciavam uma das mais belas cenas que já tiveram o prazer de observar, uma pequena garota movia-se em passos lentos enquanto acompanhava uma música do Billy Joe, não consegui decifrar a letra mas soube que era expressiva pela forma com que a de cabelos escuros e ondulados, se movia.

Me questionei se já havia visto ela por ali, mas neguei assim que conclui, se eu tivesse a visto antes, não esqueceria. Não parecia ter limites, pressa, ela apenas dançava enquanto eu a apreciava, ela transmitia foco, paixão, entrega, levava cada passo a sério. Por um instante, notei a forma com que os lábios rosados se curvaram em um sorriso tímido e singelo, foi bem aí, nesse sorriso doce, que eu me perdi.

Ela havia roubado meu coração para si sem ao menos notar a minha existência.

Flashback off.

eu não sei, Rosé... Eu vou ter sorte se ela sorrir pra mim.

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