doze de dezembro de 2022.
📍 Itapevi, São Paulo.
Quando dona Amélia falou sobre virmos a Itapevi, não achei que ela faria tanta questão assim, porque ela realmente não sossegou enquanto não nos trouxe.Nós já tínhamos passado na casa de duas tias, três parentes e dez conhecidos da minha mãe. Se deixar, dona Amélia vira uma matraca ambulante e não para de falar tão cedo.
Já perdi as contas de quantas vezes eu tomei café da tarde só hoje, e pro meu azar, Theo já comeu alimentos com açúcar mais do que comeu nos seus três anos de vida.
Eram quatro da tarde, o clima tava gostosinho e eu decidi andar com o Theo pelo bairro. Visitei duas amigas de infância que eu não as via desde que saí daqui e passei até no salão de uma delas. Fiz a unha tranquilamente enquanto elas paparicavam o Théo.
Esse garoto ama ser o centro das atenções, e se deixar, ele se acha até o outro dia.
Eu e Théo andamos por boa parte dessa Itapevi, e inclusive pelos becos da Cohab. Porque esse moleque tem vida boa demais pra achar somente que ele é boy de condomínio.
Não que ele fosse mimado, mas ele me fez comprar um balão do Toy Story que ele segurava com a vida dele, um pacotão de pipoca salgada e ainda tomou sorvete na sorveteria da esquina onde eu e Thiago costumávamos ir quando queríamos ter um tempinho a sós e descontrair um pouco.
Estávamos andando pela pracinha quando eu vi uma multidãozinha aglomerada na quadra de futebol. Não que fosse uma novidade, até porque aquela quadra vivia lotada de gente jogando e mais gente ainda assistindo.
Cheguei mais perto para ver a partida de futebol e engoli em seco quando vi ele alí. Só podia ser brincadeira mesmo.
Me virei o mais rápido que pude e aproveitei que Théo estava em meus braços distraído com uma pipoca na mão para sair daquele lugar o mais rápido que eu conseguisse.
—— Terê! — Ouvi alguém gritar e eu suspirei aliviada quando vi Ghard do outro lado da rua.
Meu Deus, esse garoto tá enorme. O que deram pra ele?
Fui até lá porque Ghard era amigo demais para eu cumprimentar só com um aceno de cabeça.
—— Cara, quanto tempo. — Ele diz, me abraçando. —— Que loucura, Terê. Achei que nunca mais ia te ver, mano. — Pois é, Ghard! Quem diria, né? Porque eu também não queria estar aqui.
—— Quanto tempo mesmo. Garoto, o que te deram esses anos? Você triplicou de tamanho. — Eu rio da careta que ele faz, porque ele realmente triplicou de tamanho, até parece gente.
—— Sabe como é né, o pai ficou no estilo. — Nós rimos, porque esse garoto sabe fazer piada como ninguém. —— Caralho, a Madah teve filho e não avisou ninguém? — Ele franze o cenho e intercala o olhar entre eu e Théo.
Ah, se tu soubesse Ghard!
—— Não, não teve. E olha o palavreado na frente do meu filho. — Vejo Ghard se espantar, mas depois disso, ele me olha sugestivo.
Preciso pensar rápido, porque qualquer um que conheça Thiago como Ghard conhece, e tenha dois neurônios pensantes, consegue facilmente desconfiar que Théo é filho dele.
—— E ‘cê tá sozinha aqui no bairro? — Ele me pergunta, tentando arrancar alguma coisa de mim.
—— Ah, não tô não! Madah também veio. Vamos passar as festas de fim de ano com a mamãe. — Digo sorrindo. —— Vou aproveitar que agora eu tenho um tempinho a mais, porque não sou mais uma estudante, e sim, uma desempregada. Vou ficar até janeiro, mas Madalena volta antes por conta dos assuntos pendentes da nossa empresa.
—— Fiquei sabendo mesmo que a vida de vocês mudou, não é? — Ele pergunta meio acanhado. Acho que realmente não tá tentando descobrir algo fora dos padrões.
—— Não só a nossa, não é? — Dou um sorriso genuíno, porque ele realmente merece. —— Tô sabendo que vocês tão estourando nesse mundão aí.
—— É pô, a gente tá realizando nosso sonho. — Ele diz com um sorriso no rosto, e se alarga quando ele fala de todo mundo no geral. Sempre foi ele, Thiago e o Nagalli. Juntos nessa até quando não era pra ser. E fico feliz.
—— Fico feliz por vocês. De verdade. Você sabe o quanto eu torci por vocês. — Limpo a garganta, porque de algum modo fui levada lá pra 2018, quando nós falávamos das nossas metas, e nós tínhamos traçado um plano de conquistarmos nossas coisas.
E olha só, deu certo! Só não foi da forma que queríamos.
—— Sempre torci e vou continuar torcendo por vocês. Todos vocês. — Eu digo a ele, vendo um sorriso brotar em seus lábios e ele me abraçar de forma desajeitada.
—— Terê, e o que você tem feito todos esses anos? — Ele pergunta e eu rio da curiosidade dele.
—— Criei meu filho, estudei para um caralho. — Sussurro essa parte, porque não consigo ver se Théo está acordado, e eu odeio esse tipo de palavreado perto dele. —— Trabalhei muito, muito mesmo. Consegui montar a minha loja com a Madah, a gente expandiu a loja e então me formei. Foi basicamente isso. E você, o que andou fazendo?
—— Canetando umas barras, ‘se ligou? — Ele diz, enquanto eu rio e concordo. —— E o pai do seu moleque? Qual o nome dele mesmo? — Ele pergunta, colocando o celular no bolso.
—— Théo, o nome dele é Théo. E o pai foi uma transa num banheiro de uma calourada, enquanto eu estava muito bêbada e tentando esquecer o Thiago. Não lembro nem o rosto do cara. Foi coisa de uma noite e só. — Me impressiono com a minha rapidez e facilidade pra contar uma mentira dessas.
A Maria Teresa de três anos atrás não contaria uma mentira como essa de forma tão rápida assim. De jeito nenhum!
—— Mano, quando você vai contar pra ele que ele tem um filho? — Ghard me pergunta, e eu engulo em seco, porque ele pode muito bem estar falando do “suposto pai do meu filho” mas também pode estar falando do Thiago.
—— Contar pra quem? — Pergunto de novo, porque preciso ter certeza de que eu não estou delirando, e que ele não sabe quem realmente é o pai do meu filho.
—— Pro Thiago.
eita como fala esse Ghard.
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Vida • Thiago Veigh.
RomanceA vida de Maria Teresa toma rumos completamente diferentes quando ela precisa mudar de cidade para começar a faculdade que ela tanto sonha fazer. Quando ela se vê obrigada a deixar para trás a sua cidade natal, seu namorado e a sua vida para iniciar...