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Eu não sabia como o cabo de madeira de minha faca de caça tinha chegado à minha mão. Os primeiros movimentos foram um borrão dos grunhidos de uma besta gigantesca com pele dourada, os gritinhos esganiçados de minhas irmãs, o frio lancinante que inundou a sala, o rosto aterrorizado de meu padrasto

Como eu iria lutar com um Grão-Senhor?

Joguei Feyre para trás de mim e segurei firme minha faca

De alguma forma, acabei diante de minhas irmãs, mesmo quando a criatura se apoiou sobre as pernas traseiras e gritou com a boca cheia de presas: 

- ASSASSINOS!

Mas foi outra palavra que ecoou em minha mente

A mulher da feira, ele era o que ela mencionou, o lobo feérico, tudo estava conectado

Ousei olhar por cima do ombro. 

Minhas irmãs gritavam, ajoelhadas contra a parede da lareira,  meu padrasto estava agachado diante delas. Feyre se mantinha firme atrás de mim

O desespero tomava conta do ambiente

O que fazer?

Como protegê-las?

- ASSASSINOS! - novamente rugiu a besta

Era uma mistura,parecia um leão com chifres

- O que você quer aqui fera?

- Quem o matou?

- N-n-nós não matamos ninguém -  acrescentou Nestha, engasgando nos soluços, o braço erguido sobre a cabeça, como se aquele minúsculo bracelete de ferro funcionasse contra a criatura

Irmã...

- Acho melhor você sair daqui - avancei minha mão com a faca em sua direção

- Alguém aqui o matou e você ainda se acha no direito de negar minha vingança?

A besta gritou comigo em resposta

Chalé inteiro estremeceu

- Perguntarei novamente, Quem o matou?

- Fui eu!

Ele me encarou enfurecido

- Eu quem matou o lobo

- Astra...

- Ela não fez sozinha, eu a ajudei

Feyre saiu de trás de mim

- O que pensa que está a fazer?

Segurei em seu rosto

- Eu estou com você irmã

- Não sabíamos que ele era um de vocês

Ele gruniu

- Perante as leis, qual o pagamento exigido para nós?

A besta soltou um latido que poderia ter sido uma gargalhada amarga. Ele empurrou a mesa para caminhar em um pequeno círculo diante da porta destruída. O frio era tão intenso que estremeci.

- O pagamento que devem oferecer é aquele exigido pelo Tratado entre nossos reinos.

- Isso tudo por um lobo? - repliquei, e o pai murmurou meu nome como advertência

Eu tinha vagas lembranças de ouvir o Tratado, mamãe o lia para mim quando mais nova, antes de sua doença progredir

- E o restante?

- Não tiveram nada haver - Feyre disse com a voz rouca

O animal piscou e, então, olhou para minhas irmãs, depois de volta para mim, para minha magreza, sem dúvida enxergando apenas fragilidade

- Certamente está mentindo para salvá-las

- Eu não minto!

- O que fizeram com ele?

- Vendemos a pele no mercado hoje. Se soubéssemos que era um feérico, não o teríamos tocado.

- Mentirosa !

"Eu ouvi o que ele disse antes de morrer, não tem como você não saber"

"Está certo Grão-Senhor"

A fera me olhava surpreso com tal admição

- Pode nós culpar?

- Ele atacou você? Você foi provocada?

Abri a boca para dizer que sim, mas...

— Não — respondi, soltando um grunhido também

Mais grunidos vieram

A fera estava nos olhando com ódio

- Qual é o pagamento que o Tratado requer?

Os olhos do animal não deixaram meu rosto à medida que ele falava:

- Uma vida por outra. Qualquer ataque não provocado contra feéricos, por humanos, só pode ser pago com uma vida humana em troca

- Eu não sabia — falei. — Não sabia dessa parte do Tratado

- A maioria de vocês mortais escolheu se esquecer dessa parte do Tratado disse a besta - o que torna puni-los muito mais prazeroso.

Eu já tinha aceitado meu destino

Abracei Feyre e dei um passo a frente

- Faça! Mas que não seja aqui e que não venha atrás deles

- NÃO! - Feyre gritou

- Assim, tão fácil? Sua vida é tão miserável que não vai implorar por ela?

 Quando eu apenas o encarei, o feérico disse: 

- Eu vejo a selvageria em você, mas também vejo um bom coração e por ter a coragem de sugerir onde eu deveria matar você, vou lhe contar um segredo, humana

- Prythian deve reclamar suas vidas de alguma forma pela vida que vocês tiraram. Então, como representante do reino imortal, posso estripá-la como um suíno ou... vocês duas podem atravessar a muralha e passar os restos de seus dias em Prythian.

Pisquei.

- O que quer dizer?

Ele falou devagar, como se eu fosse, de fato, tão burra quanto um suíno

- Estou lhe dando escolhas mesmo que você não tenha dado a ele, vocês podem morrer esta noite ou oferecer suas vidas a Prythian e morar ali para sempre, abrindo mão do reino humano.

— Façam isso, Astra e Feyre - sussurrou o pai atrás de mim - Vão!

- Para onde iríamos?

- Tenho terras 

Claro que tem

- Darei permissão para que vivam nelas.

Pensei bem

A vida deles era a prioridade

- Aceito!

Olhei para Fey que concordou

- Aceito!

A fera nos conduziu para fora e cavalos nos esperavam

Ele voltou a forma humana, um homem alto, loiro e com uma máscara escondendo metade de seu rosto

O que será que iremos encontrar lá?

Court Of Past LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora