𝗈𝗇𝖾,𝗍𝗁𝖾 𝗌𝗍𝖺𝗋𝗌' 𝗌𝗂𝗅𝖾𝗇𝖼𝖾

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Capítuloum .﹚
─── o silêncio das estrelas.


As estrelas sempre brilham.

Brilhando em silêncio, mesmo quando ninguém olha pra elas. Mesmo quando as nuvens cobrem tudo, mesmo quando o mundo parece prestes a desabar.

Gyuri gostava das estrelas. Desde pequena, encontrava nelas uma espécie de consolo, tipo como se estivessem presas no céu do mesmo jeito que ela estava presa na própria vida: sem saída, mas ainda assim insistindo em brilhar.

Algumas nascem grandes. Outras mal têm tempo de queimar antes de sumir. E algumas, como ela, parecem destinadas a se perder no fundo da noite... pequenas, mas ainda ali.

Seus olhos permaneciam no céu, onde quase ninguém mais parava pra olhar. Sentia a brisa fria contra os machucados recentes e, mesmo com o gosto metálico do sangue ainda na garganta, uma parte dela só conseguia pensar no quanto aquelas luzes distantes pareciam... resistentes.

Estrelas não gritam. Não imploram. Não fogem.

Só continuam acesas.

Mesmo quando tudo diz que deveriam apagar.

Gyuri desviou o olhar do céu quando o vento fez arder o corte em sua bochecha. Ela apertou o capuz contra a cabeça e puxou os joelhos para cima do banco de metal gelado. Estava sentada do lado de fora de uma loja de conveniência 24h, num canto esquecido da cidade, onde os poucos carros passavam e as pessoas apressadas ignoravam umas às outras.

Seu corpo doía. O orgulho também.

Expulsa. De novo.

Não que isso fosse o real motivo da sua melancolia. Nada disso.

Só que era apenas... difícil aceitar sua expulsão quando ela nem ao menos foi a real culpada. Ela deu o primeiro soco? Sim... Porém, aquele fodido mereceu cada soco e cada chute.

Gyuri sabia como o mundo funcionava. Com seus quase dezenove anos, ela sabia muito bem que os que tinham dinheiro e status normalmente ditavam as regras. Mas porra, ela ainda era humana, e aquele sentimento amargo de injustiça as vezes lhe fazia reagir bem antes de pensar.

Dessa vez foi demais, Seo Gyuri, o diretor tinha dito. Como se ela tivesse começado tudo. Como se tivesse escolha.

A luz automática da fachada piscava com um zumbido irritante, mas ela nem se mexia. Ficava ali, parada, com o cotovelo apoiado no joelho e o queixo na mão, encarando o mundo como se estivesse do lado de fora dele.

O barulhinho da porta automática da loja soou atrás dela e, segundos depois, Seok-dae apareceu com duas porções de ramen e a sobrancelha franzida ao vê-la naquele estado.

— Que porra aconteceu com você? — ele perguntou, se agachando ao lado da mesa em vez de sentar.

— Educação primeiro, oppa — ela resmungou, pegando o copo de ramen da mão dele. — "Oi, Gyuri. Nossa, como você tá bonita hoje, mesmo parecendo ter saído de um ringue."

— Você parece mesmo. Mas tem um charme — ele respondeu, ainda observando o hematoma no canto da testa dela. — Foi no colégio?

Gyuri acenou.

— E o colégio fez o que faz de melhor e...

— ... Me expulsou — ela completou, encarando o macarrão como se ele fosse a coisa mais interessante da noite.

— Tô achando que você coleciona expulsão igual figurinha — Seok-dae finalmente se sentou, jogando as chaves da moto sobre a mesa

Gyuri ergueu uma sobrancelha, mas não respondeu de imediato.

𝐓𝐎𝐌𝐁 𝐎𝐅 𝐓𝐇𝐄 𝐒𝐓𝐀𝐑𝐒, 𝖶𝖾𝖺𝗄 𝖧𝖾𝗋𝗈 𝖢𝗅𝖺𝗌𝗌Onde histórias criam vida. Descubra agora