ㅤCapítulo﹙ três .﹚
─── O reflexo de uma estrela
sem brilho.
A melhor forma de descrever Gyuri em uma única palavra era... complicada. Muitos falavam que ela tinha uma natureza rebelde, embora tivesse que seguir ordens quase que diariamente. Ela tinha o hábito irritante de rir nos momentos errados e um estranho talento de persuasão. O olhar era afiado como uma lâmina, em contraste com um sorriso doce demais. Era como se duas versões dela habitassem o mesmo corpo...uma feita de aço, a outra de sonho.
Uma verdadeira incógnita, até para ela mesma.
Follow You, do Bring Me The Horizon, tocava num volume baixo, preenchendo o quarto com uma suavidade quase dolorida, como se a música entendesse exatamente o que ela sentia.
Os olhos, escuros como o próprio vazio, encaravam o reflexo no espelho por tempo demais. Tanto que Gyuri já não sabia dizer se olhava para si ou para uma estranha. Estava sentada no chão gelado, as pernas em posição de borboleta, os longos cabelos negros ainda úmidos do banho escorrendo pelas costas como uma noite líquida. A camiseta branca manchada pela água fria colava-se à pele, mas ela sequer notava.
Seu olhar permanecia fixo naquela garota magra, de semblante cansado, que a encarava de volta com uma expressão que beirava o desprezo.
Um suspiro baixo escapou de seus lábio. Com os olhos ainda grudados no reflexo, esticou o braço até alcançar um dos pincéis jogados perto da parede. O cabo estava manchado de tinta seca, e a ponta gasta denunciava o uso constante.
Gyuri girou o pincel entre os dedos por um instante, sentindo o peso familiar. Era quase um gesto automático, como acender um cigarro ou trancar uma porta atrás de si. Então se virou, se ajoelhando diante de uma parte da parede ainda não coberta, e começou a desenhar com traços lentos.
O quarto dela era uma bagunça que fazia sentido. Algumas telas encostadas em cantos aleatórios, roupas espalhadas, pincéis esquecidos dentro de canecas rachadas e a cama por fazer. Havia desenhos aleatório subindo pelo teto, palavras rabiscadas com carvão, frases arrancadas de livros que ela nunca terminou, mas que davam um certo charme para aquelas paredes brancas e sem graça. Era um caos sim, mas era um reflexo honesto do que existia dentro dela: fragmentos de beleza no meio da desordem.
Ela não se considerava uma artista. Desenhava porque era a única coisa que havia sobrado de sua falecida mãe, porque era algo que fazia sentido nos dias silenciosos, mesmo que fosse só para espantar a dor. Seus rabiscos eram estranhos se vistos individualmente, soltos como pensamentos esquecidos. Mas juntos, espalhados pelo teto, pelas paredes e pelas bordas da janela, contavam a história silenciosa de uma garota que sobreviveu à perda, à culpa e à solidão.
Cada traço era um sussurro do que ela nunca disse em voz alta. Cada cor, uma memória camuflada. E embora nunca tivesse estudado arte, aquela bagunça pintada com dedos sujos e noites mal dormidas era o retrato mais honesto de quem Gyuri realmente era.
De repente, a porta do apartamento se abriu com o som habitual de uma pancada, seguida por passos apressados e um suspiro dramático que cortou o silêncio.
— Gil-su vai me matar de tanto trabalhar! — reclamou Yeong-i do corredor, antes de se jogar de corpo inteiro sobre o sofá da sala.
O som invadiu o quarto, mas Gyuri não se moveu. Ainda segurava o pincel, agora parado sobre a parede, traçando uma linha invisível que provavelmente nunca terminaria.
Um miado baixo chamou sua atenção. O gato preto, que até então dormia camuflado entre as almofadas amassadas, se esticou com preguiça e atravessou o corredor, entrando no quarto como se fosse o dono do lugar.
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𝐓𝐎𝐌𝐁 𝐎𝐅 𝐓𝐇𝐄 𝐒𝐓𝐀𝐑𝐒, 𝖶𝖾𝖺𝗄 𝖧𝖾𝗋𝗈 𝖢𝗅𝖺𝗌𝗌
Fanfiction- 𖥨¡! 𝐓𝐔́𝐌𝐔𝐋𝐎 𝐃𝐀𝐒 𝐄𝐒𝐓𝐑𝐄𝐋𝐀𝐒 Weak Hero Class Fanfiction Fugir salvou sua vida. Ficar pode destruí-la. Gyuri aprendeu cedo que promessas não somem, apenas aguardam a hora certa pra cobrar. No lado oculto onde dívidas se pagam com silê...
