Prólogo

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Em meio a uma roda de crianças, uma senhora idosa cantarolava uma velha cantiga que seus avós haviam a ensinado.

- No início dos tempos havia união, nós e os drackcilios vivíamos como irmãos, tratados de iguais para iguais sem nenhuma distinção, riamos, cantávamos, até dançávamos juntos. Mas o ódio da tormenta dominou seus corações, transformando seus irmãos em ratos! A batalha se travou e de sangue se sujou, "os justos" já não estavam mais tão puros, "os tenebrosos" estavam encurralados. Por uma disputa de egos, um povo foi exilado... "maltrapilhos humanos!" eles gritavam!

A senhora se levantou e começou a encenar a cantiga, como sempre fazia.

- Os antigos contavam, em sussurro, que nossos dias voltarão, seremos grandes, mais grandes que todos os reinos que já viram, poderosos nos tornaremos, cuidado crianças! Pois estamos sedentos, hienas na margem da podridão não lidam bem com o poder na mão. Tenham calma e atenção. Se nos tratarem mal, tentaremos ser bons?

As crianças gritam em um só coro.

- Não!

- Que feio crianças, é isso o que estou ensinando?

Os pequeninos abaixam a cabeça com vergonha.

- Vocês estão falando baixo demais! Repitam comigo, o mais alto que conseguirem. Se nos tratarem mal, tentaremos ser bons?

- Não!

A porta da cabana é aberta abruptamente, um homem de meia idade aparece ofegante, seu rosto pálido exala pânico.

- O que houve meu filho? – Diz a senhora, com certa impaciência para o rapaz. – Não vê que estou ocupada?

- Mãe... eles... eles estão aqui...

É a vez da senhora começar empalidecer, um arrepio gelado subiu pela espinha, ela sentiu seu coração falhar por alguns milissegundos.

- Eu sabia que esse dia chegaria. – Ela tenta se recompor o mais rápido possível - Me ajude a esconder as crianças!

O pequeno cômodo foi tomado pelo alvoroço, as poucas crianças que restavam no povoado estavam agora em perigo eminente, as outras haviam sido levadas pela Inspeção, um grupo designado a "coletar" crianças humanas para o treinamento servil, como guardas de baixa patente, ou empregados. Aparentemente, eles começaram a agir com mais frequência que de costume. Se eles não conseguissem esconde-los, o futuro de Ionda, o pequeno povoado, estava em perigo... Iriam desaparecer como tantas outras vilas do passado.

- Mãe, não temos tempo, iremos morrer...

- Temos que tentar! Lembre-se do lema de nossa família, lembre-se do seu pai!

- Proteção...

- Vamos, não temos tempo para isso! Pegue as crianças e as levem para os tuneis, eu os distraio...

Mas antes que pudessem agir, a porta foi derrubada, guardas da família real entraram no ambiente, destruindo tudo que viam. A senhora e seu filho tomaram a frente, como uma barricada entre as crianças e os drackcilios,

- Entregue-nos as crianças.

- Só por cima do meu cadáver. – A velha cuspiu ao chão.

Sem contestar um dos membros da Inspeção sacou a espada e facilmente cortou a garganta da senhora que se agonizou ao chão.

- Mãe!

- Vovó! – Uma das crianças correu em direção a sua amada companheira.

- Nã..se..esque. – Foram suas últimas palavras, antes de descansar os olhos.

O homem reage no calor do momento e parte para cima dos guardas, por sorte, um dos guardas apenas o nocauteia.

- Rápido, temos trabalho a fazer.

Ele percebe a pequena criatura chorando aos prantos ao lado do cadáver humano.

- Levem aquela.

- Mas senhor...? Ela possui mais chances de se rebelar, sabe como essa espécie é.

- Eu disse, aquela.

- PAPAAI! – berrava a pequenina, aos prantos, para o pobre homem desmaiado enquanto estava sendo carregada.

Alguns anos após – Em algum lugar nos mares do norte.

"Não se esqueça, minha neta, tenha calma e atenção. Se nos tratarem mal, tentaremos ser bons?"

A pobre mulher acorda de seu pesadelo afirmando, enquanto tensionava os dentes:

- Não.

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