Capítulo 3

59 10 96
                                        

No cais as embarcações esperavam seus mais novos servos, no casco de cada barco estava talhado à madeira o brasão das respectivas famílias:

"Encontre o brasão da família e encontrará sua embarcação"

Volto meu olhar para o pergaminho em minha mão, o selo vermelho breu perdera um pouco do brilho que tivera antes, mas sua graciosidade ainda persiste embora o papel esteja um pouco amassado devido minha eminente ansiedade. "Preciso me controlar", penso enquanto aperto ainda mais o papel.

Ao longe percebo uma área desértica do cais, as embarcações dos pilares de guerra estavam paradas em um ancoradouro especial reluzindo sua imponência. Apenas quatro das 20 casas servis dessa categoria participaram naquele ano, mas a cada ano que passa os humanos são cada vez mais requisitados para trabalhos desse porte, poucos são os que possuem a sorte de se tornarem Galks.  

Me desvencilho da lamentável multidão que profana maldições em tom de sussurro para demonstrar sua insatisfação e me encaminho para a presunçosa plataforma de madeira de bétula. Os dois primeiros barcos eram de famílias de soldados renomados, nobres recentes que ainda estavam se estabilizando na sociedade Litameza, uma fila se fazia na porta.

O terceiro barco possuía um brasão de rosas vermelhas com ênfase para seus majestosos espinhos e uma coroa com sangue e espadas convivendo com harmonia em torno das pétalas, meus olhos paralisam na imagem pela estranha familiaridade. Matador de reis, minha cabeça começa a doer com a aparição de algumas memórias esquecidas: Uma mulher com um vestido simples rosado, uma cabana de palha e um aroma doce.

Rapidamente me recupero do transe e continuo andando pela plataforma até o último barco. A embarcação feita de carvalho escuro possuía detalhes de joias cravadas à mão, em sua maioria ouro, seu brasão era compatível com a do pergaminho: Uma coroa de madeira rodeada por flores com delicados desenhos esculpidos em rubis, vermelhos como sangue.

- Astória de Naiôr? 

Sou questionada ao entregar meu pergaminho ao Galk (guarda humano, encarregado pelo transporte dos serviçais), que o lê e me oferece um olhar de desdém, o mesmo que qualquer drackcilio utilizaria. Ao comparar com as embarcações das outras casas servis, poucas pessoas haviam sido designadas para os Linfas.

- Sim, senhor. – Mantenho um tom firme na voz enquanto finjo um sotaque grotesco do povo de Naiôr, a partir de agora deveria acatar fielmente minha mais nova identidade e torcer para que esse humano fique convencido o suficiente para me deixar passar.

- Você me parece um tanto peculiar, senhorita ...? – O sujeito se aproxima.

- Astória. – Afirmo.

- Astória... – O humano sibilou vagarosamente ao revisar o pergaminho novamente – De qual região de Naiôr sua família pertencia? 

- Vivíamos próximos ao mar Falí, ao sul, mas nossas terras foram reivindicadas pela família real para zona de caça. – Sempre preferir ser uma ouvinte do que uma participante ativa nas minhas conversações - Por causa disso tivemos que nos mudar para a cidade de Tênder, senhor.

- A quem sua família servia? 

- Éramos coletores, senhor, não possuíamos um empregador fixo, servíamos aos comerciantes locais na época da colheita quando requisitavam nossos serviços.

- E no momento da seca? – ele levanta uma das suas sobrancelhas. 

- Morávamos em Tênder, senhor – esboço um sorriso - não havia seca.

O Galk me observa da cabeça aos pés, analisando meu comportamento e respiração. Logo após, desobstrui o caminho da plataforma até o barco, me permitindo entrar. O interior era tão presunçoso quanto sua carapaça, revestida de uma madeira de baobá com contrastes de um carvalho claro e alguns móveis antigos, claramente desuso.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jul 06, 2024 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

LitamaOnde histórias criam vida. Descubra agora