A viagem havia começado a duas semanas atrás, nessas alturas, já estávamos chegando à Litama, antiga capital do reino dos drackcilios e atual cidade polo do povo do norte, local onde seria nosso último ano de treinamento. Se nos destacássemos nas casas dos lordes daqui, estaríamos a um passo do castelo, onde trabalharíamos para a família principal, os draks com o legítimo sangue dos reis.
A porta do convés é aberta, de lá, um homem com pela esverdeada joga um balde de água na tripulação.
- Acordem vagabundos! Já estamos em águas Litamesas, preparem para exercer seus papeis e torçam para que a sorte esteja com vocês. – O homem se retira do cômodo.
Acordo devido a água jogada diretamente em meu rosto.
- Não! – Com falta de ar, tento me recompor.
- Samira? Outro pesadelo?
- S-sim. – A respiração aos poucos volta ao normal.
- Toma – a menina segura um pedaço de pão mofado firmemente – guardei o meu para lhe entregar...
- Não precisa Astória, você também precisa se alimentar.
- Estou preocupada com você, Sami, suas crises estão cada vez mais frequentes, nem quando estávamos em Kandar você estava assim...
- Eu estou bem Astória, confie em mim.
- Come logo esse pão! Aproveite enquanto estou sendo gentil.
Com o pão em mãos, decidi parar de retruca-la, sabia muito bem que a paciência dela não durava muito. A conheci no meu segundo ano de treinamento em Kandar, ela estava gritando com alguns moleques por causa de alimentação, uma garotinha pequena que havia tentado roubar a comida de dois novatos, na época eu era ajudante do supervisor do meu acampamento e tive que intervir na discursão. Desde lá, fiquei responsável por "ficar de olho" na garota problemática.
Embora discordássemos de muitas coisas em uma coisa ela tinha razão, aparentemente, quanto mais próximo eu estava de alcançar meu objetivo, mais minhas crises manifestavam.
- Obrigada por isso.
- Por nada. Sami..., você acha que ficaremos na mesma delegação?
Enquanto descarto a parte estragada do alimento, a observo sutilmente, suas olheiras estavam maiores e seu rosto mais seco, provavelmente ela não dormiu durante a viagem. Astória está com medo. Não a julgo, afinal, estávamos indo para Litama, em todas as histórias que escutamos de lá nenhuma possuía um "final feliz".
- Provavelmente não. – Mordo o pão enquanto ela me olha incrédula. – Me desculpe, mas precisamos...
- "..Estar prontas para o pior", você sempre diz isso! Poderia pelo menos mentir, só dessa vez.
- Não posso, já conversamos sobre isso. Além disso – mais um pedaço de pão é mordido – temos funções diferentes.
- Mas você faz quase mesmas coisas que eu!
- Mas você não faz as mesmas coisas que eu.
- Isso não é justo!
- Bem vinda a vida real.
A embarcação vibra, parecia que haviam batido em algo, a parada abrupta faz algumas pessoas do convés caírem por cima das outras, algumas batem suas cabeças na parede do ambiente. Um silencio ensurdecedor surge, ninguém se atreve a dizer uma única palavra, pois todos sabiam o que estava prestes a acontecer... O nosso teste havia começado.
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Litama
Fantasía"Não se esqueça, minha neta, tenha calma e atenção. Se nos tratarem mal, tentaremos ser bons?"