Com os olhos atentos na tela do computador, imerso no videogame que jogava, Ícaro não percebeu quando a porta do seu quarto foi aberta por Lorena. Havia quase um minuto que ela estava lá fora, batendo na porta e chamando por ele, mas acabou entrando quando viu que não seria respondida.
— Ícaro.
Tentou chamá-lo uma última vez, agora já dentro do quarto. Mas nada. O headset de áudio bastante imersivo mantinha o garoto fora da realidade.
Então não houve remédio. Ela terminou de entrar no quarto e foi até o filho, removendo os fones dele, que virou-se num sobressalto.
— Qual é, mãe?!
— Tem meia hora que eu tô te chamando.
— Que é que você quer?
— Conversar.
Lorena sentou-se na beirada da cama, mas mal havia se acomodado quando ouviu as palavras impensadas do filho:
— Não tenho nada para conversar com você.
O garoto fez menção de colocar o headset novamente, mas foi impedido pela mãe.
— Mas eu tenho.
— Então fala logo.
Lorena sustentou o olhar sobre ele por alguns instantes, controlando-se para não perder a paciência outra vez. Mesmo assim, ela deixou escapar a pergunta num tom que misturava decepção e impaciência:
— É assim que você fala comigo?
— Tô falando normal, ué.
— Não. Você não está.
Ícaro bufou, cruzando os braços, e recostou-se na cadeira.
— Que história é essa que seu pai está indo te ver na frente da escola?
— Não é história nenhuma. Ele sempre aparece lá e ponto. É só isso.
— Mas o que é que ele fala com você?
— Isso é entre eu e ele.
Lorena sentiu o mundo sumir com aquelas palavras. Quase sem querer, sua cabeça se movimentou, sinalizando uma espécie de tudo-bem, como se respeitasse a intimidade entre pai e filho quando, na verdade, gostaria de obrigar Ícaro a contá-la palavra por palavra do que Victor lhe dizia.
— Então você quer mesmo ir morar com ele? — perguntou com pretensa tranquilidade, enquanto seu coração retorcia de raiva.
— Não tem espaço para mim nesta casa com você e seu marido.
— Ícaro.
Ela o fitou com incredulidade.
— O que o Raul fez para você?
— E adianta falar? Você dá mais valor para ele do que pra mim.
— De onde você tirou isso?
O garoto deu de ombros, sem querer responder.
— Olha, me perdoa se em algum momento eu dei a entender isso, mas... Não é verdade, filho. Jamais poderia ser.
Lorena levou a mão até os cabelos de Ícaro, que agora já não eram tão loiros quanto antes, mas já se aproximavam de um castanho claro, e acariciou-os.
— Eu te amo, filho. Isso nunca vai mudar.
— Se me amasse, me deixaria amar o meu pai também — Ícaro retrucou, desviando-se do carinho da mãe, que recolheu a mão, emudecida.
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Amor de Pai - Em Andamento ⏳
Spiritual[O MALABARISTA - PARTE 2] Raul deixou para trás a vida nas ruas e, agora, tem um lar para chamar de seu - um lar onde encontra as pessoas que mais ama. Enquanto seus sonhos começam a tomar forma, ele descobre que o caminho para realizá-los é cheio...