Capítulo 4

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Raul saltou da cadeira onde estava sentado na recepção do hospital quando viu o médico se aproximar. Nem sequer havia tido tempo para trocar de roupa, de maneira que ainda estava de pijama e chinelos. As únicas coisas que pegou antes de sair foi sua carteira e o celular.

— Raul, certo?

O médico se aproximou já com uma mão estendida.

— Isso mesmo.

— Boa noite, Raul. Eu sou o dr. Fernando. Tudo bem?

— Tudo bem, graças a Deus.

— Bom — Dr. Fernando esfregou as duas mãos, como se estivesse escolhendo as palavras mais adequadas — O estado do Ícaro é bastante grave. Ele teve um AVC e...

— Um AVC?!

— Sim, um AVC hemorrágico. Um aneurisma se rompeu e...

— Mas ele só tem 14 anos.

— Não é tão comum na idade dele, mas acontece.

Raul passou uma mão pelo rosto, na tentativa de assimilar o que estava escutando, mas era surreal.

— Nós encaminhamos ele para a cirurgia, porque precisamos parar o sangramento urgente e...

— Não, mas... espere aí. Você está me dizendo que ele tinha um aneurisma que se rompeu e que agora precisa de cirurgia para... para...

— Para parar o sangramento — o médico completou com uma tranquilidade profissional que beirava a frieza.

— Mas ele sempre foi um menino normal e saudável. Como poderia ter um aneurisma?

— Infelizmente, a maioria dos aneurismas só são descobertos quando se rompem. 

Outra vez, Raul esfregou o rosto.

— Como ele é menor, — dr. Fernando prosseguiu — precisamos da autorização de pelo menos um dos pais para realizar o procedimento. Você é o que dele?

— Padrasto.

— Você tem a guarda dele? Ou alguma autorização legal?

— Não... Tenho não... Acho que não.

— Então, nesse caso, eu preciso que a mãe ou o pai biológico dele assine...

— Mas ele só vai pra cirurgia se assinar?

— Não, ele já foi. Não dava para esperar. O cirurgião responsável já chegou e já está com o Ícaro na sala de cirurgia. Mas eu preciso que a autorização seja assinada o quanto antes.

Só então Raul notou que o médico trazia alguns papéis na mão.

— No caso... 

Raul coçou a nuca, olhando para os papéis.

— Minha esposa está em casa. Ela teria que vir aqui para assinar?

— Sim.

— E...o Ícaro? Ele vai ficar bem?

Pela primeira vez, a tranquilidade profissional do dr. Fernando ameaçou dar lugar a tensão.

🦋

— Atende, Raul. Atende.

Lorena batucava as unhas, impaciente, sobre a estrutura maciça da bancada da cozinha, enquanto tinha o celular pregado na orelha. Mas quando a ligação caiu pela milionésima vez, sem nem ter sido atendida, largou o iPhone de lado e escondeu o rosto entre as mãos. Quase no mesmo instante, percebeu o celular vibrando.

Amor de Pai - Em Andamento ⏳Onde histórias criam vida. Descubra agora