Todas as cartas que eu não te enviei.

Depender.

nunca vi alguém sentir-se tão parte de mim quanto ele, ao ponto de desejar você em mim ao tempo todo, e só me sentir completa quando eu estava com você.

não só quando você me beijava e abraçava, mas quando eu sentia que você era meu.

eu me lembro de todas as noites que eu passava em claro tentando entender o porquê, tentando entender porquê você agia assim, e o que eu não era que você teve procurar em outra.

minha autoestima e bem estar dependiam totalmente do que você achava de mim e me tratava, no início eram tudo flores, as saídas, os lugares que conhecemos, os presentes, as palavras bonitas que você dizia pra mim, principalmente aquelas que você dizia do meu lado, no meu ouvido me abraçando.

aquilo parecia tão sincero e tão real, os seus "eu te amo" pareciam tão sinceros, os seus abraços e beijos, ou qualquer demonstração de amor, eu achava que você estava sendo verdadeiro.

eu vivia saltando em nuvens, tudo parecia claro e feliz, minha vida estava ótima, eu estava ótima, e eu iria entrar em uma das melhores fases da minha vida, iria me formar na faculdade que eu tanto te disse e que você tanto me incentivou a fazer, você lembra?

eu fazia planos nos nossos aniversários, planejava quando iríamos para Brasília, afinal, você me disse que lá era um dos seus lugares preferidos, e eu te disse que queria vistar minha cidade natal.

agora eu me formei, foi um dia feliz, minha família e amigos estavam lá, mas você não estava. No dia eu não senti, mas quando vi as fotos de formatura, percebi que faltava algo, — ou alguém, e esse alguém era você, você sorrindo e comemorando comigo.

e deixa eu te dizer: eu visitei Brasília e minha cidade natal, até iria chamar minha amiga, mas decidi ir sozinha, decidi que era algo que eu precisava fazer só. E eu estava certa, ficar sozinha me deu muito mais tempo pra pensar, e pra refletir bastante sobre nós, confesso que chorei algumas vezes, porque eu fui pros lugares que você tanto disse que queria conhecer, e o pior: a noite chegava.

e eu ainda não tinha me acostumado a viver sem você, não tinha me acostumado a dormir sem sua mão no meu cabelo, sem seus braços me envolvendo, nossos corpos juntos.

você me ensinou a te amar, e eu só gostaria que você me ensinasse a te esquecer, porque por mais que eu siga vivendo sozinha, que eu adore minha própria companhia, eu só queria você, moreno. Você não me ensinou a te esquecer.

tentar lidar com minha dependência em você parece como se livrar de um vício em substância química, você me viciou na sua boca, no seu corpo, no seu sorriso, no seu abraço, no seu beijo, me viciou na sua companhia e na sua voz cantada horrível.

mas, apesar de estar sentindo tudo isso, moreno, e estar te escrevendo em lágrimas, eu quero dizer que, eu tenho tentado, tenho ido a esses lugares, e estou feliz, que pelo menos, eu lembro de você apenas em momentos específicos. Aqueles momentos raros, mas em consequência, mesmo sendo raros, eu acabo desabando em todos esses momentos.