Rulles

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Marry Easton

Sem perspectiva, sem dinheiro próprio para fugir, me encontro perdida.

Coloco a mão sobre a barriga ainda plana, nenhum sinal da vida que crescia ali estava há vista ainda. Tento pensar em como posso guardar algum dinheiro para fugir, mas tudo o que vejo em meu futuro é miséria; não há escapatória para mim, John conseguiu algo ao ir para a guerra, não terá que assumir a responsabilidade pelo filho que geramos.

Uma vida inteira me foi prometida, agora tudo se foi, virou poeira entre meus dedos, a vida que eu quero, o filho que carrego, tudo me sufoca.

Eu deveria amar essa criança, mas tudo que sinto é um vazio enorme, não só perdi o homem que amo, perdi a vida que planejei, perdi a independência que viria com ela.

Passo meus dias deitada, Tituba disse a minha família que uma febre me acometeu, tenho ficado aqui a definhar, cada dia menos humana, sinto como se eu estivesse me tornando alguém diferente, algo diferente.

Saio do estado catatonico em que me encontro ao ouvir a voz de Tituba na porta, uma pequena fresta de esperança cresce em meu peito. Me apresso em direção a porta, abro a fechadura dando passagem a ela.

Temos que ir esta noite, é a noite perfeita- Ela diz se apressando e pegando meu manto.



Tituba era uma escrava, chegou em minha casa ainda criança, meu pai a comprou para que eu tivesse uma serva junto a mim que fosse de minha mesma idade. Nunca a vi como nada além de uma amiga, mas sei que as línguas de Salém, nunca a viram como nada além de mercadoria.

Em Salém, o conselho de fundadores é a lei, eles decidem em conjunto tudo e qualquer coisa. São elitistas que só almejam mais poder a cada dia, e no topo do conselho há George Sibley, o conselheiro chefe. Toda a Salém, venera o concelho, ter um filho fora do casamento é razão suficiente para ser jogada na rua e renegada por sua família, se não pior.

Eles marcam jovens que " cometem o pecado da luxúria" a ferro, deixando-os presos expostos em berlindas.

Por isso, essa criança não pode nascer sem um pai, por isso, preciso me casar.

As vielas estão estranhamente quietas esta noite, caminhamos de cabeça baixa e rapidamente, não querendo ser vistas. Chegamos a floresta rapidamente, a floresta que cerca Salém é grande e densa, assim como o mar, nosso porto tem barcos que chegam para atracar a cada poucas quinzenas.

O ar parece diferente, acolhedor, quente, é como se algo me chamasse para perto a cada passo que dou, meu corpo se move sozinho em direção a essa sensação.

Chegamos a uma pequena clareira, há uma árvore no centro, seu tronco e raízes grossas, claramente esta árvore existe a muito tempo. Tituba estendeu sua capa no chão, tirei a minha e me abaixei colocando ao da dela.

Deite aqui Mary- Olho em seus olhos, sabendo que aquele era o momento. Minha vida mudaria para sempre ao seguir em frente, aquele era o momento de voltar atrás.


Lentamente me deito de costas com o chão, os olhos no luar acima de mim, a lua brilhava cheia e lindamente, ao lado de milhares de estrelas. Olho para Tituba e lentamente aceno com a cabeça, dando minha permissão para seguir em frente, assinando meu destino.

Ela começa a espalhar óleo em minha testa, descendo até meus lábios, traçando o caminho até minha barriga, o ar parece faltar no meu peito, fica cada vez mais difícil respirar, abro os olhos olhando ao meu redor e grito. Em minha frente se encontra o próprio Senhor das Trevas, meio homem meio bode, uma criatura horrenda, queimada e deformada.

Sinto algo subir por minhas pernas, sinto como se vários insetos estivessem rastejando sobre mim.m

Diga Mary, Diga o que combinamos- Ouço a voz de Tituba como um sussurro, me instruindo para o próximo passo.

Eu aceito o presente, em troca lhe dou o que lhe é devido- o ar muda ao redor.

A floresta fica em silêncio, nenhum som é ouvido além das minhas palavras.

Lhe entrego a alma que precisas meu Senhor- ao terminar de pronunciar a última letra um vento tomou a clareira, levantando todas as folhas ao ar, a seiva negra que saia da árvore e só agora pude notar se enche de chamas, um poder toma conta de mim, me sinto cheia, viva, poderosa.


Fecho e abro os olhos apreciando a sensação, antes eu só sentia o vazio da perda, agora sinto tudo, sinto a terra, o ar. Levanto os olhos ao céu, e ao meu olhar encontrar a lua ainda brilhando majestosamente acima de mim, uma chuva começa a cair sobre nós, e é então que eu recupero meu destino, uma nova vida está esperando por mim, uma vida onde o poder não é do Homem, mas meu. 

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⏰ Última atualização: May 30 ⏰

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