Ja-eun estava animada. Mesmo que não quisesse admitir para si mesma, mas sim, ela estava. E sabia que não deveria estar, não nestas circunstâncias.
Sempre vivera a vida sem olhar para trás, resignada ao fato de que ninguém no mundo a impediria de tomar suas próprias decisões; afinal, era órfã. Se não fosse ela a decidir, quem mais o faria? Cresceu sem os pais, sem irmãos, navegando sozinha pelos desafios de um orfanato impessoal, onde cada criança lutava por atenção e afeto.
Perguntava-se repetidamente se, caso não tivesse tido curiosidade suficiente para procurar, ela teria ido embora sem jamais descobrir que existe alguém lá fora. Alguém que compartilha dos mesmos genes; alguém com quem dividiu o útero; alguém com quem dividiu o berço. Pensar nisso a enchia de uma mistura de alegria e dor. A vida tinha sido uma jornada solitária, e descobrir que havia alguém que poderia ter sido uma parte dela era uma revelação esmagadora.
E nunca ninguém pensara em compartilhar essa informação com ela. Por quê? Será que tentaram protegê-la ou simplesmente um ato de egoísmo desdenhoso?
Conhecendo-os, a segunda opção não é sequer uma possibilidade; é uma certeza.
Agora que sabia, pensava que talvez tivesse sido melhor nunca descobrir, vivendo alheia durante toda a vida. Assim, não sentiria esse sentimento inquietante em seu peito, seu coração pesado, carregado de uma dor desconhecida. Era como se uma parte de si mesma, que nunca soubera que existia, de repente se revelasse e, junto com ela, uma série de emoções conflitantes.
A dor de perder a família.
Mas que dor seria essa, a qual ela nunca sentiu? Não tinha como saber. Nunca sentira o amor genuíno distribuído aos montes, pois sua presença no grande casarão em que vivera sempre fora incômoda para aqueles que lá residiam. Os olhares de reprovação, os sussurros que ela ouvia atrás das portas, a constante sensação de não pertencer — tudo isso formava o tecido de sua infância.
Estava acostumada à rejeição, não à aceitação. Mas agora, a perspectiva de um laço de sangue perdido, uma conexão esquecida, fazia seu coração ansiar por algo que nunca tivera. Esse desejo desconhecido, essa esperança tímida de encontrar um pedaço de si mesma em outra pessoa, trazia uma nova cor à sua vida, uma nova complexidade que ela ainda estava aprendendo a compreender.
Ja-eun, na época, fora impulsiva, pois tinha 17 anos e sua maioridade se aproximava. Ela ia embora e não suportava a ideia de nunca sequer ter posto as mãos em seus documentos. Isso é, se ela ainda os tivesse. Da forma como sempre fora tratada, não seria surpresa se, quando chegasse o dia de ir embora, a diretora dissesse que seus documentos foram acidentalmente queimados na lareira.
Ela se viu refletindo sobre o momento em que descobriu a verdade. Tinha sido um ato impulsivo, uma busca desesperada por respostas que a levou a revirar o escritório da diretora enquanto esta estava ausente. Lá, em meio a fichas e documentos, encontrara uma foto velha e desgastada, onde dois bebês residiam juntos dentro de um berço. Uma menina e um menino. Eram recém-nascidos, e Ja-eun só soubera que aquela era ela por causa da fina tira com seu nome no pulso de bebê. No entanto, o bebê ao seu lado se chamava Jae-hyun, possuindo o mesmo sobrenome.
Sua percepção do que encontrou só se concretizou ao virar a foto e encontrar escrito em letras elegantes:
"Nossos bebês. Jae-hyun e Ja-eun. Eles nasceram saudáveis. Fique bem, com amor, Yeon-su e Jae-hwa."
Aquelas palavras, simples e ternas, rasgaram seu coração. Seus pais, cujos rostos ela nunca conhecera, haviam escrito aquilo. E, de repente, toda a sua existência parecia mais complexa do que nunca. Havia uma vida que ela deveria ter tido, uma vida ao lado de Jae-hyun.
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𝐋𝐀𝐒𝐓 𝐌𝐄𝐌𝐎𝐑𝐘
FanfictionOs gêmeos Yoon Jae-hyun e Yoon Ja-eun foram separados ainda bebês e nunca se conheceram. Jae-eun cresceu em um orfanato, acreditando ser sozinha no mundo e assumindo desde cedo a responsabilidade de cuidar de si mesma, até descobrir, aos 17 anos, qu...