Capítulo 5

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Major

Bati na porta da salinha do barão e entrei. Na hora já sentir o fedor de cigarro, o velho parece uma chaminé, tá toda hora com cigarro na boca.

— Opa, chamou? — peguei a cadeira que tinha no canto e sentei.

— Chamei, achei que já tinha ido pro Vidigal.

— Tava só organizado as vans que vão pra lá com as drogas, quero deixar todas as bocas abastecida antes do baile.

— Já vai ser esse fim de semana?

— Vai, ver se dá uma passada lá com a Patrícia.

— Vou falar com ela. Mas te chamei pra avisar que os caras do comando já sabem que o Vidigal é seu.

— Alguém foi contra?

— Só uns três que reclamou, a maioria não viu problema, mas independente do que eles acham a decisão final é minha. Só queria te avisar que agora tá todo mundo te palmeando, só esperando um vacilo teu. E tu sabe que eu to fechadão contigo, mas eu não abraço vacilo de ninguém.

— To ligado. Mas pode deixar que eu não vou deixar a oportunidade passar, vou fazer meu melhor lá.— falei e ele sorriu de lado.— Qual conselho que tu me dá?

— O principal é se dá bem com os moradores, sacou? Tem que ter um diálogo maneiro entre vocês, tem que entender o lado deles mas também não pode afrouxar muito.

— Vou falar com o líder da comunidade, pra saber o que precisa melhorar.

— Boa, com o tempo tu vai saber como conduzi o morro da melhor forma. Agora pode ir, tenho que ir resolver uns bagulho ai.

Concordei e meti o pé dali, fui terminar de resolver a parada da van.

Já comecei mandar armamento e drogas pra lá, quero deixar tudo pronto antes do baile. Também pedi um carregamento com armas mais pesadas, a intenção deixar o morro todo equipado.

Nas últimas semanas eu to ajeitado tudo pra ir logo pro Vidigal, até arrumei uma casa pra mim lá dentro, já tá com os móveis tudo, só basta eu ir pra lá.

Já mandei fumaça e camarão pra cuidar do morro enquanto eu ainda estou aqui e pra ir organizar o baile de sábado.

Tá fazendo quase um mês da invasão já, e até agora nenhum dos aliados do grego veio bater de frente comigo, tudo bando de cuzão. Pelo menos assim o morro tá em paz e eu to conseguindo ajeitar tudo sem me preocupar com ameaça de invasão.

Peguei minha moto e fui pra oficina onde os moleques estavam preparando as vans. Não queria levantar muita suspeita, então vou colocar a cocaína e a maconha dentro dos bancos, no forro e onde der pra colocar.

— Fala tu, kako.— cumprimentei ele.— já tá tudo pronto?

—  Quase chefe, já colocamos a droga nas duas, só falta o marquinhos terminar de colocar forro de volta.

— Tu acha que conseguem mandar pro Vidigal hoje?

— Dá, até meio dia isso aqui tá pronto, depois dessa hora é só falar o horário que nós leva.

— Então leva de tarde, lá pra umas quatro horas. Se levar de noite e arriscado ta tendo blitz na BR.

— Beleza, e é pra deixar com quem lá?

— Vou avisar o fumaça, ai ele pega com vocês, fechou? — ele concordou e saiu pra ajudar outro cara.

Todo bagulho que envolva carro ou moto a gente manda aqui pro kako e pro marquinhos. Os cara entende dessas paradas, por isso tão sempre fazendo uns favores pra boca. Funciona como uma oficina normal, mas as vezes eles fazem um serviço pra nos.

Sai dali e fui direto pra casa. A única coisa importante que eu tinha que resolver hoje era isso, agora é ir pra casa descansar que mais tarde tem plantão.

Cheguei em casa, tirei o tênis e amassei a quentinha que eu tinha comprado no caminho. E nessas horas que minha coroa faz uma falta do caralho, dona Rosa sempre me esperava com a comida feita e as fofocas que ela tinha ouvido de manhã. E eu ouvia tudo na maior atenção.

Fui criado pela meus avós. Nasci de uma traição do pai, que nunca veio saber de mim e minha mãe teve que sair do morro por causa de ameaça da fiel do meu pai.

Mandando a real, não sinto raiva dela não, mas também não considero minha mãe de verdade porque nunca foi presente na minha criação. Ela me ligava de vez em quando, perguntava como eu tava mas nunca vinha me visitar ou me levar pra onde ela morava. Ainda é viva mas não temos contato.

Meu pai eu sabia quem era, mas ele nunca quis saber de mim e eu também não fui atrás. Quando eu entrei no tráfico ele ainda tava vivo, até trabalhamos junto por tempo, mas foi pra vala dois anos depois em uma operação da UPP.

Minha avó e meu avô me criaram juntos, e mesmo minha coroa falando que eles estavam separados, ele vivia mais na casa dela do que na dele, sempre com a desculpa que vinha aqui pra me ver, no fundo eu sabia que ele vinha mais por ela.

Infelizmente ele infartou e morreu quando eu tinha dezessete anos, foi ai que eu entrei no tráfico. Minha avó morreu oito anos depois por pneumonia, ela ficou um tempo internada mas não aguentou e Deus levou.

Mandei mensagem pro kako pra confirmar a hora e avisei o fumaça que iria chegar droga lá.

Dormi ali no sofá mesmo, tava cansadão que não tinha dormido direito na madrugada de hoje. Quando acordei já era seis da tarde, levantei e fui tomar um banho. Coloquei uma camisa regata, uma bermuda e calcei o tênis e mandei mensagem pro fumaça.

Whatsapp on

Fumaça

Chegou tudo certinho ai?
Chegou, já conferir e abasteci as bocas
Mandou as vans de volta?
Mandei
Tu vai vim pra cá quando?
Acho que sexta eu já tô ai
Já tá tudo certo pro baile?

Até contratamos um DJ daqui ta pra tocar lá.
Ver se manda mais droga pra cá, já tamo vendendo aqui e tlvz falte pro baile
Vou mandar
Beleza // visualizado

Whatsapp off

Dei uma organizada na sala, guardei a arma na cintura, peguei a moto e desci pra barreira. Já era sete meia da noite e meu plantão só acaba seis horas da manhã.

Cheguei cumprimentando os parceiros e parei do lado do Vt, amigo antigo meu, o cara entrou nessa vida junto comigo, era um nada igual eu e hoje em dia e um dos seguranças do Barão, e o que nos mais confiamos.

— Caralho mano, quanto tempo que eu não te vejo.— apertou minha mão.— Fiquei sabendo que vai sair daqui pra comandar o Vidigal.

— E pow, tomamos lá e o Barão me colocou na gerencia. Tu nem tava na invasão né? Tava em missão?

— Tava, matei um cara importante ai e tive que ficar escondido por um tempo até a poeira baixar, mas já tô de volta. Mas fico felizão por tu menor, to ligado que tu é um cara esforçado, mereceu demais.

— Valeu. Já pensou em ir pro Vidigal também? Te coloco pra gerencia uma boca lá.

— Tem que ver se o barão vai permitir eu ir e se minha mulher vai querer ir junto, sem ela eu não deixo o morro.

— Com o barão eu falo, só tu falar com tua mulher e me avisa depois, fechou?— ele sorriu e concordou.

Vt é um cara maneiro, confio nele, tenho certeza que ajudaria demais lá no morro. Vou tentar falar com o barão pra levar ele pra lá.

Fiquei a noite toda trocando ideia com os parceiros que tavam ali, até meu plantão acabar.

Votem e cometem!
Beijos 💋

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