02. Entrega

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A primeira vez que ele encontrou o novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas andando como um espectro pelos corredores de Hogwarts no meio da noite, Severus Snape pediu a Harry Potter - contra seu melhor julgamento - que se sentasse e tomasse uma bebida.

Snape não fez isso por Potter, nem porque tivesse qualquer desejo de passar algum tempo conversando com ele. Ele pensou nisso como um favor a Minerva McGonagall. Ele não foi capaz de oferecer as objeções apropriadas à contratação de Potter por ela; não importa o quanto essa decisão parecesse violar a lógica e a razão, duas coisas que McGonagall geralmente defendia, seu convite ao próprio Snape para voltar a ensinar Poções tinha sido muito mais controverso. Os nomes famosos do Ministério da Magia poderiam ter ficado felizes por Snape e Potter estarem longe de Londres, mas para os alunos e funcionários de Hogwarts, aceitar o retorno do homem que matou Albus Dumbledore era uma poção amarga de engolir.

Um dos professores mais jovens a receber um cargo em Hogwarts, Potter deveria ter considerado seu novo título como um prêmio. No entanto, ele parecia infeliz desde sua chegada e Snape tinha ouvido os alunos fofocando sobre se alguma maldição lenta do Lorde das Trevas o estava consumindo lentamente. Mesmo na penumbra do quarto de Snape na masmorra, Potter parecia pelo menos dez anos mais velho do que realmente era, muito pálido e magro demais. Ele caminhava com a cautela de quem estava ferido e segurava o braço da varinha como se isso lhe doesse.

Entregando-lhe um copo de uísque, Snape afundou na cadeira em frente e estudou o herói do mundo mágico.

— Qual o problema com você? — Ele demandou.

Ele esperava alguma demonstração de desafio, mas não recebeu nenhuma.

— Estou tendo problemas para dormir. — Potter tomou um gole cauteloso de seu copo. — Como você pode ver. E nem sempre consigo conter minhas refeições. Você é o especialista em Poções; eu queria saber se há algum...

— Fale com Pomfrey.

— Sim. Acho que esgotei a lista de remédios dela. — Será que Potter realmente reconheceu Snape como o especialista em Poções? A falta de fúria nos olhos verdes disse a Snape que algo estava realmente errado com Potter, ainda mais do que sua palidez e a maneira estranha como ele se movia. — Presumi que você pudesse saber de algo que talvez ela não soubesse.

— Você está me pedindo para infringir a lei e lhe fornecer um paliativo ilícito? — Snape perguntou curioso. Ele e Potter sabiam que a ética da situação não estava realmente em jogo; Snape preparou poções ilegais para manter Sibila Trelawney sóbria nas reuniões de equipe e para impedir Horace Slughorn de falar durante o sono. — Se você está inquieto, seria melhor preparar camomila, semente de aveia e raiz de valeriana e beber isso em vez do chá da tarde. Eu estava indo até o armário para buscar erva de São João quando você me encontrou, talvez eu poderia...

— Eu já usei camomila, semente de aveia e raiz de valeriana — Harry o interrompeu com um fantasma de sorriso. — Eu tomei todos os remédios conhecidos no St. Mungos. Nenhum deles ajudou. Deve haver algo mais forte.

— Sim, existe, mas você não vai usar uma das minhas poções para entrar em coma, envergonhar esta escola ou se matar. — Snape torceu os lábios para O Menino Que Sobreviveu, que pareceu surpreso por um momento. Por que ele não estava com raiva? — O herói de guerra não está satisfeito em ser o queridinho do mundo mágico? Ou você está deprimido agora que seu rosto não aparece mais em todos os folhetos do Ministério? Convidei você aqui estritamente para descobrir qual era o problema, porque esta escola já passou por turbulências suficientes. Se você acha que vou lhe fornecer sedativos, você calculou mal meu investimento em seu estado emocional.

— Isso não é uma piada, Severus. — Snape franziu a testa. Como a maioria dos funcionários se dirigia uns aos outros pelo primeiro nome, Potter tinha o direito de usar o seu, mas isso não significava que Snape tivesse que tratá-lo como um colega. — Deve haver algo que você possa me dar. — As palavras eram de má vontade, pelo menos; Snape sabia que Potter nunca teria perguntado a ele sobre todas as pessoas se ele não estivesse realmente desesperado. — As pessoas estão começando a notar, eu sei disso. Madame Pomfrey não pode me ajudar. E eu não vou voltar para o St. Mungus. Eles não vão me manter trancado de novo!

Absolution | SnarryOnde histórias criam vida. Descubra agora