— Vai sair outra vez? - ele me pergunta, indo para trás do meu corpo e firmando as mãos em minha cintura. Seu rosto pousou no meu ombro e seu olhar foi de encontro ao nosso reflexo no espelho. Sinto uma dor aguda no peito, uma culpa me definhando. Ele me olhava como soubesse, como se implorasse em silêncio para que desse um fim em tudo e voltasse a consciência.
Martin estava triste como nunca o tinha visto. Sua vida, sua luz, sua alegria que sempre me motivava, já não estava ali. Saber que sou a culpada me mata por dentro. E saber que não conseguia parar só me lembrava que não o mereceria. Ele foi meu primeiro namorado, nos casamos quando completei vinte anos. Ainda estava na faculdade, ele com seus trinta e cinco era dono de uma multinacional, fabricando carros de luxos e nos dando uma vida dos sonhos. Ele era carinhoso, protetor, fiel. Sonhava com filhos, mas o convenci que ainda era cedo e que tínhamos muito tempo. Três anos se passaram, terminei meus estudos, quis experimentar novas experiências. Com sua ajuda consegui ter a loja dos meus sonhos, com os designers mais procurados do mundo das socialites. Tudo estava indo bem. Eu estava feliz.
Mas em um dia, mais precisamente em um almoço na presença do meu esposo, me senti estranhamente vigiada. Quando Martin se ergueu para cumprimentar alguns amigos, virei o rosto e encontrei um homem com o olhar cravado em mim. Sozinho na mesa, apenas com um drinque. Meu coração bateu forte, me senti constrangida e assediada. Eu deveria virar o rosto e ignorar, mas não. Mantive meus olhos nele. E ali começava a história da minha vida.
Íris escutas e penetrantes, negro mas com a pele clara, barba bem feita, boca bem desenhada, e um maldito sorriso cínico, como se desvendasse minhas ações futuras. Um arrepio me tomou, uma sensação estranha que senti apenas no início do meu namoro com Martin. Era tão bonito quanto dissimulado. Me olhava sem medo de ser pego, sabia que estava acompanhada e não se intimidava. Aquilo me ferveu. Logo, um garçom se aproximou dele e o mesmo escreveu em um papel pequeno, o moço trouxe e fiquei horrorizada, era seu número de telefone.
Fiquei chocada com tanta audácia. Senti vergonha e ódio, muito ódio. O que esse homem pensa? Quis levantar e lhe dar uma bofetada, realmente quis isso. Acredito que nunca ninguém me causou tanto mal estar e repulsa. Eu ainda estava na mesa, intimidada por um estranho que parecia se divertir com meu desconforto. O olhei outra vez, e por que fui fazer isso?
Ele era lindo. Olhar sedutor e safado. Queria dizer que não, mas me atraiu. Senti tanta vergonha, nunca em minha vida me interessei por outro além do meu homem. Estava fora de mim sem dúvidas, pois, pedi ao garçom uma caneta e anotei meu número. Fiz isso com o coração a mil e as mãos tremendo. Martin chegou bem na hora e amassei o pequeno papel, o escondendo em minha palma fechada. Não foquei mais no estranho. Meu marido perguntou se eu queria ir embora e assenti, me erguendo e enlaçando o braço no seu. Quando caminhamos, o caminho da saída nos levou até a mesa do cafajeste e joguei o papel em seus pés.
Ele foi rápido. Na mesma tarde me ligou e me encheu com sua voz grave, baixa, perigosa. Era isso que ele era, um perigo ambulante. Me senti baixa, sem escrúpulos, apenas por lhe dar atenção. Insistiu em um encontro. O grande erro foi ceder.